Record (Portugal)

O drible falhado de Messi

A JOGADA SAIU MAL AO MELHOR DO MUNDO E DEIXA LESÕES. MAS TAMBÉM SUSCITA REFLEXÕES. MESSI FICA PORQUE PARA SAIR TERIA DE PAGAR 700 MILHÕES DE EUROS

- André Veríssimo Diretor do Negócios JOSÉ MANUEL FREITAS

A tensão entre Lionel Messi e pelo menos parte da estrutura diretiva do Barcelona tem muito tempo e já conheceu vários episódios, como o ‘Barçagate’ e o despique com o recém-dispensado diretor desportivo, Éric Abidal. A época falhada esticou a corda. A derrota humilhante perante o Bayern Munique nos quartos-de-final da Liga dos Campeões foi muito mais do que uma noite desinspira­da – foi um sintoma agudo do ambiente tóxico que se vive no Santiago Bernabéu.

Foi o fim de um ciclo. “Renovação” tornou-se a palavra de ordem. Novo treinador – Ronald Koeman – e novos jogadores. Quanto baste. A direção ficou intocada. Messi, sangue velho, mas ainda com muito para dar, não gostou da limpeza dos colegas de balneário e achou provavelme­nte que o que tinha de mudar ficava na mesma. Quis forçar a saída e com isso criou o caso futebolíst­ico do verão.

A tensão entre o presidente, Josep Maria Bartomeu, e o craque argentino é também uma disputa por poder. Quando se tem um jogador como Messi há muitos anos no clube, não há dúvida de quem manda no balneário. Mas e quem manda no futebol?

Quem tem o poder de fazer tombar quem?

O jogador já tinha mostrado vontade em partir, mas um Bartomeu já fragilizad­o e consciente de que a saída do melhor do Mundo ditaria provavelme­nte a sua queda antecipada, recusou negociar. Uma média de 0,81 golos por jogo e o valor da marca Messi também terão pesado na decisão.

O argentino enviou então para o Barcelona o famoso “burofax” a comunicar a sua intenção de rescindir e faltou ao arranque dos treinos. Só que o prazo contratual (10 de junho) para o fazer já passara e o prolongame­nto da época por causa da pandemia era um argumento jurídico de eficácia incerta.

A possibilid­ade de uma longa batalha legal para poder inscrever o jogador nas competiçõe­s alienou pretendent­es e as opções de Messi, que só devia ter arrancado para a jogada com a certeza de que marcaria golo. Mesmo ficando, não pode apagar as últimas semanas e o dano que elas deixam na sua imagem.

O melhor do Mundo não fica porque quer. Fica porque não consegue sair antes de junho de 2021. Que impacto teria tido uma rescisão a 10 de junho, com a época ainda a correr? Messi não quis ficar com esse ónus e o presidente não lhe deu escolha. A paz será sempre podre. As eleições de março poderão ser decisivas para a sua continuaçã­o. Se Bartomeu for candidato e ganhar, Messi provavelme­nte sairá. O que é bastante para condiciona­r a sua reeleição.

O caso suscita várias reflexões. Expõe os riscos de ter na equipa um jogador com tamanha influência, ao ponto de se tornar um contrapode­r no clube. E é mais um exemplo de como a liberdade contratual dos jogadores é amplamente violentada no futebol atual. Messi fica porque para sair teria de pagar 700 milhões de euros. Não é uma cláusula de rescisão, é uma cláusula de prisão. Foi o próprio que a aceitou, é certo, mas é à UEFA que cabe impor limites.

ESTE É MAIS UM EXEMPLO DE COMO A LIBERDADE CONTRATUAL DOS JOGADORES É VIOLENTADA

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