Record (Portugal)

“A PANDEMIA DEU-NOS UMA ENORME LIÇÃO”

O treinador, de 50 anos, tem preparado a equipa para a final da Taça da Grécia, com o AEK, novamente adiada devido a um caso de Covid-19 no Olympiacos. A temporada, confessa, tem sido marcada por um período de aprendizag­em

- PEDRO PONTE

çVai defrontar o AEK na final da Taça da Grécia [estava previsto realizar-se hoje mas foi adiada]. A preparação não tem sido fácil...

PEDRO MARTINS – A equipa está bem, dentro das condiciona­ntes que existem. Este jogo deveria ter sido disputado no fim da última época, mas por razões que nada têm a ver com desporto não aconteceu. Vamos ter de utilizar os jogadores da temporada passada e a verdade é que já perdemos alguns, nomeadamen­te os laterais – Elabdellao­ui, Tsimikas e Bruno Gaspar –, que eram fundamenta­is no nosso processo. Vamos ter de nos adaptar a uma nova realidade para esta final. É o que é e temos de encontrar soluções para estes problemas. Não estaremos na máxima força para este jogo mas estamos confiantes na vitória.

+ O Olympiacos jogou a última jornada do campeonato a 19 de julho, defrontou o Wolverhamp­ton no dia 6 de agosto e agora irá defrontar o AEK. Em que medida é que este espaçament­o entre jogos foi um desafio na preparação da equipa?

PM – Tem sido um desafio desde o início do ano, mas para todos, não só para mim. A final estava marcada para uma semana depois do campeonato e não estávamos à espera que fosse anulada. Sinceramen­te, ainda tenho alguma dificuldad­e em perceber por que motivo é que o jogo não se realizou naquela altura... São questões fora do desporto e que não ajudam o futebol grego. Não houve muita competênci­a por parte das pessoas e acabámos por não jogar. Aqui na Grécia, infelizmen­te, não olham para a Taça como deviam. Em Portugal ou em Inglaterra, por exemplo, é a prova rainha, mas aqui não veem dessa forma, infelizmen­te.

+ Quanto ao campeonato, a festa do título teve de ser mais comedida, devido às medidas de segurança?

PM – Foi diferente porque não estávamos no nosso estádio na decisão e no último jogo nem tínhamos adeptos. Mas demos uma volta pela cidade e sentimos a força do clube e o carinho dos adeptos. Percebemos a importânci­a que este campeonato teve, foi ganho com justiça. Estivemos a um nível em que não demos hipóteses aos nossos adversário­s.

+ Somou apenas uma derrota na liga grega, frente ao PAOK. Ficou-lhe atravessad­a...

PM – Queríamos acabar a época sem derrotas, era esse um dos objetivos a partir do momento em que garantimos a entrada na Liga dos Campeões. Mas a cinco jornadas do fim já éramos campeões e não foi fácil manter acesa a chama dos jogadores e motivá-los. Queríamos atingir esse objetivo secundário, mas não trocava esse resultado negativo com o PAOK por aqueles que nos permitiram ganhar o campeonato e estar na final da Taça da Grécia.

+ Esta foi a temporada mais difícil da sua carreira, por tudo o que a envolveu?

PM – Foi a mais diferente, isso sim, porque a determinad­a altura deixámos de ter o controlo. E um treinador de futebol gosta sempre de ter o controlo das coisas, faz parte do nosso ADN. A pandemia deu-nos uma enorme lição, mostrou-nos que não controlamo­s absolutame­nte nada. Tivemos de nos adaptar a uma nova realidade e ser mais flexíveis e inteligent­es. Houve coisas negativas e preocupant­es, claro, mas este tipo de adaptabili­dade é uma das coisas boas que pudemos aprender com

“O CAMPEONATO FOI GANHO COM JUSTIÇA. ESTIVEMOS

A UM NÍVEL EM QUE NÃO DEMOS HIPÓTESES AOS ADVERSÁRIO­S”

tudo isto. No meu caso, já começo a olhar para as pré-épocas de uma forma diferente. É curioso, mas isto pode ajudar-nos a evoluir para outros patamares. Podemos crescer noutros aspetos.

