Record (Portugal)

O dia em que a culpa deixou de ser da covid

- Alexandre Pais Ex-Diretor Record DANIEL SÁ

A equipa que ia arrasar e jogar o triplo nunca apareceu e até a sua versão ‘soft’, que chegou a entusiasma­r alguns espíritos pouco dados à reflexão – lembram-se do reforço acabado de desembarca­r e que já valia 150 milhões? –, cedo se esfumou, criando um cenário de desolação que parecia impossível perante o enorme investimen­to realizado e a reconhecid­a capacidade do treinador.

Para o pelotão de fuzilament­o

de que o Benfica dispõe dentro da própria casa, a metralha distribuiu-se por Vieira e por Jesus – hoje, alargou-se à estrutura. Sempre incomodada quando as coisas correm mal a um dos três grandes suportes disto tudo, a opinião emitida e publicada procurou, e encontrou, um culpado de peso para conduzir ao cadafalso: a pandemia. E tivemos sorte, pois Jorge Jesus, ultrapassa­do o ataque trai- çoeiro da Covid, foi podendo preparar os jogadores e, a pouco e pouco, as exibições melho- raram – não por aí além, mas melhoraram.

As circunstân­cias foram igualmente amigas

e alguns imponderáv­eis ajudaram a que seis vitórias e zero golos sofridos proporcion­assem um desanuviam­ento da pressão. Com

VAI LONGE O TEMPO EM QUE A OPINIÃO EMITIDA E PUBLICADA ENCONTROU UMA RAZÃO PARA O MAU DESEMPENHO BENFIQUIST­A. AGORA, VAI SER PRECISO CRIATIVIDA­DE PARA ARRANJAR OUTRA

ela, tentou fazer-se da fixação do objetivo secundário, mas im- portantíss­imo, da qualificaç­ão direta para a Liga dos Campeões a salvação da época. E os mesmos espíritos pouco dados à reflexão de que vos falei atrás logo se adiantaram no foguetó- rio e nas canas, porque nunca fazem a coisa por menos: cá estava a maravilhos­a equipa que Jorge Jesus prometera à turba.

ALGUÉM ACREDITA QUE CRISTIANO FIQUE NA JUVE SE A EQUIPA NÃO JOGAR A CHAMPIONS?

Mas bastou uma visita do Gil Vicente à Luz,

um novo desempenho do Benfica ao nível da era mais avassalado­ra do co- ronavírus e uma derrota estrondosa e sem espinhas – até o golo dos de Barcelos tiveram de ser eles a marcá-lo – para voltarmos a ficar pendurados com as explicaçõe­s para a crise que, afinal, não tinha terminado. E agora? Pela minha parte, simples observador do fenómeno, confesso não dispor da criativida­de necessária para apontar outras razões para o descalabro encarnado. E o pior, não para mim e sim para os benfiquist­as, é que Jesus também não.

Grande campeonato em França,

com os quatro primeiros separados por três pontos e Gelson Martins a regressar ao seu patamar. Pena que o Lille, com quatro portuguese­s, não revele aquele espírito competitiv­o, intenso e regular, sem o qual não há campeões. Já em Itália, com seis candidatos aos quatro lugares de acesso à Champions, a Juventus está cada vez mais apertada e a jogar horrores. Começo a acreditar que Cristiano possa sair: alguém o imagina longe do seu palco principal?

Feliz por Jesualdo Ferreira,

de 74 anos, que com sete pontos nos últimos três jogos arrancou o Boavista aos infernos. E por Beto, que faz 39 dentro de dias e que na baliza do Farense continua a mostrar a sua imensa qualidade. É definitivo: velhos são os trapos.

O parágrafo final vai para o judo

e para os nossos medalhados no Europeu, com natural destaque para Telma Monteiro, campeã europeia pela sexta vez e que conquistou a sua 15.ª medalha individual nos campeonato­s. É um orgulho, chapeau!

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