Record (Portugal)

Mostrar cartões ao lixo nas ruas

Árbitro da 1.ª Divisão de hóquei tem projeto de limpeza com o filho, que é ‘juiz’ no... futebol

- JOAQUIM PAULO

Habituado a admoestar com cartões os hoquistas dentro da pista, sempre que revelavam comportame­ntos antidespor­tivos, Paulo Carvalho passou, nos últimos meses, a ‘mostrar’ cartões a quem polui as ruas e terrenos, alguns privados, em Turquel. Desde que ficou sem dirigir encontros na 1.ª Divisão, o árbitro decidiu levar “mais a sério” uma prática que tem “há muitos anos”: recolher o lixo que encontra na via pública.

“Sei que não vou mudar o Mundo, mas quero ser um exemplo e tenho lutado para chamar a atenção das pessoas para o mal que estamos a fazer ao meio ambiente”, explica o juiz, de 53 anos, assumindo que fica “triste” quando, depois de limpar um terreno abandonado, volta a passar no local e se depara com um maço de tabaco ou outro tipo de lixo. “Desde pneus, a eletrodomé­sticos, encontra-se de tudo. É lamentável a falta de civismo”, critica. Ainda assim, não cruza os braços e resolve fazer frente à poluição que grassa um pouco por todo o lado. E esta forma de estar no contacto com a natureza não é recente. “Sempre tive esta força de vontade interior de combater o lixo nas ruas e já me aconteceu chegar demasiado cedo a um jogo e passar o tempo a recolher lixo junto ao pavilhão. Não custa nada”, garante.

Sem desistir

Paulo Carvalho jogou no HC Turquel até aos juvenis, mas como, aos 15 anos, trabalhava em Alcobaça acabou por mudar-se para o Alcobacens­e. Deixou os patins e dedicou-se ao futsal, novamente em Turquel, tendo atingido uma meia-final da Taça de Portugal de futebol de cinco. Porém, a paixão pelo hóquei foi mais forte e, após insistênci­a de um ex-árbitro, acedeu a tirar o curso. Não se arrepende. Subiu à 1.ª Divisão em 2009, desceu, mas nunca desistiu e vai agora entrar na quarta temporada consecutiv­a no escalão principal. Sobre o campeonato, só tem elogios. “O jogo está muito veloz e isso dificulta a ação dos árbitros. Temos o melhor campeonato e os melhores clubes do Mundo e a Federação tem feito um trabalho extraordin­ário. Enquanto me sentir bem, vou continuar a dar o meu contributo à modalidade”, esclarece o juiz, que tem um jogo na memória: a estreia na 2.ª Divisão como árbitro foi num... HC Turquel-Cambra. “Foi inesquecív­el, ainda por cima porque as duas equipas acabaram por subir de divisão. O observador sabia ao que vinha, mas deu-me os parabéns no final da partida”, recorda Paulo Carvalho, assegurand­o que sempre “soube distinguir as coisas”.

Quanto ao jogo que mais o marcou foi um HC Turquel-OC Barcelos para a Taça de Portugal. E por razões fáceis de compreende­r. “Sou de Turquel e o colega era de Barcelos, o Rego Lamela. Foi um momento espetacula­r”, diz o árbitro, salientand­o, porém, que “o dérbi dos dérbis é o OC Barcelos-HC Braga”. “Há um ambiente incrível e o público é espetacula­r”, remata.

Apoio do filho e dos amigos

“Muita gente diz que vem ajudar, mas depois ficam a ver ao longe”, lamenta o árbitro, que nos últimos tempos, porém, passou a contar com o apoio das juntas de freguesia de Turquel e Évora de Alcobaça. “Antes, pagava as luvas e os sacos do meu bolso, mas agora dão-me o material”, sublinha o profission­al de segurança, que ganhou “ainda mais energia” quando o filho, Martim, se juntou a ele no combate ao lixo. E ainda trouxe “os amigos” para esta luta.

“O meu pai sempre foi um grande exemplo e é o meu ídolo. Via o trabalho dele e não podia ficar indiferent­e”, assevera o rapaz, que foi guarda-redes de U. Turquel e Beneditens­e até decidir enveredar pela arbitragem, sendo o árbitro mais jovem dos quadros da Associação de Futebol de Leiria. “Ele era um excelente guarda-redes e fiquei surpreendi­do por ter trocado os postes pelo apito. Mas tem qualidade e vai ser um grande árbitro”, remata Paulo Carvalho, que, isso é certo, faz um bom trabalho a transmitir valores ao filho.

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“SEI QUE NÃO VOU MUDAR O MUNDO, MAS QUERO SER UM EXEMPLO E TENHO LUTADO PARA CHAMAR A ATENÇÃO”, DIZ

“O MEU PAI SEMPRE FOI UM GRANDE EXEMPLO E É O MEU ÍDOLO. NÃO PODIA FICAR INDIFERENT­E”, ADIANTA MARTIM

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