A implosão
Não sei se a Superliga irá para a frente. Provavelmente não, tendo em conta o coro de protestos generalizados que surgiram, a todos os níveis, mesmo nas mais altas instâncias políticas e comunitárias.
O rancho está, contudo, levantado,
para todos os efeitos, e, o que mais assusta, é que o chefe da cantina não tem força para pôr os insurrectos na ordem.
Dois desfechos são então possíveis. Ou a dissidência vinga e passarão a existir dois futebóis,
dos ricos, estilo All-Stars, e o dos não ricos, que manterá provavelmente o formato tradicional, com uma convivência garantidamente crispada.
Pode ser que haja alguém com engenho e arte
para desarmadilhar o motim, mas, na minha previsão, a UEFA, mesmo fazendo voz grossa, irá ter de ceder em muitas frentes, antes de alcançar o armistício.
E não se pense que é só a questão do dinheiro.
O dinheiro pesa, claro, mas também está em causa o excesso de jogos “desinteressantes”, ou seja, que não rendem e só desgastam, coisa que os doze do apocalipse procuram descartar com o modelo sua Superliga.
Não sei como vai acabar,
o
mas sei de algumas coisas que vão acontecer.
A primeira é que o presidente da UEFA,
que não soube domar as feras, deixando consumar-se o espectro da autogestão, com elevada probabilidade, vai à vida e não deixa grandes saudades; nestas crises, alguém tem sempre de pagar as favas e ele é forte candidato.
A segunda é que, de uma forma ou de outra,
são más notícias para o futebol português e, em geral, para o mundo dos remediados, que nós integramos. A Champions permitia a ilusão de jogar nos palcos míticos da
AGORA OS JOGOS QUE CONTAM E O DINHEIRO QUE CONTA
excelência, e de, ocasionalmente lhe fazer frente, mas agora os jogos que contam e o dinheiro que conta deixam de passar por Portugal.
Sugiro que revejam a série que passou na Netflix,
sobre as origens do futebol e que se chama ‘The English Game’, ilustrando a força de um desporto igualitário que derrubava todas as barreiras sociais, políticas e raciais, como nenhum soviete nunca conseguiu.
Esse futebol é como o teclado azert.
Deixa saudades, mas só existe nas nossas memórias.
Vai levar muito tempo a colar os cacos.