Quem quer uma revolução?
ç Não são precisos muitos jogos para se ver o toque de Jesus nas equipas. Ao terceiro jogo, os sinais de mudança já lá estão: pressão intensa com critério e mobilidade atacante, com indícios do regresso do saudoso carrossel que fazia surgir sempre muitos jogadores na frente. Depois, já se sabe, as equipas de Jesus são particularmente competentes na organização defensiva, pelo que aí também as melhorias estão garantidas. Claro que faz diferença ter acrescentado três internacionais ao plantel – com Everton, Vertonghen e Waldschmidt, o talento individual reforça a capacidade coletiva. Não tenhamos dúvidas, bastava este trio ter chegado há um ano para neste momento estarmos a celebrar mais um campeonato.
Aliás, esta é mesmo, de novo, a questão. Tal como na temporada passada, ou mesmo na fantasmagórica época em que abdicámos de conquistar o penta, o que o Benfica precisa não é de uma revolução no plantel – como se anuncia –, mas, sim, de contratações cirúrgicas. A questão é séria, pois remete para um problema estrutural da política de contratações, com implicações desportivas e financeiras.
Vale a pena atentar nos números. Nas últimas cinco temporadas – em que só por uma vez alcançámos os quartos-de-final da Champions – contratámos 69 jogadores, dos quais 60% nunca foram titulares e apenas 14% foram titulares em mais de 20 jogos da Liga. Se olharmos para as últimas três épocas, a percentagem manteve-se estável e só quatro jogadores cumpriram aquele critério: Varela, Vlachodimos, Seferovic e Gabriel.
Se compararmos estes números com clubes do nosso campeonato do ponto de vista financeiro e com os quais perdemos na Europa (por exemplo, o Ajax, o Sevilha, ou até o Lyon e o RB Leipzig), percebemos rapidamente duas coisas: por um lado, com exceção do Sevilha, estes clubes contrataram cerca de metade do número de jogadores do Benfica; por outro, entre 35 e 45% dos jogadores contratados foram titulares regulares. A explicação não está na capacidade de investimento, pois o Ajax, por exemplo, investiu 196 milhões de euros nos últimos cinco anos, que comparam com os 191 milhões do Benfica (com a diferença de que 45% desse investimento foi feito em titulares).
Acenarem-nos, agora, com nova revolução no plantel é preocupante. Trata-se de uma ameaça ao equilíbrio financeiro do clube, ainda para mais num contexto de profunda incerteza económica (mas já se percebeu o receio de Luís Filipe Vieira perder eleições), ao mesmo tempo que se traduz num reconhecimento do empobrecimento do plantel nos últimos anos e um abandono radical da aposta na formação. Acima de tudo, reforça o padrão de ausência de critério nas contratações que tem marcado a direção de Luís Filipe Vieira.
O Benfica tem de aprender a contratar pouco e bem e não em quantidade e muitas das vezes por motivos pouco claros.