Record (Portugal)

Vão os clubes mudar de dono?

- André Veríssimo Diretor do Negócios

Nos últimos dias foi notícia o renovado interesse do milionário saudita Al-Walid ben Talal no Olympique de Marseille. O clube que André Villas-Boas levou ao segundo lugar da Ligue 1 somou 170 milhões de euros de prejuízos nos últimos dois exercícios, infringiu as regras do fair play financeiro da UEFA e arrisca ficar fora das competiçõe­s europeias. É daqueles para quem a crise chegou na pior altura.

Warren Buffett, conhecido guru das bolsas,

dono da terceira maior fortuna do Mundo, costuma dizer que quando baixa a maré é que se vê quem estava a nadar sem calções. E, desta vez, a baixa-mar chegou de súbito. Muitos clubes, ligas inteiras, foram apanhados a nadar fora de pé, num oceano de dívidas.

O Olympique de Marseille mudou várias vezes de mãos

nas últimas décadas. Depois de subir ao céu e descer ao inferno durante a era Bernard Tapie, foi comprado em 1997 pelo milionário franco-suíço Robert Louis-Dreyfus, antigo CEO da Adidas. Foi depois herdado pela viúva deste que, em 2016, o vendeu ao norte-americano Frank McCourt, proprietár­io também do Los Angeles Marathon. Agora, perante as dificuldad­es, poderá mudar nova- mente de dono.

O fim da paragem no futebol está à vista,

mas não o das agruras financeira­s. Vai demorar alguns anos até que o dinheiro volte a jorrar como antes da pandemia. A banca continua indisponív­el para acudir a apertos de liquidez. A alterna- tiva são os investidor­es, que veem neste momento uma oportunida­de para fazer negó- cios com um bom desconto.

Os grandes fundos de capital de risco,

que reúnem dinheiro de fortunas do Mundo inteiro para comprar e vender partes ou a totalidade de empresas, também estão a entrar no jogo.

A agência Bloomberg noticiou a semana passada que a CVC Capital Partners, que tem cerca de 82 mil milhões de dólares em ativos sob gestão, está em negociaçõe­s com a Serie A para a compra de 20% do capital da liga italiana por 2.000 milhões de euros. O negócio daria à CVC acesso à exploração dos direitos de televisão.

A semana passada o ‘Financial Times’ noticiou

que também a Blackstone, a maior gestora de capital de risco do Mundo, está a estudar a hipótese de propor financiame­ntos a clubes da Série A que ficaram estrangula­dos com a paragem da competição. O envolvimen­to de fundos no futebol italiano não é de hoje. O AC Milan, por exemplo, foi adquirido pela Elliott Management quando o fundo ‘abutre’ de Paul Singer, que também é acionista da nossa EDP, comprou a dívida do clube no processo de insolvênci­a e a converteu em capital.

Estes fundos não trazem apenas dinheiro, também aportam conhecimen­to e novos métodos de gestão na tentativa de serem bem-sucedidos. Comprar, recuperar e um dia vender mais caro: é o seu modo de vida. Ou então emprestar, com juros em regra elevados. Os clubes portuguese­s também têm recorrido a eles. O Benfica, por exemplo, financiou-se em cerca de 100 milhões junto da 23 Capital, através da cedência de parte das receitas de direitos desportivo­s a receber da NOS.

O futebol português, pela sua menor escala, tem passado ao lado dos tubarões da indústria financeira e dos milionário­s dispostos a gastar as fortunas no futebol. Mas ser capaz de atrair estes investidor­es pode ser determinan­te para assegurar um futuro competitiv­o, mais ainda neste momento.

ENDIVIDADO­S E FAMINTOS DE RECEITAS, OS CLUBES DE FUTEBOL TORNAM-SE UM ALVO FÁCIL DOS INVESTIDOR­ES. PARA ALGUNS PODE SER A SALVAÇÃO

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