Recordes em catadupa
Com um calendário bem menos preenchido, atletas de elite registam marcas impressionantes
2020 está definitivamente a ser um ano estranho. Com o calendário competitivo totalmente virado do avesso, com grande parte das provas a serem canceladas ou adiadas, os atletas souberam adaptar-se às circunstâncias e, de forma surpreendente, os recordes começaram a surgir em catadupa. Depois de Joshua Cheptegei ter espantado o Mundo com o máximo dos 5.000 metros, este fim de semana houve mais história a ser escrita, com a queda de quatro máximos históricos.
O mais impressionante deles foi obtido pelo britânico Mo Farah, que no regresso às provas de pista, três anos depois, ‘liquidou’ o último recorde mundial de Haile Gebrselassie, o da hora em pista, alcançado há 13 anos. Fê-lo em Bruxelas, completando 21.330 metros às voltas numa pista com os 400 metros regulamentares (ao todo fez mais 53 voltas!). Acrescentou mais 45 metros em relação ao registo anterior, acabando bem ao seu jeito: com um ‘kick’ demolidor, que deixou para trás o único rival que lhe restava, o companheiro de equipa Bashir Abdi, que mesmo assim não saiu de mãos a abanar. É que, provavelmente sem se aperceber, o belga foi o primeiro a passar a barreira dos 20.000 metros – em 56:20 –, pelo que levou também para casa outro máximo que pertencia a Haile. Momentos antes também tinha sido escrita história na hora hora, mas neste caso com um recorde algo menos ‘difícil’. A autora foi Sifan Hassan, que pulverizou a anterior marca em mais de 400 metros (passou de 18.517 para 18.930 metros). Na prática, a holandesa deu mais uma volta do que Dire Tune (um registo de 2008), utilizando para fechar em beleza a mesma ‘receita’ de Mo Farah. Um sprint demolidor, que deixou Brigid Kosgei ‘pregada’ ao tartan tartan. A queniana, recordista mundial da maratona, aguentou até ao minuto final, altura em que Sifan ligou o turbo e disparou para a vitória. E não bastasse a ‘azia’ que denotou no final, Kosgei acabaria mesmo por ser desclassificada, por ter pisado a zona externa da pista.
Praga viu mais história
Ainda mal recuperados daquilo que sucedera em Bruxelas Bruxelas, os fãs do atletismo tiveram uma derradeira surpresa na madrugada de sábado, com a obtenção de mais um recorde mundial, neste caso da meia-maratona feminina (numa prova apenas com mulheres). Obtido num evento privado realizado pela Run Czech em parceria com a Adidas (serviu para apresentar oficialmente em prova as sapatilhas Adizero Pro), o recorde foi obtido pela queniana Peres Jepchirchir, que praticamente sempre a solo conseguiu baixar o máximo às 1:05:34 horas, o que representa uma melhoria de 37 segundos em relação ao anterior máximo, fixado em 2018 por Netsanet Gudeta (1:06:11). Foram quatro recordes em pouco mais de 12 horas, que servem para mostrar que, pelo menos lá fora, o atletismo está bem vivo.
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MO FARAH E SIFAN HASSAN BATERAM OS MÁXIMOS DA HORA MAS HOUVE MAIS REGISTOS NOTÁVEIS NOS ÚLTIMOS DIAS