O futuro está preso por 27 votos
A LIGA INFORMOU QUE 24 CLUBES PARTICIPARAM NO GRUPO DE TRABALHO DAS COMPETIÇÕES QUE PROPÔS A REDUÇÃO DA 1.ª LIGA. POR ISSO, SÓ CHUMBA NA AG SE HOUVER UMA CAMBADA DE VIRA-CASACAS
1 A discussão sobre o futuro do futebol português está intensa e, ao contrário do que era costume acontecer, desta vez existem propostas concretas sobre a mesa que podem ajudar a indústria a sobreviver aos desafios que já se vislumbram no horizonte e que se somam à degradação da solvência das sociedades desportivas provocada pelos efeitos colaterais da pandemia. Há muitas ideias que merecem discussão, mas a polémica está centrada no assunto de sempre: a redução da 1.ª Liga para 16 clu- bes, a solução que parece incontornável para aliviar os calendários e preparar o caminho para que os clubes nacionais possam ser competitivos em realidades tão inóspitas como a da nova Super
Liga dos Campeões, que arranca em 2024. De permeio, disputa-se o Mundial do Qatar a meio da temporada 2022/23, precisamente o primeiro exercício onde qualquer alteração se fará sentir. Os velhos de vários Restelos começam a agitar-se, mas as caravelas terão de partir.
2 A questão de fundo que me foi colocada é simples: quem, de entre os clubes pequenos, votará a favor de uma
COM UMA REVOLTA DOS GRANDES NO HORIZONTE SÓ A RESILIÊNCIA SALVA A LIGA PORTUGUESA
redução da 1.ª Liga, a única prova rentável? A explicação está na brochura emitida pela Liga no âmbito das suas Jornadas Anuais. Dos 18 clubes da 1.ª Liga que têm dois votos em assembleia geral, e dos 16 clubes da 2.ª Liga que têm direito a um voto, 24 participaram no Grupo de Trabalho das Competições que formulou a proposta de ajustamento do esca- lão principal para 16 clubes. Aliás, o número médio de representantes por reunião foi de 19. Sendo assim, a menos que o futebol profissional português esteja dominado por uma cambada de vira-casacas, não estou a ver qualquer combinação nas urnas que possa extinguir a existência de 27 votos, do total de 52, a favor das transformações. Repito, a menos que muitos dos presidentes que vão tomar assento na reunião magna de final de época tenham o desplante de reduzir a zero o valor da palavra institucional das sociedades que lideram. E sem seriedade, de facto, tudo o resto desmorona. Por isso, reafirmo, a aprovação é o único cenário admissível.
3 No passado fui sempre resistente a modelos de campeonato com menos de 18 clubes, mas quando tudo muda à sua volta a chave da sobrevivência do futebol português reside não na teimosia, mas na resiliência. Existem bons contratos televisivos que algumas sociedades poderão perder, é verdade, mas esse efeito inflacionista tem os dias contados se algo não mudar e nem a centralização fará chover maná no deserto. Até porque os emblemas relevantes no mercado são apenas Benfica, FC Porto e Sporting. E no dia em que os três grandes, com o Sp. Braga na sua esteira, decidirem dar um murro na mesa, o sismo não deixará pedra sobre pedra.