Venceu a equipa e não as individualidades
Obviamente fiquei satisfeito pela vitória da Itália neste Europeu. Por aquilo que me liga ao país, também pelos meus ex-jogadores, que estiveram ao serviço da seleção e também porque acho que foi uma justa vencedora deste Europeu. A final foi um jogo difícil, a Itália sofreu logo um golo da Inglaterra, mas aos poucos foi crescendo no jogo e demonstrou a Itália que foi ao longo deste Europeu: uma equipa dominadora, ofensiva e onde o coletivo foi determinante.
Aconteceu o pior que poderia ter acontecido à Itália,
que foi sofrer um golo logo aos dois minutos em Wembley. A Inglaterra fechou-se, defendeu o resultado, mas não porque não quis jogar, mas porque o adversário a obrigou a isso. A Itália tomou conta do jogo e do meio-campo ofensivo. Foi difícil criar situações de golo perante uma estrutura defensiva bem montada como a da Inglaterra, mas a Itália teve o mérito de aguardar, de esperar, de ocupar os espaços, de ter grande paciência e de manter a circulação de bola. A seleção de Mancini procurou espaços onde eles não existiam, mas nunca desistiu e, o mais importante, nunca se desequilibrou. O golo chegou, mas mesmo depois, a Itália continuou a jogar bem e a ocupar muito bem o campo.
Eu já vejo a seleção italiana jogar há algum tempo
e sempre tive a sensação que a Itália estava a construir um coletivo forte. O facto de ter jogadores de clubes menores faz parte dessa construção de “coletivo forte” – vencem as equipas e não as individualidades. Isso viu-se em cada lance disputado em campo, na intensidade de jogo. A equipa estava forte, compacta e determinada. Os jogadores sacrificaram-se sempre pelo grupo e dá um gosto especial ver este trabalho desenvolvido por Mancini.
A força da Itália esteve no colectivo,
mas houve jogadores que se destacaram. É verdade que o Chiesa fez um Europeu de grande coragem, assumiu responsabilidade em situações ofensivas em que é preciso ter iniciativa. É um jogador muito agressivo ofensivamente, de grande qualidade. Depois há outros jogadores como Spinazzola, que fez um magnifico Europeu até ao momento da lesão, Barella, Jorginho e o Verratti que comprovaram as suas qualidades. Mancini tem mérito em tudo. Não olhou a nomes, individualidades e idades. Teve o grande mérito de criar esta atmosfera, esta ambição no grupo. Depois, ter uma dupla de
TER UMA DUPLA DE CENTRAIS COMO É ARMA MUITO FORTE
centrais com esta motivação é incrível. Chiellini e Bonucci são uma arma muito forte, a liderança da equipa. Para mim fizeram um magnífico Europeu. Enquanto dupla, foram os melhores centrais deste Euro. Donnarumma foi determinante, não só pelo que fez nos penáltis, mas ao longo de toda a competição.
Há dois jogadores que conheço bem, com quem trabalhei nos últimos dois anos.
O Cristante
é um grande exemplo de profissionalismo, de grande honestidade, e foi um jogador importante na seleção. Não foi titular, mas nos momentos decisivos, o treinador acreditou nele, porque sabe que é um jogador de equipa, um jogador que trabalha. O ‘Spina’ teve a melhor temporada da carreira dele. Fez uma época tremenda na Roma, mereceu a titularidade no Euro e, até ao momento da lesão, estava a ser o melhor jogador da Itália. Foi uma pena não ter jogado em Wembley, porque por tudo o que fez, merecia ter estado na final.
Desde que cheguei a Itália,
tenho tentado alertar as pessoas de fora que a Serie A é uma das ligas mais fortes do mundo. É um campeonato ofensivo, ao contrário do que se pensa – e basta ver o número de golos que são marcados. É um campeonato rigoroso do ponto de vista tático, mas é bem jogado e atrativo. Ao longo destes dois anos, eu comprovei isso mesmo. Acho que este Europeu vai ajudar o campeonato a crescer ainda mais, porque tem sempre impacto na valorização dos jogadores e na curiosidade das pessoas.