Record (Portugal)

Nada ada como antes

Em plena pandemia, edição de 2020 é jogada sem público e com os jogadores fechados numa bolha em Nova Iorque

- JOSÉ MORGADO

Chegou a parecer uma loucura, mas vai mesmo acontecer: o US Open 2020 arranca amanhã, em Nova Iorque, numa das cidades do Mundo mais afetadas pela pandemia do novo coronavíru­s que parou o Mundo, com o desporto e, claro, o ténis a não ficarem imunes. Depois da realização do Open da Austrália, em janeiro, do adiamento de Roland Garros – que passou de maio/junho para setembro/outubro – e do cancelamen­to de Wimbledon, que só volta em 2021, a federação norte-americana (USTA) conseguiu operar uma espécie de milagre, levando até Nova Iorque muitos dos melhores do Mundo.

Mas nada é como antes: habituado a receber cerca de 100 mil pessoas por dia nos últimos anos, o US Open não terá público em 2020. Também não houve fase de qualificaç­ão, para reduzir o número de jogadores presentes na prova, e os juízes de linha são substituíd­os... pelas máquinas, com os courts a serem arbitrados por um sistema de olho de falcão em direto, que emite sons previament­e gravados cada vez que a bola bate fora...

Aqui também há bolha

Tal como na NBA, em Orlando, o US Open também tem... uma bolha, com todos os jogadores e membros de equipas técnicas e staff a ficarem alojados nos mesmos dois hotéis de Long Island (ou em casas aprovadas e controlada­s pela USTA), longe da loucura de Manhattan, onde habitualme­nte optam por ficar. Cada tenista só pôde levar um máximo de três acompanhan­tes e para os courts, ginásios e restaurant­es dos jogadores só pode mesmo entrar uma pessoa para além do tenista.

No Arthur Ashe Stadium, o maior court de ténis do Mundo, as suítes VIP, habitualme­nte preenchida­s por empresas e figuras públicas, foram oferecidas aos cabeças de série, que assim poderão ter um zona mais reservada, evitando ao máximo o contacto social com outros colegas de profissão.

Outra das novas realidades do ténis mundial são os testes à Covid-19: para serem autorizado­s a sair do quarto, os jogadores tiveram de testar uma vez negativo à doença. Para serem admitidos ao torneio... dois testes. Quem ficar infetado é automatica­mente excluído da competição e se algum membro da equipa técnica testar positivo... esse jogador também sai de cena em Nova Iorque.

O fator medo e não só

Sem surpresas, a edição deste ano do US Open é a mais desfalcada das últimas décadas num torneio do Grand Slam. E as principais razões são duas: o medo do vírus, com alguns jogadores a acharem muito pouco seguro atravessar oceanos desde a Europa ou mesmo da Austrália; e o facto de não se defenderem pontos – o ATP e WTA entenderam não retirar pontos aos tenistas até ao final de 2020, pelo que, por exemplo, Rafael Nadal, campeão em 2019 (ganhou aí 2.000 pontos), só terá de defender esses pontos em 2021. Cada jogador só poderá somar pontos para os seus rankings até ao final deste ano se chegarem mais longe em 2020 do que fizeram em 2019 nessa respetiva semana. Mas se fizerem pior, mantêm os pontos da sua melhor prestação. Por essas razões, mais de um quarto do top 100 feminino optou por não jogar o torneio e, no sector masculino, será a primeira vez desde o US Open de 1999 que Rafael Nadal e Roger Federer estarão ausentes de um torneio de Grand Slam ao mesmo tempo.

Muita coisa em jogo

Apesar das importante­s ausências e da enorme lista de condiciona­ntes, a verdade é que este Grand Slam vai valer tanto como qualquer outro e há muita coisa em jogo em Nova Iorque nas duas próximas semanas. Serena Williams, que está prestes a cumprir 39 anos, vai à procura (outra vez) de igualar o recorde de 24 Grand Slams da australian­a Margaret Court, num elenco em

ESTE ANO NÃO HAVERÁ PÚBLICO NAS BANCADAS DE UMA PROVA QUE COSTUMA RECEBER

100 MIL PESSOAS POR DIA SERENA WILLIAMS, QUASE A CUMPRIR 39 ANOS, PROCURA IGUALAR O RECORDE DE 24 GRAND SLAMS CONQUISTAD­OS

que será naturalmen­te uma das principais favoritas ao título. Em 2018 (com Naomi Osaka) e 2019 (frente a Bianca Andreescu) perdeu na final da competição. Serena Williams valoriza o esforço de o torneio se realizar neste ano especial: “Há uns meses nunca pensei que isto fosse acontecer, mas quando me foi explicado o esforço que a USTA estava a fazer para organizá-lo esteve sempre nos meus planos. É uma oportunida­de como qualquer outra.” Já Novak Djokovic, com 17 títulos de Grand Slam, pode aproximar-se dos 20 Majors de Federer e dos 19 de Nadal, que não estão na Big Apple. O sérvio garante, no entanto, que este US Open não vale menos do que os anteriores: “Não estou de acordo quando dizem que este torneio terá menos valor pela ausência destes dois jogadores [Nadal e Federer]. Claro que vamos sentir a falta deles aqui porque eles são duas grandes lendas do ténis, mas os outros jogadores também cá estão. Tsitsipas, Zverev, Thiem…São tão grandes como nós. Qualquer um deles pode vencer o título.”

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