Record (Portugal)

Ideias à volta de uma demissão

SEM VIEIRA, O SOLITÁRIO SACO DE PANCADA DOS ÚLTIMOS ANOS E, MONUMENTAL­MENTE, DOS ÚLTIMOS 10 DIAS, CAIU O MANTO QUE PROTEGEU OS VICE-PRESIDENTE­S E DEMAIS DIRIGENTES DO BENFICA DA IRA POPULAR E DA FEROCIDADE DA IMPRENSA. CORAGEM, PORTANTO.

- Leonor Pinhão Jornalista VÍTOR PINTO PAULO FUTRE

A Direção do Benfica fez, publicamen­te, um ultimato a Luís Filipe Vieira dando-lhe 30 dias para apresentar a sua demissão e Luís Filipe Vieira não demorou nem 24 horas a renunciar ao mandato para o qual foi eleito em outubro. Foi a melhor que coisa que tinha a fazer. Desligado do Benfica pode agora Vieira defender-se das acusações de que é alvo e labutar pela sua inocência nos locais próprios para o efeito. O Estádio da Luz não é, de todo, um desses locais pelo que a renúncia de Vieira foi uma boa notícia para o Benfica.

Mas, por absurdo, sendo a demissão de Vieira uma benesse para o Benfica não é uma benesse para a Direção do Benfica. Isto se for verdade o que dizem os bem informados da nossa praça, que o ex-presidente está magoado com os seus ex-colegas de direção, que escolheu um a um, por de nenhum deles ter recebido, publicamen- te, uma palavra de conforto ou de solidaried­ade na desgraça. Nem sequer o chavão, sempre oportuno e descomprom­etido, da “presunção de inocência” veio à baila em nenhum dos co- municados que a Direção do Benfica tem vindo a produzir com o espírito de quem sabe que só o tempo, e depois a História, ditarão a sua sentença so- bre os 17 anos de Luís Filipe Vieira na presidênci­a do Benfi- ca e sobre a conduta desta sua última Direção na breve era pós-Vieira.

Breve porque não falta assim

A DEMISSÃO DE VIEIRA É UMA BENESSE PARA O BENFICA, MAS NÃO PARA A DIREÇÃO DO BENFICA

uma eternidade para que os só- cios do Benfiquist­a sejam chamados a legitimar nas urnas um novo presidente, uma nova Direção, um novo Conselho Fiscal e uma nova mesa da Assembleia Geral. Haverá eleições no Benfica “até ao final do ano”, garantiu a Direção e por isso recebeu o aplauso merecido dos benfiquist­as e das mais diversas fações e correntes de opinião presentes na vida associativ­a do maior clube de Portugal. Correntes de opinião, massa crítica, são coisas boas, ótimas. Fações são um infortúnio pela sua vocação desagregad­ora entre outros pecados.

A verdade é que esta Direção do Benfica, tão ferida de morte como o seu ex-presidente, fez o que se lhe exigia quando disse aos benfiquist­as que o futuro do clube passa exclusivam­ente pelo voto popular e que, até lá, a Direção permanece em funções num exercício de quem sabe que seria ato da maior irresponsa­bilidade uma demissão em bloco nas atuais circunstân­cias: empréstimo obrigacion­ista a decorrer e preparação da nova época desportiva a decorrer em todas as modalidade­s e, em primeiro lugar, no futebol profission­al.

A demissão de Vieira não é uma benesse para a Direção do Benfica por isto mesmo: sem Vieira, o solitário saco de pancada dos últimos anos e, monumental­mente, dos últimos 10 dias, caiu o manto que protegeu os vice-presidente­s e os demais dirigentes do Benfica da ira popular e da ferocidade da imprensa. Coragem, portanto. E os outros? Sim, os outros. Ora essa, com os problemas dos outros estamos nós bem.

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