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É DE TEMER QUE O BENFICA NÃO RESISTA INSTITUCIONALMENTE AO 1.º EMPATE EM CASA
O CLUBE VIVE UMA SITUAÇÃO DE FRAGILIDADE INSTITUCIONAL ÚNICA E RUI COSTA PARTE FRAGILIZADÍSSIMO PARA A MISSÃO PORQUE É O PRIMEIRO PRESIDENTE NÃO-ELEITO EM 117 ANOS DE BENFICA. É ASSIM QUE VAI SER GOVERNADO O MAIOR CLUBE PORTUGUÊS ATÉ OUTUBRO DE 2024?
Em manchetes esplendorosas e substanciais em pormenores, os jornais da manhã davam ontem como consumado o novo organograma do Benfica. Os vice-presidentes não arredam pé. E Rui Costa seria a modos que o duplo de Luís Filipe Vieira até ao fim do mandato corrente. Ao princípio da noite, o próprio Rui Costa anunciou ao país (sim, ao país) que é ele o novo presidente do Benfica. Não mencionou prazos nem qualquer tipo de constrangimentos. Numa declaração meteórica disse também que saberá “sempre” ouvir os benfiquistas. É bom que o faça. O clube vive uma situação de fragilidade institucional sem precedentes e Rui Costa parte fragilizadíssimo para a sua missão porque é o primeiro presidente não-eleito em 117 anos de História do Benfica.
De acordo com os especialistas instantâneos
em matéria estatutária da Luz, bastou o presidente-eleito do Benfica nomear o seu sucessor para a coisa estar feita. Leram isto nos Estatutos, dizem. A solução tem aparentemente, o aval dos dois outros órgãos do clube, a mesa da Assembleia Geral e o Conselho Fiscal. E é assim que vai ser governado o maior clube português até outubro de 2024.
Poderá parecer um preciosismo formal reclamar,
em nome dos tais 117 anos de vida associa- tiva do Benfica e da sua nature- za democrática, que a “presidência” de Rui Costa seja legitimada por um ato eleitoral. Mas não é. Não sendo o Benfica, nem à luz da sua História nem à luz dos seus Estatutos, gerido por um colégio eleitoral ou por um conselho de senadores, parecerá sempre falha de moralidade qualquer liderança da estrutura diretiva que não passe pelo crivo do voto popular. Rui Costa sabe isto melhor do que ninguém e essa é uma boa notícia.
Uma coisa é cooptar um vice-presidente para assegurar
a gestão corrente porque o verdadeiro presidente está com gripe ou foi de férias. Outra coisa é nomear um sucessor de um presidente e metê-lo em funções durante 39 meses. É de temer que, perante o ambiente de crispação geral, o Benfica não faça mais com esta solução do que prolongar a agonia da sua fragilização pública para gáudio dos seus adversários. E é de temer que o Benfica não resista institucionalmente ao primeiro empate em casa da sua equipa principal de futebol. Como se sabe, empatar em casa, enfim, todos empatam, mas soa a grande risco fazer depender do sucesso do futebol, das bolas que entram e das que batem no poste, uma presidência obtida nestes termos tão trágicos para o Benfica.
Não há dirigentes de clubes de futebol profissional
em Portugal que não anseiem por abrir as bilheteiras dos estádios mas, no caso específico do Benfica, oh, que pau de dois bicos se perspetiva no diálogo entre as bancadas, mesmo a 33% da sua lotação, e o camarote presidencial ao mais singelo infortúnio em campo. Carrega, Benfica, a carregar desde 1904!