Estrangulamentos no Benfica
O FUTEBOL DA EQUIPA GIRA EM TORNO DE PIZZI, E NÃO PODE GIRAR. É CONFORTÁVEL PARA ESTE EXCELENTE JOGADOR QUE AS COISAS SE PASSEM ASSIM, MAS PIZZI TRANSFORMA-SE NUM IMENSO EUCALIPTO
ç Caro leitor, hoje proponho um exercício de ficção: o que terá dito Vinícius a Pizzi, depois do primeiro golo de ontem frente ao Sp. Braga? Pode ter dito: ‘Já podias ter passado a bola mais cedo’. Ou então: ‘Vês que se me deres a bola os golos entram’. Ou, ainda mais simples: ‘Quando chegas ali mete a bola, porra!’
Também podemos ir para versões de vassalagem, tipo: ‘Cê já tinha dito para me colocar no pedaço, que a bola ia chegar.’ Ou até: ‘Depois do Messi está logo você, enorme Pizzi.’
Depois desta provocação ficcionada, vamos ao que é facto: o futebol do Benfica continua em vários momentos prolongados com os estrangulamentos que o perderam na época passada e há duas épocas, nos estertores de Lage e Vitória. Estes sintomas persistentes mostram que o problema não está nos treinadores. Ou melhor, não está só nos treinadores.
Não é crível que Jesus deixe prolongar muito este estado de coisas. Estamos a falar de quê? De jogadores que se dão ao jogo sempre em situações favoráveis, que trocam a bola com parceiros preferenciais, que fazem sempre a mesma série de movimentos.
À cabeça de todos está Pizzi. Depois, por atração, Rafa, que procura sempre Pizzi para o passe, ou tabela, ou finalização. Por arrasto, está André Almeida e até o médio Weigl – que continua condenado ao cárcere ditado pelas barras feitas entre os centrais e os médios que atacam.
O futebol do Benfica gira em torno de Pizzi, e não pode girar. É confortável para este excelente jogador que as coisas se passem assim, mas Pizzi transforma-se num imenso eucalipto, que torna penoso o crescimento da equipa e de craques como Everton. Com este modelo, nenhum génio poderá explodir. Everton, que é um extraordinário futebolista, tem de explodir.
Não logro ler o que sai dos lábios de Vinicius. Mas, se tivesse de especular, diria que o brasileiro usou um momento de sucesso para apontar defeitos na forma como tem sido servido. Ele e todos os outros pontas-de-lança do Benfica. Jesus tem de afinar este estrangulamento que torna o Benfica previsível, facilmente anulável. O tempo urge!
Nos jogos do Sporting fica óbvio que as notícias sobre a morte da qualidade na Academia de Alcochete eram manifestamente exageradas. Há uma série de miúdos com talento suficiente para se baterem por um lugar no plantel principal.
Dois, batem mesmo à porta do onze ideal de Rúben Amorim:
Nuno Mendes e Tiago Tomás. Eles batem à porta com classe e simplicidade. Cabe ao treinador ouvir o som do sucesso e do dinheiro a cair em cascata de milhões.
COM ESTE MODELO, NENHUM GÉNIO PODERÁ EXPLODIR. E EVERTON TEM DE EXPLODIR