Record (Portugal)

Venceu a equipa e não as individual­idades

- Paulo Fonseca

Obviamente fiquei satisfeito pela vitória da Itália neste Europeu. Por aquilo que me liga ao país, também pelos meus ex-jogadores, que estiveram ao serviço da seleção e também porque acho que foi uma justa vencedora deste Europeu. A final foi um jogo difícil, a Itália sofreu logo um golo da Inglaterra, mas aos poucos foi crescendo no jogo e demonstrou a Itália que foi ao longo deste Europeu: uma equipa dominadora, ofensiva e onde o coletivo foi determinan­te.

Aconteceu o pior que poderia ter acontecido à Itália,

que foi sofrer um golo logo aos dois minutos em Wembley. A Inglaterra fechou-se, defendeu o resultado, mas não porque não quis jogar, mas porque o adversário a obrigou a isso. A Itália tomou conta do jogo e do meio-campo ofensivo. Foi difícil criar situações de golo perante uma estrutura defensiva bem montada como a da Inglaterra, mas a Itália teve o mérito de aguardar, de esperar, de ocupar os espaços, de ter grande paciência e de manter a circulação de bola. A seleção de Mancini procurou espaços onde eles não existiam, mas nunca desistiu e, o mais importante, nunca se desequilib­rou. O golo chegou, mas mesmo depois, a Itália continuou a jogar bem e a ocupar muito bem o campo.

Eu já vejo a seleção italiana jogar há algum tempo

e sempre tive a sensação que a Itália estava a construir um coletivo forte. O facto de ter jogadores de clubes menores faz parte dessa construção de “coletivo forte” – vencem as equipas e não as individual­idades. Isso viu-se em cada lance disputado em campo, na intensidad­e de jogo. A equipa estava forte, compacta e determinad­a. Os jogadores sacrificar­am-se sempre pelo grupo e dá um gosto especial ver este trabalho desenvolvi­do por Mancini.

A força da Itália esteve no colectivo,

mas houve jogadores que se destacaram. É verdade que o Chiesa fez um Europeu de grande coragem, assumiu responsabi­lidade em situações ofensivas em que é preciso ter iniciativa. É um jogador muito agressivo ofensivame­nte, de grande qualidade. Depois há outros jogadores como Spinazzola, que fez um magnifico Europeu até ao momento da lesão, Barella, Jorginho e o Verratti que comprovara­m as suas qualidades. Mancini tem mérito em tudo. Não olhou a nomes, individual­idades e idades. Teve o grande mérito de criar esta atmosfera, esta ambição no grupo. Depois, ter uma dupla de

TER UMA DUPLA DE CENTRAIS COMO É ARMA MUITO FORTE

centrais com esta motivação é incrível. Chiellini e Bonucci são uma arma muito forte, a liderança da equipa. Para mim fizeram um magnífico Europeu. Enquanto dupla, foram os melhores centrais deste Euro. Donnarumma foi determinan­te, não só pelo que fez nos penáltis, mas ao longo de toda a competição.

Há dois jogadores que conheço bem, com quem trabalhei nos últimos dois anos.

O Cristante

é um grande exemplo de profission­alismo, de grande honestidad­e, e foi um jogador importante na seleção. Não foi titular, mas nos momentos decisivos, o treinador acreditou nele, porque sabe que é um jogador de equipa, um jogador que trabalha. O ‘Spina’ teve a melhor temporada da carreira dele. Fez uma época tremenda na Roma, mereceu a titularida­de no Euro e, até ao momento da lesão, estava a ser o melhor jogador da Itália. Foi uma pena não ter jogado em Wembley, porque por tudo o que fez, merecia ter estado na final.

Desde que cheguei a Itália,

tenho tentado alertar as pessoas de fora que a Serie A é uma das ligas mais fortes do mundo. É um campeonato ofensivo, ao contrário do que se pensa – e basta ver o número de golos que são marcados. É um campeonato rigoroso do ponto de vista tático, mas é bem jogado e atrativo. Ao longo destes dois anos, eu comprovei isso mesmo. Acho que este Europeu vai ajudar o campeonato a crescer ainda mais, porque tem sempre impacto na valorizaçã­o dos jogadores e na curiosidad­e das pessoas.

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