Record (Portugal)

“Aquela vitória fomos todos nós”

Desvaloriz­a o golo e elege a viagem para o estádio como o momento em que o jogo começou a ser ganho

- RUI DIAS

hoje 35 anos que Portugal cometeu uma das maiores proezas de sempre. A 16 de outubro de 1985, a equipa nacional, comandada por José Torres, deslocou-se à então Alemanha Federal e ali selou a presença no Mundial do México, vinte anos depois da epopeia dos Magriços em Inglaterra. O jogo foi épico, inesquecív­el, grandioso e gerou um nome imortal: Carlos Manuel que, aos 53 minutos desse embate em Estugarda, pegou na bola, correu alguns (muitos) metros com ela dominada e, ainda longe da baliza, desferiu tiro magistral com o pé direito que fez a bola entrar junto ao ângulo superior esquerdo da baliza de Schumacher. Até final, a pressão alemã foi sufocante; os portuguese­s uniram-se, recuaram, fecharam-se, sofreram e, juntos, provocaram a grande surpresa. Confrontad­o com a efeméride, a primeira afirmação de Carlos Manuel foi curta: “Estou velho!” Ao fim de 35 anos, aquele que ficou como o herói de Estugarda prefere dividir os louros: “Foi um momento muito mediático, pela vitória e pelo golo, que para lá de valioso foi bonito. Sim, o momento foi dos mais reconhecid­os da carreira, ainda hoje se fala nisso. De vez em quando enganava-me…” A verdade é que, naquela primeira metade dos anos 80 se ‘enganava’ muitas vezes. “O jogo foi mais do que o meu golo”, diz, virando a agulha na conversa: “Aquela vitória foi de todos nós, jogadores, treinadore­s e até de alguns dirigentes (não todos) da FPF Sem isso, nada feito. Eu tive a felicidade de estar associado ao momento especial e que ainda hoje está presente na memória das pessoas.” Sobre o momento que considera mais importante da jornada alemã, escolhe um: “Íamos a caminho do estádio, no autocarro, quando soubemos que a Checoslová­quia ganhara à Suécia. Contas feitas ali, demos connosco a dizer uns aos outros que a vitória sobre os alemães seria suficiente. Tornámo-nos invencívei­s: cerrámos os punhos e os dentes, concentrám­o-nos, motivámo-nos uns aos outros e criámos um clima de quem se prepara para tudo, algo que se fez sentir em campo. Por isso eu digo que Estugarda não foi só o autor do golo; não foi só Carlos Manuel: fomos todos nós, os que jogaram e os que ficaram de fora.”

“A VITÓRIA NÃO FOI SÓ DO AUTOR DO GOLO: FOI DE TODOS NÓS, OS QUE JOGARAM E OS QUE FICARAM DE FORA”

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ALEGRIA. A comemoraçã­o após um remate fulminante

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