À espera da nova vaga
SER CAPAZ DE ENTENDER
Não pretendo desvalorizar o trabalho realizado pelos dirigentes em prol do desporto. Quero apenas chamar a atenção para a necessidade de mudar algo. Existem associações desportivas a mais em Portugal, sendo que muitas delas fecharão portas nos próximos tempos.
Os políticos pensam que ganham eleições se estiverem de bem com os clubes. Os clubes pensam que beneficiam, sobretudo financeiramente, se estiverem de bem com os políticos. É a partir desta maquiavélica relação que gira uma grande parte do desporto português.
Uma fotografia com a vedeta do momento, ou uma visita no timing acertado, de preferência no camarote presidencial, a um jogo importante, são estratégias já há muito apreendidas pela massa política nacional.
Há uns anos, alguém apelidou de ‘dinossauros’ os presidentes de câmaras que há cerca de duas décadas exerciam continuamente as mesmas funções. No desporto, os ‘dinossauros’ proliferam pelas várias instituições. Presidentes eternos de federações ou clubes, alguns com processos judiciais, ou mesmo presos, dinastias, eleições condicionadas, votos influenciados, enfim... de tudo um pouco se vê. Quando pensamos que atingimos o limite do razoável, eis um novo escândalo para consumir. O povo é insaciável.
Para além da perpetuação dos lugares, alguns dirigentes desportivos são também conhecidos pela total irresponsabilidade e desadequação das suas mensagens, tão penalizadoras para as suas instituições. A comunicação não planeada, essencialmente negativa, veiculada pelos vários dirigentes desportivos, é uma das principais razões de afastamento das pessoas dos espetáculos desportivos. Suspeitas, insinuações, insultos, os ‘sistemas’, liga contra federação, federação contra associação, associação contra clube, clube contra a câmara, câmara contra o Estado, são situações impensáveis em qualquer moderna e profissional organização empresarial.
O desporto compete hoje em dia na indústria do entretenimento a par do cinema, música, teatro, turismo, lazer e tantas outras formas de diversão. Cada instituição desportiva tem de ser capaz de entender a que públicos é que se dirige e, mais importante ainda, com que atributos se vai mostrar a esse conjunto de pessoas.
CADA INSTITUIÇÃO DESPORTIVA TEM DE
A QUE PÚBLICOS SE DIRIGE
É esta visão empresarial que se exige nos novos tempos para qualquer clube, câmara municipal, associação ou federação. O problema, quanto a nós, é que a vaga atual de dirigentes do desporto português não vai ser capaz de o concretizar. A preocupação pela manutenção dos seus postos, com as jogadas de bastidores necessárias para tal, sobrepõe-se à eficaz gestão das instituições desportivas, claramente orientadas para a satisfação das necessidades dos seus consumidores.
Quem não perceber esta lógica, vai ficar para trás.