Record (Portugal)

“VIEIRA É UM PAI QUE ME ENSINOU MUITO” MANTORRAS

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Também já admitiu que Luís Filipe Vieira o marcou muito. Foi ele quem o avaliou em 100 milhões de euros. O Pedro já disse que valeria mais, nesta altura. Afinal, quanto valeria?

M – Não posso dizer que poderia valer isto ou aquilo. As minhas qualidades já o diziam. Quando assinei pelo Benfica, era, dos jogadores mais caros, o mais valioso. Nessa altura poderia passar a ser um dos mais caros do mercado.

Mas gostava de ter jogado no estrangeir­o?

M – Quando estava no Alverca, houve propostas de clubes como o Milan e o Inter. O Luís Filipe Vieira [presidente do Alverca, nessa altura] e o meu empresário, Jorge Manuel Mendes, sentaram-se comigo. Eu disse que não. Queria estar num país que gosto e que me recebeu de braços abertos. Fui para o Benfica.

Disse mais do que uma vez que havia uma relação com Luís Filipe Vieira como se fosse pai e filho. Que relação foi essa?

M – É mais de filho para pai. Ele sabia das minhas necessidad­es, sabia de onde vim. Quando mais precisava, ele e a família estiveram presentes. Eu chorava todos os dias a dizer que ia para África, que tinha saudades da família. Ele deu-me essa segurança. Eu era um menor de idade. Não há dinheiro que pague tudo aquilo que ele fez na minha vida e pelos meus filhos. É um pai que me ensinou muito. A educação para os meus filhos parte muito dele e da sua família.

Falou das suas origens. É sabido que passou por dificuldad­es em Angola. Esse contexto ajudou-o a ter força mental para superar os problemas?

M – Bastante. De onde eu saí ninguém dá nada de mão beijada. Tens de lutar por aquilo que queres. Cresci num sítio com dificuldad­es, sem água. Faltava de tudo um pouco. Aquilo fez-me crescer. Pensava de onde saí, de onde vim. Podia meter-me em drogas, ser perigoso, ser bandido... mas não fui. Também tenho de agradecer aos meus pais, que me ajudaram a ter uma boa educação. Mas não sei quando comi com o meu pai na mesa. Perdi-o com 3 meses. Quem me criou foram as minhas irmãs. Tenho de agradecer a Deus por chegar onde cheguei. As pessoas ajudaram-me. Tenho orgulho das minhas origens.

Mantém o contacto com as pessoas que o descobrira­m para o futebol?

M – Sempre que vou a Angola, tento. Os bocadinhos que eles têm partilham comigo. Não posso esquecer que essas pessoas deixavam de fazer o que tinham a fazer em casa e traziam-me um pão para treinar no dia a seguir. São pessoas importante­s na minha vida. Não são aquelas que se aproximara­m quando o Mantorras se tornou um ídolo do Alverca, do Benfica ou da seleção. Os meus amigos são os de infância. Sabem de onde vim e de onde saí.

Agora, o Pedro está ligado ao Benfica. Serviu para atenuar a dor de não ter conseguido prosseguir a carreira?

M – Sim, represento o Benfica nos países lusófonos, sou embaixador e continuo a minha vida normalment­e. Tenho uma história com o

“NÃO POSSO DIZER QUE VALERIA ISTO OU AQUILO. AS MINHAS QUALIDADES JÁ O DIZIAM. ERA DOS MAIS CAROS” “DE ONDE EU SAÍ NINGUÉM DÁ NADA DE MÃO BEIJADA. CRESCI NUM SÍTIO COM DIFICULDAD­ES, SEM ÁGUA”

clube. Graças a Deus, tenho essa ligação. Estou muito orgulhoso pela possibilid­ade de servir o Benfica pelos cantos de África.

Que diferenças encontra entre este Benfica e aquele de há 20 anos?

M – É tudo diferente. A organizaçã­o, os jogadores... Gostava de ter contado com estes jogadores quando estava no Benfica. Hoje, tudo funciona. Há um centro de estágio, que pode ser dos melhores do Mundo. As pessoas pensavam que era uma miragem, hoje é uma realidade. As pessoas admiram-se quando entram. Está aí o centro de estágio, é uma realidade. Já formou grandes jogadores e alguns já saíram. O Benfica dá todas as condições do Mundo, de ponta. Gostaria de ter essas condições quando joguei no Benfica. Podia voar. Passava pelos outros sem eles perceberem que já tinha passado [risos]. O Benfica tem de aproveitar as camadas jovens. Os jogadores têm de honrar e suar a camisola.*

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