“TRAGO A CULTURA SOVIÉTICA”
çTem um ligeiro sotaque do Leste. Fale-nos das suas origens.
TH – Vim para Portugal com três anos. Os meus pais já estavam cá. Cresci aqui e vim logo para Braga. Comecei a praticar natação aos seis anos, não é algo que veio do Leste, mas a cultura que os meus pais me transmitem em termos desportivos
é a soviética, daí os resultados que eu tenho.
+ O que é a cultura soviética?
TH – É o entender que sem sacrifícios não vais a lado nenhum. Não podes estar à espera que as coisas te caiam do céu. Só com muito trabalho diário é que vais chegar lá. É essa a cultura que os meus pais me deram. Quando és muito novo custa muito porque não te apetece. É preciso ter os pais a puxar por ti e naquela fase mais jovem é preciso ter o apoio que te faça entender que isto é realmente sério e que é preciso sacrificar muitas horas e várias festas para ter bons resultados no futuro.
+ Quem é o mais exigente: o pai ou a mãe?
TH – A mãe [risos].
Porquê? +
TH – O pai também é exigente, mas ele é mais do estilo ‘tu sabes o que tens de fazer’. A mãe é sempre ‘bora lá!’. Infelizmente, com a Covid as bancadas têm estado vazias, mas a minha maior claque tem sido a minha família. Os resultados que eu tenho são também sacrifício da minha família e do meu treinador.
+Voltando agora à competição. Como foi este último ano de pandemia?
TH – Foi positivo. Tenho tido todo o cuidado. No início não estava tão preocupada como agora porque os Jogos estão mais próximos. Desde setembro tenho tido acesso ao ginásio e piscina e tenho mantido um ritmo normal.
+Já atravessámos dois confinamentos. Parou de treinar nos dois?
TH – Parei dois meses no primeiro confinamento. Já não tinhas essas ‘férias’ há oito anos! Foi bom de um certo modo. Agora no segundo confinamento já não parámos.
+ Como foi voltar à piscina depois de dois meses parada?
TH – Foi como voltar a aprender a nadar [risos]. Depois de tanto tempo na água cria-se uma certa sensibilidade. Por exemplo, nós treinamos sábado de manhã e só voltámos a nadar na segunda-feira, isto quando não há provas. Na segunda-feira já me sinto um pouco estranha na água e vou-me sentido melhor ao longo da semana. Quando voltei ao fim de dois meses parada senti-me uma pedra a saltar para a água e tive de aprender a nadar outra vez.
+Como é que o Sp. Braga apareceu na sua vida?
TH – Comecei a praticar nas piscinas municipais em Maximinos. Tínhamos um grande treinador, o Alcaide. Todos os bons atletas do Sp. Braga passaram pelas mãos dele. Criava nas crianças a vontade de nadar e competir. Ele insistiu
“NÃO TREINEI NO PRIMEIRO CONFINAMENTO. QUANDO VOLTEI À ÁGUA PARECIA UMA PEDRA. TIVE DE VOLTAR A APRENDER A NADAR”
com os meus pais para me que levassem lá [Sp. Braga]. Aí, pediram para eu nadar um bocado e estava muito nervosa. Queria dar o máximo para causar boa impressão! Os treinadores acabaram por convidar-me a ficar no Sporting Clube de Braga.
+ Como é a Tamila fora da piscina?
TH – Quando não está cansada é uma pessoa impecável, mas 90 por cento do tempo estou muito cansada. Na verdade, tento ser uma pessoa positiva porque já custa tanto estar na água, então os momentos que passo fora dela tento aproveitar ao máximo com um sorriso na cara. Sou uma pessoa curiosa e adoro aprender coisas novas. Sou uma pessoa simples e não me esqueço de como comecei. Era muito fraca na natação. Se alguém mais novo vem falar comigo a pedir apoio é sempre um gosto dar alguma dica porque recordo-me como comecei.
+ Fez muitos sacrifícios?
TH – Só penso que deixei muito para trás agora. Quando és mais novo não percebes isso. Não é uma brincadeira, mas é muito mais fácil quando somos novos. Só começas a ter noção dos sacrifícios quando chegas a esta fase e vês as diferenças. Quanto mais velha é a pessoa maior é a nossa compreensão dos sacrifícios.
+ E depois de Tóquio? Segue-se Paris’2024?
TH – Vamos ver até lá. Vou querer um ano não de paragem, mas um bocadinho de maior descanso a nível psicológico. A cabeça já está um bocadinho farta de ver água à frente. Quero descansar um pouco a cabeça para voltar com mais força.