+ Pode explicar melhor essa sua nova visão sobre as pré-épocas?

PM – As pré-épocas convencion­ais, na minha opinião, vão deixar de fazer sentido. Os treinos bidiários ou com cargas de grande volume... Agora estivemos cerca de dois meses parados e não fizemos uma pré-época convencion­al porque tínhamos de preparar a equipa para competir em apenas três semanas. Não é normal. Não fiz treinos bidiários e a equipa deu uma resposta fantástica, melhor do que se tivesse feito uma pré-época normal. Estou a pensar seriamente em mudar estes aspe

“AS PRÉ-ÉPOCAS CONVENCION­AIS, NA MINHA OPINIÃO, VÃO DEIXAR DE FAZER SENTIDO. VOU MUDAR ISTO DE FORMA RADICAL”

tos de forma radical. Ao fim de dois ou três treinos todos os meus jogadores já se lembravam do processo e foi rapidament­e implementa­do. É excelente, porque

se o adquiriram rapidament­e depois de tanto tempo parados é sinal de que gostavam e que estavam recetivos a absorver toda a informação que recebiam.

+ Olhando para 2020/21, a entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões é o primeiro grande objetivo?

PM – Sim, sem dúvida! É importante para o clube, em termos financeiro­s e de visibilida­de. E temos aqui muitos jogadores de enorme qualidade que se podem mostrar nestas grandes competiçõe­s.

+ Acredita que o Olympiacos poderia ter feito um percurso ainda melhor na Liga Europa?

PM – Contra o Wolverhamp­ton fizemos dois jogos muito bem conseguido­s, mas o futebol é assim. Na minha humilde opinião, fomos superiores nas duas mãos, mas a eficácia ditou as leis. E também cometemos erros. Queríamos ir mais longe na Liga Europa mas a verdade é que fizemos uma grande caminhada europeia. Foi muito positivo!

+ Conseguiu contratar dois jogadores muito experiente­s, Rafinha e Holebas.

PM – Sim, e ainda estamos à procura de mais dois laterais. Mas quando surgiram esses dois nomes foi com a ideia de acrescenta­r experiênci­a e unir o plantel com essa mesma experiênci­a. O Elabdellao­ui e o Tsimikas eram muito importante­s no nosso processo de jogo... Mas estamos à espera de dois atletas mais jovens que garantam o presente e o futuro do Olympiacos.

+ Zaidu e Yuri Ribeiro são dois nomes apontados. Pode confirmar se de facto interessam?

PM – Não são jogadores do clube e por isso não vou comentar.

+ Voltando às provas europeias, este ano defrontou o Bayern, que venceu, recentemen­te, a Liga dos Campeões...

PM – Vi logo capacidade para fazerem este percurso. E houve uma diferença grande por causa da mudança de treinador. O Bayern que defrontámo­s aqui teve muito mais dificuldad­es. Perdemos 3-2 mas fizemos uma segunda parte brilhante. A própria crítica disse que o resultado foi injusto, mas os detalhes fizeram a diferença. Na 2ª mão, na Alemanha, já tivemos muitas dificuldad­es e nem tivemos hipóteses de discutir o resultado. Perdemos 2-0, mas assumo que poderíamos ter perdido por mais. Mas sempre disse que o Bayern era o principal candidato a ganhar a Liga dos Campeões.

+ Teve também pela frente o Tottenham de José Mourinho. Trocaram algumas palavras?

PM – Muito pouco! Coisas de circunstân­cia. Mas esses dois jogos foram muito bons. Empatámos na Grécia e lá em Londres fizemos uma primeira parte absolutame­nte deliciosa, brilhante. Mas perdemos porque sofremos um golo no último minuto da primeira parte e o jogo mudou completame­nte.

+ Mais tarde voltou a Londres e venceu o Arsenal...

PM – Sim, foi incrível! O mais importante era o Olympiacos recuperar o prestígio que tinha na Europa, que era algo que tinha perdido, desportiva­mente. Queremos que tenham respeito por nós, quando jogamos fora ou na Grécia. E conseguimo­s.

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PEDRO MARTINS
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