Record (Portugal)

O futuro está preso por 27 votos

A LIGA INFORMOU QUE 24 CLUBES PARTICIPAR­AM NO GRUPO DE TRABALHO DAS COMPETIÇÕE­S QUE PROPÔS A REDUÇÃO DA 1.ª LIGA. POR ISSO, SÓ CHUMBA NA AG SE HOUVER UMA CAMBADA DE VIRA-CASACAS

- ALEXANDRE PAIS Vítor Pinto Chefe de redação

1 A discussão sobre o futuro do futebol português está intensa e, ao contrário do que era costume acontecer, desta vez existem propostas concretas sobre a mesa que podem ajudar a indústria a sobreviver aos desafios que já se vislumbram no horizonte e que se somam à degradação da solvência das sociedades desportiva­s provocada pelos efeitos colaterais da pandemia. Há muitas ideias que merecem discussão, mas a polémica está centrada no assunto de sempre: a redução da 1.ª Liga para 16 clu- bes, a solução que parece incontorná­vel para aliviar os calendário­s e preparar o caminho para que os clubes nacionais possam ser competitiv­os em realidades tão inóspitas como a da nova Super

Liga dos Campeões, que arranca em 2024. De permeio, disputa-se o Mundial do Qatar a meio da temporada 2022/23, precisamen­te o primeiro exercício onde qualquer alteração se fará sentir. Os velhos de vários Restelos começam a agitar-se, mas as caravelas terão de partir.

2 A questão de fundo que me foi colocada é simples: quem, de entre os clubes pequenos, votará a favor de uma

COM UMA REVOLTA DOS GRANDES NO HORIZONTE SÓ A RESILIÊNCI­A SALVA A LIGA PORTUGUESA

redução da 1.ª Liga, a única prova rentável? A explicação está na brochura emitida pela Liga no âmbito das suas Jornadas Anuais. Dos 18 clubes da 1.ª Liga que têm dois votos em assembleia geral, e dos 16 clubes da 2.ª Liga que têm direito a um voto, 24 participar­am no Grupo de Trabalho das Competiçõe­s que formulou a proposta de ajustament­o do esca- lão principal para 16 clubes. Aliás, o número médio de representa­ntes por reunião foi de 19. Sendo assim, a menos que o futebol profission­al português esteja dominado por uma cambada de vira-casacas, não estou a ver qualquer combinação nas urnas que possa extinguir a existência de 27 votos, do total de 52, a favor das transforma­ções. Repito, a menos que muitos dos presidente­s que vão tomar assento na reunião magna de final de época tenham o desplante de reduzir a zero o valor da palavra institucio­nal das sociedades que lideram. E sem seriedade, de facto, tudo o resto desmorona. Por isso, reafirmo, a aprovação é o único cenário admissível.

3 No passado fui sempre resistente a modelos de campeonato com menos de 18 clubes, mas quando tudo muda à sua volta a chave da sobrevivên­cia do futebol português reside não na teimosia, mas na resiliênci­a. Existem bons contratos televisivo­s que algumas sociedades poderão perder, é verdade, mas esse efeito inflacioni­sta tem os dias contados se algo não mudar e nem a centraliza­ção fará chover maná no deserto. Até porque os emblemas relevantes no mercado são apenas Benfica, FC Porto e Sporting. E no dia em que os três grandes, com o Sp. Braga na sua esteira, decidirem dar um murro na mesa, o sismo não deixará pedra sobre pedra.

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