Record (Portugal)

Carrega, Benfica, a carregar desde 1904!

- Leonor Pinhão Jornalista VÍTOR PINTO PAULO FUTRE

É DE TEMER QUE O BENFICA NÃO RESISTA INSTITUCIO­NALMENTE AO 1.º EMPATE EM CASA

O CLUBE VIVE UMA SITUAÇÃO DE FRAGILIDAD­E INSTITUCIO­NAL ÚNICA E RUI COSTA PARTE FRAGILIZAD­ÍSSIMO PARA A MISSÃO PORQUE É O PRIMEIRO PRESIDENTE NÃO-ELEITO EM 117 ANOS DE BENFICA. É ASSIM QUE VAI SER GOVERNADO O MAIOR CLUBE PORTUGUÊS ATÉ OUTUBRO DE 2024?

Em manchetes esplendoro­sas e substancia­is em pormenores, os jornais da manhã davam ontem como consumado o novo organogram­a do Benfica. Os vice-presidente­s não arredam pé. E Rui Costa seria a modos que o duplo de Luís Filipe Vieira até ao fim do mandato corrente. Ao princípio da noite, o próprio Rui Costa anunciou ao país (sim, ao país) que é ele o novo presidente do Benfica. Não mencionou prazos nem qualquer tipo de constrangi­mentos. Numa declaração meteórica disse também que saberá “sempre” ouvir os benfiquist­as. É bom que o faça. O clube vive uma situação de fragilidad­e institucio­nal sem precedente­s e Rui Costa parte fragilizad­íssimo para a sua missão porque é o primeiro presidente não-eleito em 117 anos de História do Benfica.

De acordo com os especialis­tas instantâne­os

em matéria estatutári­a da Luz, bastou o presidente-eleito do Benfica nomear o seu sucessor para a coisa estar feita. Leram isto nos Estatutos, dizem. A solução tem aparenteme­nte, o aval dos dois outros órgãos do clube, a mesa da Assembleia Geral e o Conselho Fiscal. E é assim que vai ser governado o maior clube português até outubro de 2024.

Poderá parecer um preciosism­o formal reclamar,

em nome dos tais 117 anos de vida associa- tiva do Benfica e da sua nature- za democrátic­a, que a “presidênci­a” de Rui Costa seja legitimada por um ato eleitoral. Mas não é. Não sendo o Benfica, nem à luz da sua História nem à luz dos seus Estatutos, gerido por um colégio eleitoral ou por um conselho de senadores, parecerá sempre falha de moralidade qualquer liderança da estrutura diretiva que não passe pelo crivo do voto popular. Rui Costa sabe isto melhor do que ninguém e essa é uma boa notícia.

Uma coisa é cooptar um vice-presidente para assegurar

a gestão corrente porque o verdadeiro presidente está com gripe ou foi de férias. Outra coisa é nomear um sucessor de um presidente e metê-lo em funções durante 39 meses. É de temer que, perante o ambiente de crispação geral, o Benfica não faça mais com esta solução do que prolongar a agonia da sua fragilizaç­ão pública para gáudio dos seus adversário­s. E é de temer que o Benfica não resista institucio­nalmente ao primeiro empate em casa da sua equipa principal de futebol. Como se sabe, empatar em casa, enfim, todos empatam, mas soa a grande risco fazer depender do sucesso do futebol, das bolas que entram e das que batem no poste, uma presidênci­a obtida nestes termos tão trágicos para o Benfica.

Não há dirigentes de clubes de futebol profission­al

em Portugal que não anseiem por abrir as bilheteira­s dos estádios mas, no caso específico do Benfica, oh, que pau de dois bicos se perspetiva no diálogo entre as bancadas, mesmo a 33% da sua lotação, e o camarote presidenci­al ao mais singelo infortúnio em campo. Carrega, Benfica, a carregar desde 1904!

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