Noronha: um erro de ‘casting’
PARA FALAR DE LUCROS E CIFRÕES JÁ BASTA DOMINGOS SOARES DE OLIVEIRA. NORONHA LOPES SERÁ UM BOM CANDIDATO A CEO DO BENFICA, PARA PRESIDENTE É UM ERRO DE ‘CASTING’. UM FRACASSO ANUNCIADO
ç Os muito estimáveis Pedro Adão e Silva, Ricardo Araújo Pereira, Vasco Mendonça, entre outros, poderão manter-se firmes na sua convicção de que o Benfica deve mudar de vida; porém, não sei se hoje dariam tão depressa o apoio a um candidato que não descola na notoriedade nem tem marcado a agenda na oposição a Luís Filipe Vieira.
Noronha Lopes, neófito nestes assuntos, devia ser avisado de que uma campanha eleitoral num clube de futebol é em todo igual a uma campanha política, nas suas técnicas e construção de narrativas. Ora, pressinto que quem trabalha nesta área da comunicação com ele nunca fez uma campanha política na vida e, como tal, tudo soa a amador e fraco, fruto do trabalho de quem não percebe nada disto.
Com tanto para apontar a Vieira, com tanta margem para ocupar espaço mediático, tiro o chapéu a João Gabriel (que gere a campanha do presidente), que tem aproveitado a impreparação da equipa do rei dos hambúrgueres para ir secando o terreno do proclamado principal rival.
Para lá dos problemas judiciais, da cambalhota para trás no projecto Seixal, a operação Cavani foi motivo de chacota e provocou erosão nas expectativas benfiquistas. E como bem referia o Luís Pedro Sousa em editorial, “a fasquia desceu muito. Demasiado”, quando depois surgem nomes como Carlos Fernández, Mariano ou Alario. Cavani, mesmo com 33 anos, traria holofotes e números muito interessantes para o merchandising e venda de camisolas. E de Noronha Lopes apenas titubeantes palavras a que ninguém ligou.
Quem não deve estar a gostar muito desta inflexão estratégica é Jorge Mendes, pois os seus negócios com o Benfica, mais do que trazer jogadores – o último e mais sonante foi Raúl Jiménez e neste mercado não esteve envolvido em nenhuma contratação –, dependem da venda dos jovens emergentes da formação, e se Jorge Jesus não aposta neles, haverá desvalorização dos seus passes. Cenas que terão próximos capítulos e talvez algumas cisões numa relação de muitos anos entre o empresário e o Benfica.
Mas voltemos a Noronha Lopes. Se em vez de ser especialista em Excel conhecesse Ítalo Calvino (é um escritor e não um criador de maioneses ou mostardas, ensino-lhe eu), saberia que “não é a voz que dirige a história, mas sim o ouvido”: O problema é que os benfiquistas ainda só lhe viram lugares-comuns, minudências, não sentiram nem ‘ouviram’ paixão, carisma nem empatia. E estas seriam as três principais armas para derrotar Vieira. Porque para falar de lucros e cifrões já basta Domingos Soares de Oliveira. Noronha Lopes será um bom candidato a CEO do Benfica, para presidente é um erro de ‘casting’, um fracasso anunciado.
O PROBLEMA É QUE OS BENFIQUISTAS AINDA SÓ LHE VIRAM LUGARES-COMUNS, MINUDÊNCIAS
PS: Messi mandou um fax consumado para sair do Barcelona e nem uma palavra disse aos adeptos que o endeusaram. Um homem que esquece tão facilmente quem o apoiou não pode ser um deus. Tem pés de barro. * Texto escrito com a antiga ortografia