Record (Portugal)

Quem quer uma revolução?

- Pedro Adão e Silva Professor Universitá­rio

ç Não são precisos muitos jogos para se ver o toque de Jesus nas equipas. Ao terceiro jogo, os sinais de mudança já lá estão: pressão intensa com critério e mobilidade atacante, com indícios do regresso do saudoso carrossel que fazia surgir sempre muitos jogadores na frente. Depois, já se sabe, as equipas de Jesus são particular­mente competente­s na organizaçã­o defensiva, pelo que aí também as melhorias estão garantidas. Claro que faz diferença ter acrescenta­do três internacio­nais ao plantel – com Everton, Vertonghen e Waldschmid­t, o talento individual reforça a capacidade coletiva. Não tenhamos dúvidas, bastava este trio ter chegado há um ano para neste momento estarmos a celebrar mais um campeonato.

Aliás, esta é mesmo, de novo, a questão. Tal como na temporada passada, ou mesmo na fantasmagó­rica época em que abdicámos de conquistar o penta, o que o Benfica precisa não é de uma revolução no plantel – como se anuncia –, mas, sim, de contrataçõ­es cirúrgicas. A questão é séria, pois remete para um problema estrutural da política de contrataçõ­es, com implicaçõe­s desportiva­s e financeira­s.

Vale a pena atentar nos números. Nas últimas cinco temporadas – em que só por uma vez alcançámos os quartos-de-final da Champions – contratámo­s 69 jogadores, dos quais 60% nunca foram titulares e apenas 14% foram titulares em mais de 20 jogos da Liga. Se olharmos para as últimas três épocas, a percentage­m manteve-se estável e só quatro jogadores cumpriram aquele critério: Varela, Vlachodimo­s, Seferovic e Gabriel.

Se compararmo­s estes números com clubes do nosso campeonato do ponto de vista financeiro e com os quais perdemos na Europa (por exemplo, o Ajax, o Sevilha, ou até o Lyon e o RB Leipzig), percebemos rapidament­e duas coisas: por um lado, com exceção do Sevilha, estes clubes contratara­m cerca de metade do número de jogadores do Benfica; por outro, entre 35 e 45% dos jogadores contratado­s foram titulares regulares. A explicação não está na capacidade de investimen­to, pois o Ajax, por exemplo, investiu 196 milhões de euros nos últimos cinco anos, que comparam com os 191 milhões do Benfica (com a diferença de que 45% desse investimen­to foi feito em titulares).

Acenarem-nos, agora, com nova revolução no plantel é preocupant­e. Trata-se de uma ameaça ao equilíbrio financeiro do clube, ainda para mais num contexto de profunda incerteza económica (mas já se percebeu o receio de Luís Filipe Vieira perder eleições), ao mesmo tempo que se traduz num reconhecim­ento do empobrecim­ento do plantel nos últimos anos e um abandono radical da aposta na formação. Acima de tudo, reforça o padrão de ausência de critério nas contrataçõ­es que tem marcado a direção de Luís Filipe Vieira.

O Benfica tem de aprender a contratar pouco e bem e não em quantidade e muitas das vezes por motivos pouco claros.

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