Alegrias e tristezas destes dias
TEMOS UMA SELECÇÃO PUJANTE, CREDÍVEL, AMBICIOSA. NÃO SABEMOS O QUE PODE GANHAR, MAS SENTIMOS ESTAR NUM PATAMAR EM QUE PROVAVELMENTE NENHUM OUTRO GRUPO ESTEVE DE MANEIRA ESTÁVEL E SÓLIDA
ç Daquela varanda do hotel da FPF, Cristiano Ronaldo sorria para os colegas que treinavam. É uma família feliz aquela que Fernando Santos orienta e a quem deu o seu rigor e exigência. Holofotes justos para Diogo Jota, dois golos do rapaz nunca reconhecido na sua terra – como tantos jovens que em diversas áreas têm de traçar na própria pele a sua linha da sorte, como Corto Maltese, partindo para outras geografias – e que Jürgen Klopp arregimentou. Temos uma Selecção pujante, credível, ambiciosa, ao contrário das sinistras profecias de trazer por casa dos nossos ignorantes Velhos do Restelo. Não sabemos o que pode ganhar, mas sentimos que estamos num patamar superior em que provavelmente nenhum outro grupo – e houve tantos com enorme talento – esteve de maneira estável e sólida.
Se aqui, com a competição, podemos estar contentes, há algo que nos deve fazer reflectir. Se os estádios e pavilhões vazios nos entristecem, se a indústria do desporto se ressente dessa ausência de adeptos, o que dizer dos milhares de jovens que deixaram de praticar desporto? A Covid mata de muitas maneiras, pela doença em si, os que precisam de outros cuidados de saúde e são colocados em segundo plano no seu tratamento, na economia que se estrangula sem a actividade normal, na incerteza que gera a desconfiança e o pânico de um avô que não pode abraçar os seus netos. Tive a sorte de entre os 4 e os 14 anos andar pela ginástica e natação, na minha geração foram muitos milhares que tiveram esse privilégio e acrescento na sua formação, como é que miúdas e miúdos atravessarão esta pandemia, que efeitos perversos poderão trazer este afastamento das modalidades que os fazem sorrir? Pode ainda ninguém estar a ligar nada a isto, mas é uma tristeza que custará muito dinheiro no futuro a todas as comunidades.
PS: Na semana passada aqui escrevi que o Sporting é o único clube do Mundo onde por sua alta recreação o presidente do CfD dava entrevistas avulsas. Pois bem, o meu artigo teve o condão de proporcionar mais declarações exclusivas de Baltazar Pinto a Record. Apurei esta semana o que suspeitava, o senhor juiz não sabe nada do clube e antes desta renumeração era o sócio 89.015, chegou há pouco mas mais vale tarde do que nunca. Ele que mencionou um livro de Arturo Perez-Reverte, por sinal uma obra superficial sobre a história de Espanha, poderia antes descobrir os três melhores livros do escritor murciano que eu conheço muito bem: ‘O Pintor de Batalhas’, ‘O Assédio’ e o ‘O Tango da Velha Guarda’ que ganharia mais com isso. E como tem muito tempo livre, sugiro que vá ao Nimas ver o ciclo dedicado a Akira Kurosawa. Ali pode ver ‘Os Sete Samurais’ de onde pode retirar o seguinte ensinamento: “Até mesmo os ursos saem da floresta quando estão famintos.” No caso dos pavões, é só mesmo para mostrar as penas coloridas. Espero que se mantenha calado.
É UMA FAMÍLIA FELIZ AQUELA QUE FERNANDO SANTOS ORIENTA E A QUEM DEU O SEU RIGOR
* Texto escrito com a antiga ortografia