Uma vitória portuguesa, com certeza
O cenário estava preparado, a bola prestes a rolar e a história perto de acontecer. O primeiro momento de exaltação aconteceu aquando da entrada da seleção portuguesa em campo, com novidades nas cores do equipamento: estreava se a camisola vermelha escura com calções pretos em detrimento da camisola preta e calção branco, o ‘dress code’ nacional dos primeiros jogos. Uma mudança que, segundo Jorge Vieira, “contribuiu para nos alimentar a fé na vitória”. Fosse ou não pelo fim da camisola negra, com a nova cor o futuro imediato não seria negro e ‘a coisa ia deixar de estar preta’ para Portugal. Em jeito premonitório, coube a Portugal dar o pontapé de início da partida. E, 40 minutos depois, festejava o pontapé certeiro de João Francisco Maia, que aproveitou uma saída ‘em falso’ do guarda-redes Combi e, num canto combinado, acariciou a bola para se aninhar junto das redes italianas. Depois, foi ‘só’ sofrer e aplacar a ansiedade dos últimos intermináveis 50 minutos do encontro para, pela primeira vez e com apadrinhamento italiano, Portugal poder saborear a vitória da sua seleção, apreciando o recital e o ‘successo della felicità’! Sob o signo do cinco, ao quinto jogo, a uma quinta-feira e cinco anos após o nascimento de Amália Rodrigues, aconteceu a vitória portuguesa que ficou bem, num tempo em que ‘a alegria da pobreza está nesta riqueza de dar e ficar contente’!
E se, em 1927, a Itália venceria Portugal, em Turim, por 3-1, já em 1928, no Porto, ‘Portogallo’ voltava a dar galo aos transalpinos ao golear por 4-1 – terceira vitória nacional em 14 jogos –, enquanto a imprensa exaltava: “Honra e glória às cores de Portugal”. A festa entre a comitiva continuou à noite, no costumeiro banquete entre dirigentes, selecionados e políticos e, na sexta-feira, a União Portuguesa de Futebol – a atual denominação de Federação surge apenas em 1926 – ainda convidou a congénere italiana para um recital diferente no Teatro Maria… Vitória!
A “equipa de todos nós”, na designação de Ricardo Ornellas, deixava de ser a equipa ‘da derrota de todos nós’! Vitória, vitória, a Seleção Nacional acabava com o pleno de derrotas da história!