Record (Portugal)

A implosão

- Carlos Barbosa da Cruz Advogado

Não sei se a Superliga irá para a frente. Provavelme­nte não, tendo em conta o coro de protestos generaliza­dos que surgiram, a todos os níveis, mesmo nas mais altas instâncias políticas e comunitári­as.

O rancho está, contudo, levantado,

para todos os efeitos, e, o que mais assusta, é que o chefe da cantina não tem força para pôr os insurrecto­s na ordem.

Dois desfechos são então possíveis. Ou a dissidênci­a vinga e passarão a existir dois futebóis,

dos ricos, estilo All-Stars, e o dos não ricos, que manterá provavelme­nte o formato tradiciona­l, com uma convivênci­a garantidam­ente crispada.

Pode ser que haja alguém com engenho e arte

para desarmadil­har o motim, mas, na minha previsão, a UEFA, mesmo fazendo voz grossa, irá ter de ceder em muitas frentes, antes de alcançar o armistício.

E não se pense que é só a questão do dinheiro.

O dinheiro pesa, claro, mas também está em causa o excesso de jogos “desinteres­santes”, ou seja, que não rendem e só desgastam, coisa que os doze do apocalipse procuram descartar com o modelo sua Superliga.

Não sei como vai acabar,

o

mas sei de algumas coisas que vão acontecer.

A primeira é que o presidente da UEFA,

que não soube domar as feras, deixando consumar-se o espectro da autogestão, com elevada probabilid­ade, vai à vida e não deixa grandes saudades; nestas crises, alguém tem sempre de pagar as favas e ele é forte candidato.

A segunda é que, de uma forma ou de outra,

são más notícias para o futebol português e, em geral, para o mundo dos remediados, que nós integramos. A Champions permitia a ilusão de jogar nos palcos míticos da

AGORA OS JOGOS QUE CONTAM E O DINHEIRO QUE CONTA

excelência, e de, ocasionalm­ente lhe fazer frente, mas agora os jogos que contam e o dinheiro que conta deixam de passar por Portugal.

Sugiro que revejam a série que passou na Netflix,

sobre as origens do futebol e que se chama ‘The English Game’, ilustrando a força de um desporto igualitári­o que derrubava todas as barreiras sociais, políticas e raciais, como nenhum soviete nunca conseguiu.

Esse futebol é como o teclado azert.

Deixa saudades, mas só existe nas nossas memórias.

Vai levar muito tempo a colar os cacos.

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