Record (Portugal)

VALEM OURO

PORTUGAL DESFAZ VICE-CAMPEÃO DO MUNDO... MESMO SEM RONALDO

- CRÓNICA DE DAVID NOVO

ç O jogo entre Portugal e Croácia já tinha ingredient­es para ser interessan­te ainda antes de começar: o campeão europeu e vencedor da Liga das Nações em título contra o vice-campeão mundial. O estatuto não é tudo, mas tem algum peso. Depois, a ausência de Cristiano Ronaldo, previsível com o aproximar da partida e confirmada na manhã de ontem, deve ter levado alguns a pensar que Portugal sentiria mais dificuldad­es – a Croácia também lamentava as baixas de Modric e Rakitic. É uma conclusão óbvia que a Seleção Nacional é melhor com CR7; a exibição e o resultado com os croatas mostraram, uma vez mais, que também é boa sem ele.

Com o máximo goleador na bancada – vamos ter de esperar mais um pouco para ver Cristiano Ronaldo a atingir o golo 100 – Portugal criou perigo com facilidade. E quantidade. Foram 27 remates, metade dentro da grande área. Por exemplo, na 1ª parte, num só lance, Pepe rematou duas vezes seguidas e Livakovic defendeu ambas. Aliás, foi o guarda-redes que Iker Casillas elogiou nas redes sociais no ano passado que impediu que Portugal marcasse mais golos nos primeiros 45 minutos. Ele e os postes nos remates de João Félix, Diogo Jota e Raphaël Guerreiro – o lance ia terminando com o autogolo de Livakovic de... calcanhar.

Com a mão direita, o guarda-redes só tocou de raspão no voo para tentar evitar o golo de João Cancelo. Sem sucesso. O defesa-direito rematou de pé esquerdo que, não sendo o dominante, tem qualidade suficiente, como se viu ontem e quando joga nos dois flancos como lateral. A inspiração de João Cancelo surgiu há muitos anos, na altura em que jogava nos iniciados do Benfica e pedia aos colegas para lhe chamarem Fábio Alves porque dizia ser uma mistura de Fábio Coentrão com Daniel Alves, um defesa de cada ala. Curiosamen­te, também foi com o pé que menos usa que o canhoto Raphaël Guerreiro colocou a bola perfeita para Diogo Jota. O avançado do Wolverhamp­ton recebeu, progrediu e finalizou na estreia a titular na Seleção Nacional. Para os mais desatentos, convém realçar o trabalho invisível de João Félix. Ao mesmo tempo que Jota e Guerreiro construíam o lance, com toque, desmarcaçã­o e devolução, o dianteiro do Atlético Madrid baixou no terreno, arrastando o defesa da Croácia. Foi naquele espaço entre o lateral e central, conquistad­o por Jota e Félix, que saiu o remate vitorioso.

Goleada portuguesa

O 2-0 era escasso para o que Portugal havia produzido até então, mas ao mesmo tempo acabava por ser confortáve­l numa altura em que ainda faltava meia hora para terminar o jogo. Os 35 minutos seguintes, incluindo o tempo de compensaçã­o, trouxeram mais golos do que os 60 an

teriores. Porque João Félix, que na 1ª parte acertara no poste, conseguiu marcar mais um, o primeiro com a camisola da Seleção Nacional; porque Livakovic, que estava a defender tudo o que aparecia pela frente, teve uma abordagem que não correu bem e a bola acabou por passar por baixo da mão.

E também porque a Croácia, que pouco rematou e assustou, conseguiu deixar a marca no jogo em tempo de compensaçã­o. Petkovic apareceu na grande área, aproveitan­do o espaço que Pepe e Cancelo concederam – o central hesitou entre a contenção e a pressão ao autor do passe; o lateral chegou tarde. André Silva no último momento do jogo, literalmen­te, fechou o resultado em 4-1.

Uma equipa que já não jogava desde novembro e que regressa com muitos golos – as oportunida­des falhadas podem custar caro noutros jogos – e bom futebol, mesmo sem Cristiano Ronaldo e frente a um adversário forte é razão para Fernando Santos estar satisfeito. A comprovar já na terça-feira com a Suécia.

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