Record (Portugal)

“Fiquei triste em 2009/10, o míster Jesus sabe disso”

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çHouve treinadore­s que não quiseram contar consigo devido à sua condição física?

M – O Jorge Jesus foi bem claro. Não contava comigo. Isso é a realidade. Se estivesse a 100%, era eu e mais dez. Mas não estava. Treinava mal e o Jesus gosta de tudo a 100 à hora [risos]. Eu não podia dar. Ele disse: ‘Não conto com o Pedro’. Mas até esse trajeto ninguém me tinha dito nada.

Ficou chateado?

M – Fiquei! Podia dizer que não fiquei, mas seria mentira. Podiam ter respeitado. Quando o Benfica foi campeão com o Jorge Jesus em 2009/10, chamaram pelo meu nome e não apareci. No último jogo [2-1, frente ao Rio Ave], o Jorge Jesus convocou-me. A ideia era eu fazer dois ou três minutos, não aconteceu. Fui o único sem jogar nessa Liga. Preparei-me para o momento. Fiquei triste, o míster Jesus sabe disso. Já comentei isso com ele. Peguei nas coisas, tirei o fato do Benfica e fui para casa. Vi o Benfica a ser campeão na minha casa. Disseram o onze e quem estava no banco. Não estava e fui-me embora.

E depois?

M – No dia seguinte estava a treinar. O Benfica ia fazer uma digressão, mas não aceitei ir. Estávamos

a treinar com as portas abertas ao público. Mandaram-me bater um penálti e não aceitei. Disse: ‘Não posso bater, estou limitado.’ Isso aconteceu. Fiquei

magoado com a situação. Dei tudo o que tinha e o que não tinha. Quando as pessoas falam olhos nos olhos, são mais respeitada­s. Posso ficar com raiva, mas falam. Foi a cena mais triste que passei no Benfica.

Quando diz que devia ter sido mais respeitado, refere-se a Jorge Jesus ou à direção?

M – Falo da equipa técnica. Exigia mais respeito. Não posso recriminar a direção. Naquela altura, foi uma falta de respeito. Foi a pior coisa que vivi no Benfica. Isso nunca vou esquecer, marcou-me.

Atualmente, como é a relação com Jorge Jesus?

M – É boa, espetacula­r! É meu vizinho, cumpriment­a-me. É uma pessoa simples. Aquilo que já passou, já passou.

Houve uma conversa sobre o assunto?

M – Nunca tivemos essa conversa. Mas não levo isso a peito. Nunca vou esquecer aquilo que fizeram. Está marcado dentro de mim.

Mas tudo passou pela forma como foi tratado?

M – Pela forma, naquele momento. Estamos a falar de 25 jogadores e fui o único a não ser campeão. Isso não se faz. Isso dói-me. Mas tenho um enorme respeito pelo míster. Gostaria de o ter com 18 ou 19 anos como meu treinador. Podia ter sido dos melhores jogadores do Mundo. O que ele faz nos treinos é espetacula­r. Apanhou-me limitado. Foi o melhor que eu vi no campo.

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“GOSTARIA DE O TER COM 18 OU 19 ANOS COMO TREINADOR. PODIA TER SIDO UM DOS MELHORES DO MUNDO”

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RETROSPETI­VA. Mantorras à conversa com Record

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