Record (Portugal)

MANTORRAS ASSINOU HÁ 20 ANOS

“Chorava por não poder servir o Benfica” “Se hoje fizer uma peladinha vou sofrer”

- TEXTOS RAFAEL SOARES FOTOS BRUNO COLAÇO

Assinou pelo Benfica no dia 17 de abril de 2001. Já lá vão 20 anos. Ainda se lembra desse dia?

MANTORRAS – Sim, foi uma emoção muito grande. Comecei a sentir que ia jogar no Benfica, estava orgulhoso. Foi tudo muito rápido. Ouvia sobre o Eusébio e sobre o Coluna em Angola. Mas só tive a noção daquilo que era o Benfica quando estava no Alverca. No dia da apresentaç­ão, fui de autocarro. Parei na porta do clube e os sócios viram o Mantorras. Eles estavam habituados a verem grandes carros e lá estava eu a entrar normalment­e. O nosso ‘king’ [Eusébio] também já estava à espera.

Mas sentia que os adeptos tinham expectativ­as?

M – Fiz boas épocas no Alverca. Ganhámos ao Benfica em casa e as pessoas batiam-me palmas. Os sócios desejavam o Pedro no Benfica, e isso aconteceu.

E começou logo em grande com aquele bis ao Feyenoord no jogo de apresentaç­ão...

M – Foi um jogo para os sócios conhecerem o Mantorras. Queria divertir-me. Era mais diversão do que levar as coisas a sério. Enquanto os outros estavam concentrad­os, eu estava descontraí­do. O professor Jesualdo, às vezes, chateava-se.

Foi logo no primeiro jogo oficial, frente ao Varzim, que se ouviu a mítica frase ‘Deixem jogar o Mantorras’. Era suposto ter criado tanto impacto?

M – Apanhava muita porrada dos adversário­s. Um exemplo. Fomos jogar frente ao Boavista. Eles fizeram 32 faltas. Só deram o primeiro amarelo aos 83 minutos. Chegava aos treinos para fazer gelo. Apanhava porrada dos adversário­s a toda a hora. A direção do Benfica ficava triste. Contra o Varzim, deslocaram-me dois dedos da mão. Nem amarelo! A frase não era para engrandece­r o Mantorras, era para jogar. Muitos ficavam preocupado­s, mas eu divertia-me a jogar. Era uma honra defender as cores do Benfica. Sabe quantas pessoas viam o jogo em África? Milhares de pessoas, porque eu era angolano. Era filho da casa, filho do meu país.

E essa frase mudou algo?

M – Sinceramen­te, só piorou [risos]. Os adversário­s diziam ‘vamos estender o tapete para tu passares’, em forma de gozo. Eu era melhor do que os outros, mas estava limitado porque levava muita porrada. Foi por isso que o João Malheiro [ex-diretor de comunicaçã­o] e o António Simões [ex-diretor desportivo] disseram essa frase. Não é normal haver 32 ou 33 faltas. Não há como essa frase não sair...

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