Rui Costa sem medo de mandar
O BENFICA CARECE DE UM LÍDER DETERMINADO QUE RESISTA À TENTAÇÃO DO FOCO EXCLUSIVO NO FUTEBOL. A SAD E O CLUBE NÃO PODEM SER GERIDOS AOS EMPURRÕES DE QUEM TENTA FALAR AO OUVIDO
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segundas oportunidades para as primeiras impressões. Numa altura de crise ímpar do Benfica, Rui Costa deu o passo em frente, assumiu-se como presidente mesmo quando ainda não eram conhecidas as medidas de coação de Luís Filipe Vieira e entendeu não ser necessário aguardar alguns dias pela reunião alargada dos órgãos sociais, procurando o máximo respaldo formal antes de subir o derradeiro degrau, quebrando de imediato com a reverência ao cabeça de lista com o qual foi eleito há menos de um ano já com a aura de sucessor anunciado. Não sei se o antigo criativo foi empurrado para uma cerimó- nia precipitada, mas não é difícil encontrar quem garanta que sim. Sendo responsável,
Rui Costa teve de ouvir quem estava à sua volta no clube. Não me parece que de repente deva tornar-se um ditador, mas para conquistar o sonho de ser entronizado nas urnas também não deve ter medo de mandar. Ele, melhor do que ninguém, sabe que no fu- tebol o destino das personali- dades dúbias é o fracasso.
Sentindo o Benfica 2
e tendo vertido lágrimas no relvado da Luz, é tudo menos estranho que Rui Costa procure a sua zona de confor- to. Desde a própria apresentação ao sentimento de que a missão, até setembro, deve centrar-se apenas no acompanhamento ao futebol profissional, focando-se no regresso ao sucesso desportivo e no acesso à Liga dos Campeões. Só que ter vestido a pele presidencial implica igualmente enormes descon- fortos, e tudo isso será novidade para um Rui Costa que terá de crescer fora da sombra de Luís Filipe Vieira. O Maestro não pode ter uma batuta demasiado curta, que deixe os dossiês críticos do clube da SAD entregues a quem, no âmago, ainda não o reconhece como verdadeiro líder. Cair na tentação do foco exclusivo no futebol significa amarrar o seu destino ao que o grupo orientado por Jorge Jesus alcançar em campo.
Luís Filipe Vieira 3
chegou à Luz há duas décadas e muitos dos que agora parece que nunca o conheceram foram os grandes arautos dos seus méritos como “melhor presidente de sempre da história do Benfica”. Sem recuar mais do que até ao recente ato eleitoral, gastaram-se horas infinitas de televisão e rios intermináveis de tinta na imprensa com os méritos do líder que garantiu o crescimento do património do clube e uma situação financeira invejável no panorama nacional. O Vieirismo não se reduzia a um homem só. Foi ratificado por uma maioria clara nas eleições e, entre assinaturas nos contratos e atas do Conselho de Administração que agora não irão desaparecer, em breve poderão surgir novas verdades quanto à batalha judicial que ainda vai abalar, e muito, o Benfica. Rui Costa terá de assumir-se como um farol por entre turbulência. A última palavra terá de ser sempre sua, por muito que não falte quem nesta altura procure chegar-lhe ao ouvido.
SAÍDA DE CENA DE VIEIRA ABRIU CAMINHO PARA O
MAESTRO IMPOR DE IMEDIATO A SUA MARCA