Record (Portugal)

Fraude e auditoria forense

O TSUNAMI QUE VARREU O BENFICA PODERÁ SER A OPORTUNIDA­DE DE OURO PARA REFORMULAR MODELOS DE GESTÃO E GOVERNAÇÃO ASSIM COMO POLÍTICAS DE FISCALIZAÇ­ÃO NO FUTEBOL PORTUGUÊS

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Gostaria de trazer à colação o artigo que aqui escrevi no passado dia 1 de dezembro sob o título “Erradicar a cultura de corrupção”. Escrevi então que “cumpre eliminar de uma vez por todas em Portugal a cultura corrupta instalada (…) em algumas organizaçõ­es desportiva­s locais e nacionais, na criação de redes de interesse privados e empresaria­is que sugam e espremem os recursos” das organizaçõ­es e que “nos grandes clubes e SADs do futebol português as práticas de boa gestão dos dinheiros e transparên­cia deixam muito a desejar”.

Afirmei ainda que “dentro do organogram­a de clubes e SADs existem quadros que têm acesso a centenas de milhões de euros de orçamento que, a seu bel-prazer, mando e desmando, sem qualquer espé- cie de controlo e mecanismo de supervisão interno ou externo adequado, ao arrepio das mais elementare­s regras de conflitos de interesse, põem e dispõem do acesso a estes fundos criando contratos com eles próprios ou de entidades que por si ou interposta pessoa”.

Que em todas as crises existe uma oportunida­de é uma ver- dade La Palisse. Pois bem, o tsunami que varreu nos últimos

dias o Sport Lisboa e Benfi- ca (SLB), e que parece vir a estender os efeitos da sua onda a outras regiões e clubes/SADs do país, poderá bem ser a oportunida­de de ouro para reformular alguns aspetos do dirigismo português, em particular os seus modelos de gestão e go- vernação versus políticas de controlo e fiscalizaç­ão.

Como referia na semana passada, existem três categorias principais de fraude: 1. Apropriaçã­o indevida de activos; 2. Corrupção; e 3. Relatórios de contas fraudulent­os. Todas elas recaem sobre a SAD do SLB (e se calhar algumas outras em Portugal) na perspetiva do Ministério Público e do juiz Carlos Alexandre.

Não sei se são ou não verdade essas alegações. Por isso mesmo, cabe à atual equipa de gestão e fiscalizaç­ão da SAD e do clube tratar de forma absoluta- mente clara e independen­te o processo de identifica­r, analisar e organizar evidências sobre as suspeitas que não se esgotam na relação contratual com Bruno Macedo e criar condições para a realização de uma auditoria forense a levar a cabo por uma entidade externa credível e independen­te, preferenci­almente uma das ‘Big Four’, que não tenha prestado qualquer serviço de auditoria e consultori­a ao SLB ou a qualquer empresa do universo Benfica nos últimos cinco, seis anos, por forma apurar toda a verdade, afastar boatos e rumores ou punir eventuais crimes e irregulari­dades.

O Benfica arroga-se de ser líder e pioneiro. Pois bem, está aqui uma excelente oportunida­de para mostrar o caminho ao futebol português.

Duas notas finais:

1) Como escreveu o nosso diretor Bernardo Ribeiro no passado domingo, em face do supra exposto, parece-me curto, mesmo muito curto, a promessa da SAD do SLB em levar a cabo uma “averiguaçã­o interna”. No mínimo risível em face de tudo o que se conhece e/ou se desconfia. Quem não deve não teme.

2) Costuma dizer-se que não há uma segunda oportunida­de para causar uma primeira boa impressão. John Textor apresentou-se a Portugal e aos benfiquist­as mentindo e manipuland­o. Não é de todo uma boa entrada em cena, independen­temente da sua (mais) valia para a SAD e para o futebol português.

BENFICA TEM UMA BOA OPORTUNIDA­DE PARA MOSTRAR O CAMINHO AO FUTEBOL PORTUGUÊS

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OCTÁVIO RIBEIRO

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