Europeu contracorrente
A PROATIVIDADE FOI PREMIADA COM O TRIUNFO DA RENASCIDA ITÁLIA DE MANCINI, A SELEÇÃO MAIS COMPETENTE A UNIR OS CINCO MOMENTOS DO JOGO. OLHEMOS PARA O MELHOR ONZE DE UMA COMPETIÇÃO QUE DEIXARÁ SAUDADES PELO NAMORO À NOTA ARTÍSTICA E PELAS JOGADAS CELESTIAIS, QUE CAUCIONARAM QUASE SEMPRE PARTIDAS QUE CONJUGARAM A PALAVRA GOLO NO PLURAL
Donnarumma
(Itália, 1999). O futuro guarda-redes do multimilionário PSG exibiu-se a um nível esdrúxulo, o que levou a UEFA a premiá-lo como melhor jogador da competição. Dotado de um assombroso controlo espacial da baliza, ao tirar partido de reflexos, agilidade e elasticidade, é tremendamente agressivo e sagaz nas saídas dos postes, o que lhe permite ser um especialista na resolução de situações de um contra um, mas também obstar com imperturbabilidade cruzamentos aéreos. Além disso, oferece critério nas saídas para ataque, e confirmou-se como um especialista na defesa de grandes penalidades.
Joshua Kimmich (Alemanha, 1995).A
participação da Alemanha foi uma deceção, mas o todocampista do Bayern escapou pratica- mente ileso. A partir do corredor direito, mas a pensar o jogo como um médio cerebral, arcou ações de condução e de desequilíbrio por fora e por dentro, sempre com o fito de se conectar com os colegas através de passes a diferentes distâncias e de cruzamen- tos, ao tirar partido da sua excelsa leitura do jogo e ótima tomada de decisão.
Bonucci (Itália, 1987).
Condicionado por problemas físicos chegou ao Euro num momento de forma soberbo, o que o asseverou como uma das figuras da prova. Competentíssimo no capítulo defensivo, ao recorrer a uma tremenda sagacidade posicional, a uma perspicácia mordaz na antecipação, e à mestria na imposição aérea, foi nuclear na condução e na construção de ações ofensivas, perscrutando os seus assombro- sos atributos no passe a diferentes distâncias, o que lhe permitiu alternar passes curtos e médios que visaram a entrada da bola no espaço interior, com aberturas longas determinantes para o assalto à profundidade.
John Stones (Inglaterra, 1994).
O central destro do Man. City realizou uma competição de enorme qualidade, o que permitiu que a Ingla- terra apenas sofresse dois golos em sete partidas. Longe de se im- por no capítulo físico, faz-se valer do elevado sentido posicional para cortar linhas de passe, adicionando competência na antecipação e na disputa de duelos aéreos nas duas áreas. Com bola, sente-se confortável a assumir ações de condução e de construção, o que favorece a fluidez nas saídas.
Maehle (Dinamarca, 1997).
De Spinazzola, a Shaw, passando por Zuber, Gosens, Alba, Thorgan Hazard, Zinchenko, Alaba, Guerreiro, Robertson ou Gvardiol, esta foi a competição em que mais laterais-esquerdos se destacaram, Mas nenhum se distinguiu tanto como Maehle, o subversivo lateral destro que a Atalanta contratou aos belgas do Genk. Competente a nível defensivo, tanto no desarme como na antecipação, sobressai pela ferocidade que co- loca nos desdobramentos ofensi- vos, tanto em ações com bola como sem bola. Agressivo e dese- quilibrador no um contra um, ex- põe argumentos nos passes de rutura e nos cruzamentos, além de surgir de forma impetuosa em zonas de finalização.
Jorginho (Itália, 1991).
O cérebro da bela Itália de Mancini concluiu o exercício como campeão europeu de clubes (Chelsea) e de seleções, o que lhe caucionou uma época épica. Tremendo a inteligir o jogo, assume um papel nuclear como recuperador – fortíssimo na antecipação e astuto no desarme –, mas ressalta ainda mais pela capacidade para assumir ações de construção e de condução, pelo garbo no trato na bola, o que lhe permite sair com pungência de zonas de pressão e gerir os tempos com uma facilidade glaciar, pela extrema qualidade no passe a diferentes distâncias, e pela subversiva leitura de jogo, encontrando espaços onde aparentemente não existem.
Paul Pogba (França, 1993).
Talhado para ser protagonista em provas curtas, estava a candidatar-se a figura principal deste Euro. Corrosivo no papel de interior ofensivo, a arrogar ações de condução e de desequilíbrio plenas de potência e de agressividade, conciliou beli- cosidade nos passes de rutura com a violência do seu disparo de fora da área. Marcou um golo transcendente à Suíça, e viu Rui Patrício negar-lhe um tento com uma defesa assombrosa.
Pedri (Espanha, 2002).
Com apenas 18 anos, o menino de Tegueste, província de Santa Cruz de Tenerife, foi o melhor jogador do Euro’2020. Não somou go- los, nem assistências, mas colocou o epílogo no primeiro capítu- lo de um conto de fadas. É que se metamorfoseou de protagonista da II Liga espanhola, ao serviço do Las Palmas, em titular indiscutível do Barcelona e da Roja. num namoro assolapado à supremacia do cérebro sobre o físico. Utilizado na esquerda, o destro exibe solidez na decisão, conjugando uma ótima visão de jogo e atributos muito interessantes no passe, revelando-se desequili- brador capaz de harmonizar velocidade, aceleração e agilidade com ferocidade no drible, criatividade e imprevisibilidade.
Dani Olmo (Espanha, 1998).
Começou e terminou a competição como titular, mas passou pelo banco, tornando-se num suplente capaz de transmutar o rumo dos jogos.
Mais utilizado a partir das alas (mais hostil a partir da esquerda), realizou o seu jogo mais completo ante a Itália no papel de ‘falso nove’. Móvel, ágil, veloz e acelerativo, apresenta recursos para criar desequilíbrios no um contra um, mas também ressalta pela facilidade e qualidade com que realiza assistências – através de passes de rutura e de cruzamentos – e visa a baliza através de remates na sequência de diagonais.
Lorenzo Insigne (Itália, 1991).
Aos 30 anos, não acusou minimamente o peso de abordar a sua primeira competição internacional de seleções como unidade indiscutível e nuclear no ideário de Mancini, procurando movimentações permanentes e ardilosas – com e sem bola – do corredor esquerdo para o central. Móvel, veloz e acelerativo, mostra-se capaz de conciliar qualidade técnica e no drible, o que lhe garante desequilíbrios no um contra um, com perspicácia nos passes de rutura e facilidade no remate com o pé direito de dentro ou de fora da área, o que lhe valeu 2 golos – um deles após uma execução superlativa, nos quartos, ante a Bélgica.
Harry Kane (Inglaterra, 1993).
A ausência de golos na fase de grupos valeu-lhe críticas injustificadas, mas tornar-se-ia resolutivo na fase do mata-mata, como atestam os 4 tentos que rubricou entre os oitavos e as meias. Além da sua tremenda qualidade no remate, suportada pela acutilância na desmarcação e no ataque aos espaços, Kane confirmou-se como um avançado completíssimo, decisivo a oferecer cérebro na temporização, na condução, na conceção de arrastamentos, e nos passes de rutura que associaram uma seleção que preferiu aceleradores a criativos.