Record (Portugal)

“FOMOS CALANDO MUITAS BOCAS AO LONGO DA ÉPOCA”

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O título ainda está ‘fresco’, foi conquistad­o há uma semana: já têm noção daquilo que alcançaram ou acham, como disse o capitão Coates, que o tempo é que vai fazer jus a este troféu?

JM – Concordo com o que o Coates disse. Com os festejos a seguir ao jogo já deu para sentir um pouco desta conquista, não só a nós, mas também aos adeptos, ainda que só o tempo nos fará perceber o que realmente conseguimo­s, o significad­o depois de 19 anos sem que o Sporting fosse campeão.

O lema era o ‘jogo a jogo’, foram reforçando que partiram atrás dos outros candidatos, FC Porto e Benfica, mas imaginamos um balneário que foi acreditand­o cada vez mais. Em que momento é que sentiu que o sonho passou a objetivo concretizá­vel?

JM – Houve vários momentos importante­s durante a época, que fizeram com que acreditáss­emos cada vez mais: lembro-me da vitória na Madeira, contra o Nacional [2-0, na 15ª jornada], pelo que aconteceu no jogo, pelas condições [atmosféric­as e do relvado], percebia-se que a equipa tinha capacidade e mentalidad­e para ser campeã. Mas talvez a vitória importante tenha sido em Braga [0-1]. Foi uma vitória perfeita e decisiva. Durante a época o pensamento estava certo: pensar jogo a jogo, acreditand­o, porém, que podíamos ser campeões.

Falou no jogo em Braga, em que o Sporting fica a jogar com menos um logo aos 18’, por expulsão do Gonçalo Inácio. Que mensagem foi importante passar depois desse cartão?

JM – Esse jogo foi o espelho daquilo de que foi a época, independen­temente das condições que apanhámos na Madeira [contra o

Nacional] e na Taça da Liga [final four em Leiria], onde não dava para jogar. A equipa estava preparada para tudo o que viesse. Com dez, com tempestade­s, com os campos maus, soubemos sempre ter a mentalidad­e certa.

Saíram do Estádio do Dragão, logo à 21.ª jornada, com 10 pontos de vantagem para o 2.º classifica­do. Como é que geriram as expectativ­as, perante a distância, não só na classifica­ção, mas para o final do campeonato?

JM – Se vais jogar ao Dragão já na segunda volta e empatas, é normal que nos sintamos confortáve­is. São 10 pontos para o 2º classifica­do, acreditas que o título podia estar perto, mas também sabíamos que seria impossível o Sporting ser campeão sem sofrimento, pela história do clube, por tudo o que passou… Não é fácil ser campeão em Portugal, competindo contra o FC Porto e o Benfica. Não acho que esse tenha sido um momento decisivo, porque ainda faltavam muitos jogos.

Depois desse empate, o Sporting só voltaria a ceder terreno numa das fases mais difíceis que passou, quando perdeu 6 pontos, fruto de três empates (Moreirense, Famalicão e Belenenses SAD) num espaço de 4 jogos. Qual o segredo para ‘agarrar’ uma equipa inexperien­te?

JM – Quando empatas três jogos e se fala do momento menos positivo da época, é bom sinal, porque fora o jogo recente, contra o Benfica, ainda não tínhamos perdido. Mas é estranho porque foram três jogos nos quais jogámos muito bem. Por exemplo, contra Moreirense sofremos perto dos 90’ e no único remate que eles fizeram à baliza. Tivemos sempre calma porque sabíamos que estávamos a jogar bem e que tínhamos de continuar. O jogo em Braga depois desses empates foi decisivo, mas no seio da equipa havia poucas coisas que pudéssemos corrigir ou melhorar, porque tínhamos a sensação de que estávamos a fazer quase tudo bem. Foi o momento em que menos sorte tivemos em toda a época.

Num desses empates, com o Belenenses SAD, até falhou um penálti antes do intervalo. Lembra-se do que sentiu – e do que sentiu a equipa – nesse 2-2?

JM – Os jogadores mais velhos foram sempre preparando toda a equipa no sentido de dizer ‘atenção que isto não vai ser sempre fácil até ao fim’, ‘atenção que vai haver momentos em que até podemos perder pontos, mas nos quais não podemos tremer’. Passámos especialme­nte para os mais jovens, esse foi o segredo. Ninguém achou que após empatar [0-0] no Dragão estava feito. Quando empatámos aquela série de jogos, estávamos a jogar bem e as equipas faziam golos com poucos remates. Foram momentos em que precisámos de manter a calma.

Nos bastidores do jogo do título, contra o Boavista, Rúben Amorim pediu-vos para não sofrerem com o jogo, mas para se divertirem e desfrutare­m. Foi a abordagem certa e que reflete o que se passou em toda a época?

JM – A mensagem do míster não foi só nesse jogo, foi em todos. Não queria uma equipa que jogasse com demasiada pressão e que sofresse, mas uma equipa alegre e que se divertisse em campo. Já que não havia público, era algo que ele fazia questão. Quanto à semana, preparámo-la da mesma forma que as outras, sabíamos que tínhamos alguma bagagem e não sendo com o Boavista, tínhamos ainda o jogo com o Benfica ou com o Marítimo. É óbvio que havia ansiedade, pois mal seria não haver, com o Sporting a poder ser campeão a três jornadas do fim. Foi um jogo onde, talvez por essa ansiedade, não conseguimo­s concretiza­r as muitas oportunida­des que criámos. Sabíamos que havia a festa preparada, é normal. Ainda assim, sabíamos que, primeiro, tínhamos de ganhar o jogo.

O que sentiu ao ouvir o apito final no Sporting-Boavista?

JM – Foi incrível. Desde 2016, quando não fomos campeões com 86 pontos… Foi uma época frustrante, quase perfeita. Acabar sem o título foi demasiado triste, por isso, a primeira coisa em que pensei foi ‘é fantástico, cinco anos depois’. Ninguém acreditava na equipa, fomos calando muitas bocas ao longo da época, porque fomos humildes e trabalhámo­s sempre de forma séria.

“VITÓRIA EM BRAGA FOI PERFEITA E DECISIVA. FOI O ESPELHO DO QUE FOI A ÉPOCA: A EQUIPA ESTAVA PREPARADA PARA TUDO”

“2016 FOI UM ANO FRUSTRANTE. POR ISSO, O QUE PENSEI APÓS O BOAVISTA FOI: ‘É FANTÁSTICO, CINCO ANOS DEPOIS’”

A derrota com o Benfica, que encerrou a invencibil­idade do Sporting na Liga, abalou-vos?

JM –Foi pena ter sido contra o Benfica, no jogo a seguir ao título, porque não há dérbis a brincar, os jogos com o Benfica nunca o são. Tentámos encarar o jogo da forma mais séria possível, mas foi uma semana complicada, porque ganhámos, festejámos e não conseguimo­s recuperar para o jogo da melhor maneira. Não há desculpas.

Acima de tudo, realçar que mesmo com o 4-1 lutámos até ao final e encurtámos o resultado para 4-3. E por pouco não empatámos… Só uma equipa com mentalidad­e muito forte o conseguiri­a fazer. Perdemos a invencibil­idade, mas a sensação que ficou foi a certeza de que éramos uns verdadeiro­s campeões. *

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