Começar de novo?
O Benfica desta temporada não é nem a equipa desinspirada que se apresentou durante meses, nem a equipa com dinâmica de vitória que disputou a segunda volta. Na verdade, há um pouco das duas equipas no Benfica 2020/21. Agora que chegou o momento de planear a próxima época, convém fazer um diagnóstico preciso destes dois Benficas e dos motivos para o falhanço desportivo colossal deste ano. Se o exercício não for feito, o mais provável é que se repitam os erros.
Esqueçam as arbitragens
e até a Covid. No essencial, o Benfica falhou rotundamente por demasiados equívocos táticos e nas escolhas individuais e por ter um plantel mal estruturado. Esperemos que, por uma vez, o treinador atenue a soberba e tenha a humildade de aprender com os próprios erros e que o plantel seja construído com base numa ideia de jogo e não com perspetivas de negócios futuros.
Na defesa, com três centrais
de qualidade, a questão é saber se o sistema de três é mesmo uma opção ou foi uma forma de acomodar Otamendi, Vertonghen e Veríssimo no onze. Se for opção, mesmo com a aposta em Morato, vai ser necessário mais um jogador. Nas laterais, se não ocorrerem saídas, com André Almeida e Diogo Gonçalves há soluções à direita, o que não existe é nenhuma alternativa a Grimaldo.
O essencial dos problemas
radica no meio-campo. Infelizmente, não é de agora. Para jogar com dois médios, é necessário ter um ‘6’ e um ‘8’ com perfis completamente distintos dos disponíveis. Faz pouco sentido com o sistema de Jesus jogar Taarabt a ‘8’ e devemos perguntar-nos qual o motivo para termos ido contratar Pedrinho por 18 milhões. No campeonato português, jogadores deste valor têm de provocar impacto imediato e ter um perfil coerente com a forma de jogar da equipa. Infelizmente, há demasiados exemplos de que nem sempre é isso que norteia as contratações. Com Pizzi (que no plantel atual tem de ser titular indiscutível), Rafa e Everton, falta mais alguém para as alas. Ou seja, é necessário um ‘6’, um ‘8’ e um ala de qualidade.
No ataque, não é fácil
perceber a troca de Vinícius por Darwin (um jogador de enorme potencial, mas ainda muito longe da maturidade) e Waldschmidt tem condições para ser o elo de ligação ofensivo que tem faltado desde a saída de Félix (tenha o alemão oportunidades e estabilidade). Contudo, mantendo-se Seferovic e Darwin, continua a faltar mais um segundo avançado.
Se a equipa desta temporada
não é nem tão má como chegou a parecer, nem tão dominadora como se propagandeia, então o plantel não tem de ser reestruturado radicalmente. Há, como é óbvio, necessidade de mudanças, mas o Benfica não precisa de começar de novo. Resta saber se há, de facto, quem seja responsável pelo planeamento da época desportiva.