O dia em que a culpa deixou de ser da covid
A equipa que ia arrasar e jogar o triplo nunca apareceu e até a sua versão ‘soft’, que chegou a entusiasmar alguns espíritos pouco dados à reflexão – lembram-se do reforço acabado de desembarcar e que já valia 150 milhões? –, cedo se esfumou, criando um cenário de desolação que parecia impossível perante o enorme investimento realizado e a reconhecida capacidade do treinador.
Para o pelotão de fuzilamento
de que o Benfica dispõe dentro da própria casa, a metralha distribuiu-se por Vieira e por Jesus – hoje, alargou-se à estrutura. Sempre incomodada quando as coisas correm mal a um dos três grandes suportes disto tudo, a opinião emitida e publicada procurou, e encontrou, um culpado de peso para conduzir ao cadafalso: a pandemia. E tivemos sorte, pois Jorge Jesus, ultrapassado o ataque trai- çoeiro da Covid, foi podendo preparar os jogadores e, a pouco e pouco, as exibições melho- raram – não por aí além, mas melhoraram.
As circunstâncias foram igualmente amigas
e alguns imponderáveis ajudaram a que seis vitórias e zero golos sofridos proporcionassem um desanuviamento da pressão. Com
VAI LONGE O TEMPO EM QUE A OPINIÃO EMITIDA E PUBLICADA ENCONTROU UMA RAZÃO PARA O MAU DESEMPENHO BENFIQUISTA. AGORA, VAI SER PRECISO CRIATIVIDADE PARA ARRANJAR OUTRA
ela, tentou fazer-se da fixação do objetivo secundário, mas im- portantíssimo, da qualificação direta para a Liga dos Campeões a salvação da época. E os mesmos espíritos pouco dados à reflexão de que vos falei atrás logo se adiantaram no foguetó- rio e nas canas, porque nunca fazem a coisa por menos: cá estava a maravilhosa equipa que Jorge Jesus prometera à turba.
ALGUÉM ACREDITA QUE CRISTIANO FIQUE NA JUVE SE A EQUIPA NÃO JOGAR A CHAMPIONS?
Mas bastou uma visita do Gil Vicente à Luz,
um novo desempenho do Benfica ao nível da era mais avassaladora do co- ronavírus e uma derrota estrondosa e sem espinhas – até o golo dos de Barcelos tiveram de ser eles a marcá-lo – para voltarmos a ficar pendurados com as explicações para a crise que, afinal, não tinha terminado. E agora? Pela minha parte, simples observador do fenómeno, confesso não dispor da criatividade necessária para apontar outras razões para o descalabro encarnado. E o pior, não para mim e sim para os benfiquistas, é que Jesus também não.
Grande campeonato em França,
com os quatro primeiros separados por três pontos e Gelson Martins a regressar ao seu patamar. Pena que o Lille, com quatro portugueses, não revele aquele espírito competitivo, intenso e regular, sem o qual não há campeões. Já em Itália, com seis candidatos aos quatro lugares de acesso à Champions, a Juventus está cada vez mais apertada e a jogar horrores. Começo a acreditar que Cristiano possa sair: alguém o imagina longe do seu palco principal?
Feliz por Jesualdo Ferreira,
de 74 anos, que com sete pontos nos últimos três jogos arrancou o Boavista aos infernos. E por Beto, que faz 39 dentro de dias e que na baliza do Farense continua a mostrar a sua imensa qualidade. É definitivo: velhos são os trapos.
O parágrafo final vai para o judo
e para os nossos medalhados no Europeu, com natural destaque para Telma Monteiro, campeã europeia pela sexta vez e que conquistou a sua 15.ª medalha individual nos campeonatos. É um orgulho, chapeau!