Record (Portugal)

A pedra basilar no sucesso bávaro

Por detrás de um grande Bayern, uma grande obreira. Team manager esteve nos festejos dos últimos dez anos

- JOSÉ É ANGÉLICOÉ * * COM RITA PEDROSO

çO soberano Bayern Munique tem como lema o histórico da Baviera ‘Mia san Mia’, ou ‘Nós somos nós’. Mas eles não seriam eles sem a sua pedra basilar. “É ela quem mantém a equipa unida, não importa que problemas possamos encontrar”. Estas são palavras do experiente Thomas Müller. E ela é Kathleen Krüger. Cabelos dourados, umas vezes soltos, outras amarrados atrás da nuca mas sempre condizente­s com o seu valor na equipa, postura discreta e quase invariavel­mente com um ar de quem quer escapar aos olhares das câmaras. É possível ver Kathleen a receber o primeiro aperto de mão dos jogadores substituíd­os ou até a mostrar a placa que dá indicações de quem sai e quem entra, justamente. Mas esses são só alguns dos afazeres de quando está junto do relvado. Ela planeia a rotina dos jogadores, formula as dietas, organiza viagens, estabelece o contacto oficial com a imprensa. Ela é uma confidente e a única externa que merece estar num grupo de WhatsApp onde só entram os jogadores do plantel principal. “Por vezes, antes dos treinos, ficamos à conversa sobre assuntos particular­es. Estou sempre disponível para ouvir todos os jogadores”, conta. O mesmo é dizer que Kathleen é uma team manager de pulso firme à disposição 24 horas por dia para as suas tropas. É, então, mais ou menos assim: carrega nos ombros várias das funções fundamenta­is para que quem tem a missão de obter resultados dentro de campo, apenas e só se preocupe em fazê-lo. “Somos muito privilegia­dos por tê-la connosco, porque sem ela, provavelme­nte, metade dos jogadores iriam perder-se”, confessou em 2017 o lendário Frank Ribéry. Mas, refira-se, ela está sempre disponível, acompanhad­a da sua rédea curta. Que o diga Hansi Flick, o atual treinador.

Quando foi questionad­o por um jornalista sobre de que forma iria celebrar a conquista da Bundesliga deste ano, foi cauteloso: “Vamos ver o que a Kathleen nos deixa e não deixa fazer.”

Bem se percebe àquilo a que se refere o técnico alemão. Em Lisboa, após a grande final da última edição da Liga dos Campeões, que a equipa germânica venceu por 1-0 diante do PSG, os jogadores e corpo técnico festejavam e lá estava ela – uma vez mais – a colocar ordem, mesmo que também tenha sido uma vitória sua, porque, como já disse Flick, “ela também entra na convocatór­ia”. Numa convocatór­ia vitoriosa que este ano já celebrava pela terceira vez, consideran­do que nas competiçõe­s domésticas já tinha arrecadado a Bundesliga e a Taça da Alemanha. Em Portugal consumou-se a desejada Tríplice Coroa, que se traduz em ganhar os três troféus que o clube da Baviera disputou, e o que treinador e team manager pediram que se fizesse, fez-se. Os jogadores regressara­m de uma paragem devido à pandemia a todo o gás e certamente haverá

“ELA MANTÉM A EQUIPA UNIDA, NÃO IMPORTA QUE PROBLEMAS POSSAMOS ENCONTRAR”, SUBLINHOU THOMAS MÜLLER

gente a pedir a receita: o segredo para um Alphonso Davies e um Philippe Coutinho com um aumento de volume de massa muscular a olhos vistos; um Leon Goretzka que chegou a Munique em 2018 franzino e que entretanto parece ter passado pelo mesmo processo do Capitão América, atendendo à sua atual robustez física; e um Robert Lewandowsk­i que,

HANSI FLICK DEIXOU AVISO SOBRE FESTEJOS DA CHAMPIONS: “VAMOS VER O QUE KATHLEEN NOS DEIXA E NÃO DEIXA FAZER”

como se não bastasse ser considerad­o um dos melhores avançados de todos os tempos, fez aos 32 anos a sua melhor temporada de sempre. A condição física, fruto de um plano restrito de treinos durante e depois do tempo sem competiçõe­s, terá sido uma das chaves para desbloquea­r o cofre do ‘triplete’ , pese embora este já conhecesse o emblema alemão daquela semelhante vitoriosa temporada de 2012/13, onde, adivi

nhe-se, estava Kathleen, sempre como fiel braço-direito.

Guardiola quis levá-la

Aos 35 anos e quase metade de futebol, o trabalho da alemã é cobiçado por muitos e não foi por acaso que o seu conhecido Pep Guardiola tenha tentado ‘roubar’ a antiga companheir­a para o Manchester City, embora sem sucesso. O treinador espanhol conhece-a bem dos tempos gloriosos que desenhou em Munique (2013/14-2015/16) porque ela também lá estava. Foi uma aliança que resultou numa Supertaça Europeia, duas Taças da Alemanha e uma Supertaça germânica a somar ao palmarés dourado dos bávaros, que exibe 77 títulos desde a sua fundação em 1900.

De 2010 para cá, primeiro como assistente e depois como team manager, os adeptos do devastador Bayern só se terão posto de joelhos para agradecer os 24 títulos. De Jupp Heynches a Hansi Flick: lá estava a ‘chefe’ Kathleen e a sua conduta imprescind­ível. São os números, e os anos, que o atestam.

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 ??  ?? FESTA. Em 2014, com Boateng, após vencer a Bundesliga
FESTA. Em 2014, com Boateng, após vencer a Bundesliga
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EXIGÊNCIA. Esta época, com o treinador Hansi Flick
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