Pescadinha de rabo na boca
Alexandre Carvalho
Uma das grandes armas dos ditadores é a de fazerem o povo acreditar de que, sem eles, a vida na sua globalidade seria bem pior. No fundo, é o enraizamento da ideia de que a situação é o ‘mal menor’ ou ‘o melhor possível’.
A resistência de alguns clubes à implementação em Portugal da centralização dos direitos televisivos – nomeadamente Benfica, FC Porto e Sporting – só é justificável à luz de uma visão egoísta do modelo de negócio para o futebol: ‘Nós somos melhores (mesmo que em alguns casos, as diferenças não sejam assim tão evidentes...) e, por isso, dividimos o bolo quase todo entre os três. Os outros, esses coitadinhos, ficam com as migalhas.’ Justo? Obviamente que não.
A questão mais premente em todo este intrincado processo prende-se com a ideia de que, para alterar o estado das coisas, os restantes 15 clubes necessitam da ‘bênção’ dos remanescentes três. Em abono da verdade, não precisam. Porque se houver união (estruturalmente real e não apenas convenientemente temporária), o máximo que os três ditos grandes podem fazer é um minitorneio entre eles para decidir quem vence o título.
O problema está nas alianças diretas e indiretas, nos empréstimos com segundas intenções, nos negócios de ocasião. Num futebol que trata os milhões como se de dinheiro para ir buscar pão se tratasse, quanto mais financeiramente fragilizados estiverem os seus oponentes, maior será a sua vulnerabilidade a pressões externas. É a chamada ‘pescadinha de rabo na boca’: Dividir para reinar; empobrecer para enriquecer.