A pedra basilar no sucesso bávaro
Por detrás de um grande Bayern, uma grande obreira. Team manager esteve nos festejos dos últimos dez anos
çO soberano Bayern Munique tem como lema o histórico da Baviera ‘Mia san Mia’, ou ‘Nós somos nós’. Mas eles não seriam eles sem a sua pedra basilar. “É ela quem mantém a equipa unida, não importa que problemas possamos encontrar”. Estas são palavras do experiente Thomas Müller. E ela é Kathleen Krüger. Cabelos dourados, umas vezes soltos, outras amarrados atrás da nuca mas sempre condizentes com o seu valor na equipa, postura discreta e quase invariavelmente com um ar de quem quer escapar aos olhares das câmaras. É possível ver Kathleen a receber o primeiro aperto de mão dos jogadores substituídos ou até a mostrar a placa que dá indicações de quem sai e quem entra, justamente. Mas esses são só alguns dos afazeres de quando está junto do relvado. Ela planeia a rotina dos jogadores, formula as dietas, organiza viagens, estabelece o contacto oficial com a imprensa. Ela é uma confidente e a única externa que merece estar num grupo de WhatsApp onde só entram os jogadores do plantel principal. “Por vezes, antes dos treinos, ficamos à conversa sobre assuntos particulares. Estou sempre disponível para ouvir todos os jogadores”, conta. O mesmo é dizer que Kathleen é uma team manager de pulso firme à disposição 24 horas por dia para as suas tropas. É, então, mais ou menos assim: carrega nos ombros várias das funções fundamentais para que quem tem a missão de obter resultados dentro de campo, apenas e só se preocupe em fazê-lo. “Somos muito privilegiados por tê-la connosco, porque sem ela, provavelmente, metade dos jogadores iriam perder-se”, confessou em 2017 o lendário Frank Ribéry. Mas, refira-se, ela está sempre disponível, acompanhada da sua rédea curta. Que o diga Hansi Flick, o atual treinador.
Quando foi questionado por um jornalista sobre de que forma iria celebrar a conquista da Bundesliga deste ano, foi cauteloso: “Vamos ver o que a Kathleen nos deixa e não deixa fazer.”
Bem se percebe àquilo a que se refere o técnico alemão. Em Lisboa, após a grande final da última edição da Liga dos Campeões, que a equipa germânica venceu por 1-0 diante do PSG, os jogadores e corpo técnico festejavam e lá estava ela – uma vez mais – a colocar ordem, mesmo que também tenha sido uma vitória sua, porque, como já disse Flick, “ela também entra na convocatória”. Numa convocatória vitoriosa que este ano já celebrava pela terceira vez, considerando que nas competições domésticas já tinha arrecadado a Bundesliga e a Taça da Alemanha. Em Portugal consumou-se a desejada Tríplice Coroa, que se traduz em ganhar os três troféus que o clube da Baviera disputou, e o que treinador e team manager pediram que se fizesse, fez-se. Os jogadores regressaram de uma paragem devido à pandemia a todo o gás e certamente haverá
“ELA MANTÉM A EQUIPA UNIDA, NÃO IMPORTA QUE PROBLEMAS POSSAMOS ENCONTRAR”, SUBLINHOU THOMAS MÜLLER
gente a pedir a receita: o segredo para um Alphonso Davies e um Philippe Coutinho com um aumento de volume de massa muscular a olhos vistos; um Leon Goretzka que chegou a Munique em 2018 franzino e que entretanto parece ter passado pelo mesmo processo do Capitão América, atendendo à sua atual robustez física; e um Robert Lewandowski que,
HANSI FLICK DEIXOU AVISO SOBRE FESTEJOS DA CHAMPIONS: “VAMOS VER O QUE KATHLEEN NOS DEIXA E NÃO DEIXA FAZER”
como se não bastasse ser considerado um dos melhores avançados de todos os tempos, fez aos 32 anos a sua melhor temporada de sempre. A condição física, fruto de um plano restrito de treinos durante e depois do tempo sem competições, terá sido uma das chaves para desbloquear o cofre do ‘triplete’ , pese embora este já conhecesse o emblema alemão daquela semelhante vitoriosa temporada de 2012/13, onde, adivi
nhe-se, estava Kathleen, sempre como fiel braço-direito.
Guardiola quis levá-la
Aos 35 anos e quase metade de futebol, o trabalho da alemã é cobiçado por muitos e não foi por acaso que o seu conhecido Pep Guardiola tenha tentado ‘roubar’ a antiga companheira para o Manchester City, embora sem sucesso. O treinador espanhol conhece-a bem dos tempos gloriosos que desenhou em Munique (2013/14-2015/16) porque ela também lá estava. Foi uma aliança que resultou numa Supertaça Europeia, duas Taças da Alemanha e uma Supertaça germânica a somar ao palmarés dourado dos bávaros, que exibe 77 títulos desde a sua fundação em 1900.
De 2010 para cá, primeiro como assistente e depois como team manager, os adeptos do devastador Bayern só se terão posto de joelhos para agradecer os 24 títulos. De Jupp Heynches a Hansi Flick: lá estava a ‘chefe’ Kathleen e a sua conduta imprescindível. São os números, e os anos, que o atestam.