“Há promiscuidade total entre a política e o futebol”
Quando assume que “em Portugal os políticos mandam em quase tudo” está também a assumir que eles “mandam” igualmente no futebol?
PM – Há em Portugal uma promiscuidade total entre a política e o futebol e isso é evidente em muitos exemplos. Vemos em comentário futebolístico pessoas que estão ligadas à política e essa promiscuidade aconteceu porque muita gente da política quis ir buscar ao futebol dirigentes desportivos para daí tirar alguma popularidade e ganhos eleitorais. É claro que ao fim de algum tempo, tudo se mistura e quando vemos o próprio primeiro-ministro aceitar fazer parte da comissão de honra da candidatura de Luís Filipe Vieira, está tudo dito e já nada me deixa de boca aberta em Portugal, porque o nível de toda a vida pública é realmente muito baixo. Não é aceitável que António Costa tenha permitido uma coisa destas, porque em primeiro lugar um primeiro-ministro não se deve imiscuir em atos eleitorais fora da sua própria e natural atividade política, seja num clube de futebol, seja na Santa Casa da Misericórdia de Bragança. Em segundo lugar, porque ao tomar partido por um candidato está a preterir outros e o primeiro-ministro não pode fazer isso. Mas o mais grave de tudo é que António Costa aceitou atestar a honra de uma pessoa que está acusada por corrupção. Isso de alguma maneira até é uma afronta ao Ministério Público, pois pode ser visto como uma intromissão no poder judicial. O António Costa, sendo primeiro-ministro, a sua função é atuar no poder executivo e isto não faz sentido nenhum. Não tem qualquer cabimento! Por isso é que digo que os políticos mandam em tudo porque também por esta via exercem a sua influência. Em determinadas situações, isto agravou-se enormemente por ocasião do Euro’2004. Em que sentido?
PM – No sentido em que passou a haver muito dinheiro público, agora sabemos que foi demasiado, no futebol. Primeiro fizeram-se estádios sem qualquer necessidade e hoje temos a prova disso com exemplos como os de Aveiro, Leiria e Algarve, que são autênticos elefantes brancos. E tudo isto foi decidido por uma coligação desportiva e política que decidiram fazer o Euro’2004 e que nasceu, ele próprio, num ato de corrupção. É o próprio Carlos Cruz, no seu processo, que acusa Gilberto Madaíl e José Sócrates de andarem a comprar votos para que o Euro’2004 fosse em Portugal. Portanto, o próprio ato de nascimento do Euro’2004 é um ato de corrupção e o que se seguiu foi um descalabro absoluto com os portugueses, através dos seus impostos, a pagarem do seu bolso para favorecimento da atividade imobiliária e não para favorecer a atividade desportiva.
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“O EURO’2004 É EM SI PRÓPRIO UM ATO DE CORRUPÇÃO. GILBERTO MADAÍL E SÓCRATES ANDARAM A COMPRAR VOTOS”