O ‘Fica Sérgio’ aos olhos do próprio
SE ANDRÉ VILLAS-BOAS FAZ DEPENDER A SUA FUTURA CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA DO FCP DE UMA “ESCOLHA UNÂNIME E ARREBATADORA”, IMAGINO QUE TAMBÉM CONCEIÇÃO NÃO QUEIRA MENOS DO QUE ISSO PARA CONTINUAR NOS AZUIS E BRANCOS
No passado domingo, Vítor Pinto lançou o mote da campanha do ‘Fica Sérgio’ e logo no dia seguinte André Villas-Boas (AVB) pegou na bola e seguiu a jogada, ao endossar a Sérgio Conceição (SC) o seu apoio. Como o Vítor bem recordava, SC recuperou o FCP do aterro em que estava instalado em 2017, mas com um custo e desgaste de imagem brutal.
AVB afirmou que o caminho mais fácil para o clube será o da renovação com SC… mas e para ele, será assim? Acompanho a carreira de SC como treinador desde o seu início e tenho para mim que sendo já um dos melhores treinadores portugueses, (quase) tudo tem do ponto de vista do conhecimento técnico, tático e motivacional para ser um dos melhores treinadores europeus e mundiais nas próximas décadas.
SC é um líder que tudo dá na defesa dos seus e da camisola. Pelo que exige, no mínimo, igual tratamento. Digo no mínimo, porque também o reconhecimento, gratidão e a devida valorização pelos feitos por si alcançados são fatores decisivos ao seu bem-estar emocio- nal e felicidade profissional.
À distância de quem não o conhece, apenas posso especular sobre os três possíveis cenários com que SC se possa presente- mente deparar: continuidade no FCP, saída para estrangeiro ou um período sabático.
A sua continuidade no FCP tem de ser acompanhada por um esforço de ambas as partes. Se AVB faz depender a sua futu- ra candidatura à presidência do
CONCEIÇÃO RECUPEROU O FCP DO ATERRO EM QUE ESTAVA INSTALADO EM 2017, MAS COM DESGASTE
FCP de uma “escolha unânime e arrebatadora”, imagino que também SC não queira menos para continuar (seja tanto inter- namente ao nível da estrutura dirigente, como externamente em toda a nação portista).
Contudo, para que tal aconte- ça, haverá momentos no futu- ro que o comportamento temperamental de SC terá de ser refreado pelo próprio ou por quem o acompanha. Só assim os sócios e adeptos do FCP sentirão um verdadeiro e arrebatador orgulho do treinador que têm, em toda a sua plenitude e não se sentirão embaraçados aqui e acolá por determinados comportamentos ou palavras.
SC é um homem financeiramente independente e acredito que o chamamento do estrangeiro não o entusiasme só pela vertente financeira.
Contudo, para chegar a um projeto de primeira linha na Europa das ‘Big Five’ em que possa ambicionar títulos, terá também aí de moderar o seu temperamento. Nos critérios de recrutamento de treinador, não vejo os grandes clubes europeus a aceitarem a explosiva inteligência emocional de SC como pouco relevante.
É aqui que SC, chegado a uma potencial encruzilhada, entre manter-se num local em que não é devidamente reconhecido e desejado ou um outro em que não lhe permita lutar pela glória de títulos relevantes, poderá equacionar parar para pensar, limar as poucas arestas que lhe faltam, ampliar e renovar os seus conhecimentos, limpar o desgaste de imagem recente e potenciar o seu conhecimento para outros voos merecidos e ao seu alcance. Parte boa da ‘estória’... só depende dele próprio!