Record (Portugal)

Retoma cheia de dúvidas

No regresso às bancadas em 2021/22, quem quiser utilizar artefactos de claque terá mesmo que pedir o Cartão do Adepto

- PEDRO PONTE

Se pertence a um Grupo Organizado de Adeptos (GOA) e quer apoiar a sua equipa nos estádios, na próxima temporada, com artefactos de claque – bandeiras, tarjas ou megafones –, fique a saber que terá de ser portador do Cartão do Adepto (CA), pois só assim terá acesso às chamadas Zonas Especiais (ZCEAP). O objetivo da medida implementa­da pela Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD) passa, precisamen­te, por conter fenómenos de violência associados ao futebol mas a verdade é que as dúvidas são muitas e a contestaçã­o também sobe cada vez mais de tom, especialme­nte por parte dos GOA, as chamadas claques. A aplicação do CA foi travada pela pandemia da Covid-19, que tirou os adeptos dos estádios na época 2020/21 – que iria marcar a novidade –, mas agora, anunciada pela Liga Portugal a possibilid­ade de haver 33 por cento da lotação logo no arranque de 2021/22, o CA vai mesmo ser uma realidade e promete mudar a forma como se vai aos estádios ver um jogo de futebol ao vivo. À conversa com Record, Luís Carlos, fundador da Torcida Verde, apontou duras críticas a uma medida que considera ser “segregacio­nista” e que tem como objetivo “a morte lenta do fenómeno das claques”. “Somos completame­nte contra o CA. Sempre defendemos a necessidad­e de existir uma lei, mas não uma que torne os GOA ainda mais marginais. Era mais fácil acabar connosco! Tenham essa coragem e digam que é isso que querem. O CA vai criar guetos dentro dos estádios, é como se fôssemos animais no Jardim Zoológico”, afirma este adepto do Sporting, que diz já ter perdido a conta à quantidade de vezes que a Torcida Verde contestou a implementa­ção do CA perante as instâncias desportiva­s e governamen­tais. Na infografia ao lado é possível observar que nos estádios, nas zonas destinadas ao adeptos visitantes e aos GOA das equipas visitadas, haverá as ZCEAP, destinadas a acolher os portadores do

TORCIDA VERDE CLASSIFICA MEDIDA DE “SEGREGACIO­NISTA”; LÍDER DOS SUPER DRAGÕES É CONTRA MAS JÁ TEM O CARTÃO

CA, que poderão, por isso, utilizar bandeiras, tarjas ou megafones no apoio às equipas. Muitos consideram que a medida é desproposi­tada mas, no entanto, já têm o CA. É o caso de Fernando Madureira, líder dos Super Dragões. “Ponto número 1: somos contra! Mas, como vivemos num Estado de Direito e queremos os Super Dragões a funcionar nos mesmos moldes, temos de nos cingir a essa lei e pedir o CA. Já tenho o meu e tenho dado indicações ao resto do pessoal para também aderir. Não faz sentido haver claques sem faixas ou sem bandeiras, vai contra a nossa essência”, conta-nos Fernando Madureira, que tem mais críticas a apontar. “Em Itália esta medida durou uns 10 anos. Acredito que em Portugal também teremos o CA durante algum tempo, mas não creio que seja algo definitivo. Mas há outra coisa: é absurdo que pessoas com menos de 16 anos não possam ir para as zonas das claques. Tenho quatro filhos e só a mais nova é que tem menos de 16 anos. Se quiser levar os miúdos ao estádio ela tem de ir para outro local.”

Para já, o número de CA emitidos para 2021/22 é substancia­lmente baixo se compararmo­s com o número de adeptos que, habitualme­nte, vemos nas bancadas destinadas às claques. Mas a medida veio mesmo para ficar.

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