Record (Portugal)

O regresso do 12.º jogador: a heurística da pressão

- Gaspar Ferreira Ordem dos Psicólogos Portuguese­s

A UEFA permitiu o regresso dos adeptos sob aprovação das autoridade­s locais e dois jogos da 1.ª Liga e outros dois jogos da 2.ª Liga terão já a presença de público. A seleção portuguesa poderá já contar com adeptos na receção às equipas da Espanha e da Suécia. Estes jogos servirão como testes-piloto, e serão monitoriza­dos pela DGS e pela Liga de clubes.

Sabemos que os resultados são estatistic­amente favoráveis às equipas que jogam em casa. Parte deste efeito deve-se às táticas de pressão psicológic­a exercidas pelos adeptos.

Os estudos mostraram que na liga alemã a ausência de adeptos prejudicou os resultados das equipas a jogar em casa. Sem público, a média de golos marcados decresceu, remataram menos 10% e estes remates perderam eficácia.

Os guarda-redes tiveram um melhor desempenho fora de casa do que no seu próprio terreno: os remates defendidos diminuíram visivelmen­te para os guarda-redes em casa, mas aumentaram para os visitantes.

Outro aspeto da vantagem de jogar em casa é o impacto que uma multidão pode ter sobre os árbitros. Um número consideráv­el de estudos sugere há muito tempo que toda ou parte da vantagem de jogar em casa pode resumir-se às decisões da arbitragem serem inconscien­temente favoráveis à equipa da casa.

Sem público, as equipas correram mais e aumentaram o número de faltas por jogo. No entanto, os árbitros assinalara­m mais faltas às equipas da casa.

Um outro estudo realizado pela Universida­de de Reading nos campeonato­s de Inglaterra, Espanha e Itália, re

SEM A PRESSÃO DIRETA DO PÚBLICO, A CARGA COGNITIVA DOS INTERVENIE­NTES FOI REDUZIDA

velou que jogar sem público proporcion­ou uma vantagem mínima às equipas da casa, mas fez os árbitros pensarem duas vezes, acabando estes por mostrar menos cartões amarelos às equipas visitantes.

Os adeptos influem nas tomadas de decisão dos árbitros, provavelme­nte por fazerem mais ruído quando um jogador visitante agride um jogador da casa e esse tipo de ruído poder funcionar como uma espécie de heurística de tomada de decisão – é um atalho: ruído alto e massivo leva os árbitros a marcar faltas.

Treinadore­s, jogadores e árbitros devem ser capazes de se adaptar a diferentes contextos, de modo a atingirem os seus objetivos. Com os estádios vazios, sem pressão direta dos adeptos, a carga cognitiva dos diferentes intervenie­ntes foi reduzida.

O stress e ansiedade gerados pelas reações dos espectador­es pode e deve ser trabalhada, de modo a que decisões capitais não resultem desta pressão. Um psicólogo pode ajudar.

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