Record (Portugal)

Uma laje em cacos

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Uma pedra laje aparenta ser robusta. As pedras são sempre as partes sólidas de qualquer edifício. Bruno Lage para mim seria uma pedra base da estratégia de Vieira.

Carisma não tinha, mas com um discurso fácil, direto e simpático prontifico­u-se a ajudar. O Benfica falhara a contrataçã­o desesperad­a de Mourinho e tinha corrido com Vitória.

Lage fez um milagre na época passada. Recuperou 7 pontos de atraso, promoveu e vendeu Félix e ganhou o campeonato (que representa só por si um encaixe perto dos 50 M€).

Lage fez ainda mais. Fazia as vontades a Vieira e ao seu empresário predileto, ao colocar as coqueluche­s do Seixal nas montras da Liga Europa. Os resultados foram os que se viram, mas a mais-valia financeira de um Félix, era mais importante que a continuada humilhação do Benfica.

A aliança era perfeita. Vieira encontrara um treinador de sonho para os ‘seus’ negócios. Vender vender vender, era, e é, a palavra de ordem. Vieira embelezava a montra, escolhia as peças, e Lage, aperaltava os manequins.

O jogo de terça-feira ditou um divórcio esperado. Não apenas pelo inacreditá­vel resultado com o Santa Clara, mas por ter sofrido 4 golos daquela equipa.

Se o divórcio ficou consumado após os 90 minutos, o registo notarial foi feito logo de seguida. Lage, em plena conferênci­a de imprensa, disse o que queria e o que não queria.

Queixou-se de juventude a mais na sua equipa, do fantasma permanente de Jesus e ainda acusou os jornalista­s que assistiam a esta memorável conferênci­a, de a troco de uns meros almoços, promoverem alguém para lhe tirar o lugar de treinador.

O distanciam­ento social de Lage ficou logo aí ditado. O síndrome dos vouchers e das ofertas aos árbitros voltava ao de cima. Quando um técnico entra nesta espiral de cabala contra si, é sinal que está ‘morto’ enquanto tal, mesmo que ganhe o campeonato. Não há jornalista que lhe perdoe esta atitude insultuosa.

Lage colocou Vieira em cheque e a instituiçã­o Benfica em maus lençóis. Lage ainda não percebeu que depois de nos últimos 12 jogos só ter conseguido duas vitórias, nunca terá a razão do seu lado.

Lage, que bateu todos os recordes positivos do clube, juntou-lhes os mais negativos de que há memória. Um treinador de extremos nunca será de futuro no Benfica.

Tinha apreço por Lage, pelo seu discurso digno e frontal, mas esta terça-feira revelou-se uma desilusão total. Os 4-0 que o FC Porto de Conceição infligiu ao Boavista nessa mesma noite, desfez Lage em cacos. A pedra partiu e Bruno também.*

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