“Sindicato não pode ser oportunidade de negócio”
Líder dos jogadores desde 2004, o dirigente de 54 anos tem pela primeira vez concorrência nas eleições, que se realizam amanhã. As desconfianças sobre a lista rival fazem-no avançar para novo mandato, que garante ser o último
Está há 17 anos na presidência do Sindicato de Jogadores e concorre a novo mandato. Porquê?
JE – Exatamente porque aparece esta candidatura. Estava a pensar sair no fim do último mandato. Dei 17 anos ao Sindicato, sempre a 100 por cento, e quero fazer mais coisas na minha vida. Estava a preparar o futuro quando emergiu uma candidatura desconhecida, sem um projeto. Não vejo naquelas pessoas a qualidade para assegurar a continuidade do Sindicato ao nível que existe hoje. Os próprios jogadores exigiram-me que fizesse a defesa deste projeto, garantindo que a continuidade será feita por quem tem qualidade. Não foi por acaso que convidei o Tarantini para vice-presidente com o pelouro da educação. Vamos criar a Player’s Football School, que será um ‘chapéu’ para as várias medidas na área da formação. Queremos que os jogadores tenham condições laborais, mas também condições para se formarem integralmente como homens. Queremos que sejam esse tipo de jogadores que deem continuidade a este projeto, que se identifiquem com esta visão, o Sindicato não pode regredir e ser uma oportunidade de negócio.
Achaque a outra lista vê o Sindicato como um negócio?
J E–Acho, porque não reconheço às pessoas que estão na outra lista nenhuma qualidade na defesa dos jogadores.Desconheço o pensamento desportivo doIbrahi ma e da Ti ta, salvo o devido respeito. Conheço o da Carla Couto, que desde 2012 tem dado a cara, tem ido aos balneários, percorrido o País, defendi doas jogadoras… Conheço o da Edite[ Fernandes ], da Mic as[ Mica ela Matos]… Não seio que as pessoas da outra lista ambicionam par aos jogadores. Não está em causa a legitimidade, atenção. Mas foram 17 anos e toda agentes abequeméo Joaquim Evangelista. Dei sempre a cara, estive sempre lá, sobretudo ao lado dos jogadores mais carenciados. Queremos que o Sindicato mantenha duas coisas: competência e independência relativamente aos agentes desportivos.
É a primeira vez que tem concorrência numas eleições. Porqueé que aconteceu?
JE – Acho muito estranho. Nunca me impus a ninguém. Quando fui cooptado para ser presidente do Sindicato fiquei assustado, sou uma pessoa reservada e tímida. Assumi a presidência em 2004. E um dos primeiros atos formais que tive foi ir a Alcochete, onde estava a Seleção, durante o Euro’2004. Tremia por todos os lados. Cheguei ao pé dos jogadores, apresentei-me e disse‘ Venho aqui para dar a cara, só vos peço que me deem o benefício da dúvida’. Não assumi o Sindicato de forma escondida. Abdiquei de uma carreira profissional, pois fui dos primeiros advogados de Direito Desportivo em Portugal, sou membro da FIFA, estou no conselho estratégico da UEFA. Podia ser agente, trabalhar num clube, mas dediquei-me ao Sindicato porque gosto do que faço e sinto orgulho no que fiz, porque acho que fiz a diferença. Tive sempre dos jogadores plena confiança, acho que sempre olharam para o Sindicato de forma credível e confiável.
E é por isso que continua?
JE – Há poucas pessoas na vida que oiço,m asas que oiço sãoim portantes. E há meia dúzia de jogadores que oiço com muita atenção, mesmo discordando deles. Também me aconselhei com capitães de equipa. E todos foram unânimes a dizer ‘Joaquim, tens de ser tu agora, sobretudo neste momento, em que está a ser posto em causa o projeto do Sindicato’. Sei o desgaste que tive, o que dei ao Sindicato e o que quero para o meu futuro. É um ciclo que se encerra, este será o meu último mandato e nada me fará mudar de ideias. Quero que haja uma continuidade, envolvendo jogadores de diversos quadrantes na vida ativa do Sindicato, para que haja uma transição positiva. Preciso de tempo para a minha família. Durante estes anos, divorciei-me, criei dois filhos que ficaram a meu cargo… É outra coisa que me incomoda: há muita gente que invoca a sua condição social para se afirmar. Eu sempre procurei afirmar-me pela competência. Vim de Bragança, os meus pais são humildes, tive de trabalhar para me formar, fui vigilante, paguei os meus estudos, a minha mãe sacrificou-se… e não me queixo. Esta pandemia levou-me a questionar isso: o trabalho é tudo? E estou convencido de que no próximo ato eleitoral vai aparecer gente com maior capacidade.
As pessoas da outra lista falaram consigo antes de avançar?
JE – Falaram comigo quando foi lançado o movimento ‘Futebol para a Vida’. Quando constatei quem eram as pessoas que lá estavam afastei-me, porque não me revejo nesse proje to. A choque tudo o que seja solidariedade é louvável e tem a nossa disponibilidade. Mas a partir do momento em que vi que havia pessoas naquele movimento com quem não me identificava, que achava que eram perigosas para o futebol português, afastei-me.
Quem são essas pessoas?
JE – Não interessa. O próprio Ibra esteve numa iniciativa nossa, o estágio para jogadores desempregados, e diz bem do Sindicato e do presidente. Acho que fui eu que tratei da legalização dele. Vejo surpreendentemente um alista com base no ‘Futebol para a Vida’, que cavalga essa onda. É preciso olhar para quem lá está: alguém que te
“ESTE SERÁ O MEU ÚLTIMO MANDATO E NADA ME FARÁ MUDAR DE IDEIAS. QUERO QUE HAJA UMA CONTINUIDADE”
“AFASTEI-ME DO ‘FUTEBOL PARA A VIDA’ QUANDO VI QUE TINHA PESSOAS PERIGOSAS PARA O FUTEBOL PORTUGUÊS”
nha feito a diferença relativamente aos jogadores?
Se alguém cria um alista al terna tivaé porque não está satisfeito.
JE – Acho que não tem nada a ver com o interesse dos jogadores e das joga dor as.Éa minha opinião. Há muita gente que está associada a estes movimentos, desde empresários e treinadores, que revelam muito sobre a independência – ou não–dessa alternativa. Preocupa-merelativamente ao futuro. O que quero é que avance um conjunto de jogadores que têm condições para fazer a diferença. Não quer dizer que a outra lista não tenha legitimidade, mas a oportunidade e a forma como o estão a fazer, pondo em causa o Sindicato, incomoda-me. As ideias que se conhecem e a visão deles para a defesa dos jogadores no presente e no futuro são muito curtas, não é uma candidatura que tenha um projeto sólido.