Luis Díaz – fenómeno por enquadrar
O DESAFIO É ADAPTAR O TALENTO, INDISCUTÍVEL MAS INTERMITENTE, NO FC PORTO, AO GÉNIO EXPLOSIVO E ÚNICO AO SERVIÇO DA COLÔMBIA, QUE O DEIXOU NO PATAMAR DIVINO DE DEUSES COMO MESSI E NEYMAR
A frase é antiga mas, de tão contundente, inesperada e atual, entrou no imaginário coletivo de quem ama o futebol. César Luis Menotti, um dos maiores geradores de ideias que o futebol teve na sua história, surpreendeu o Mundo quando se pronunciou, em contracorrente, sobre o fenómeno Ronaldo Nazário de Lima, o mais aclamado futebolista do seu tempo: “Makélélé joga melhor futebol do que ele. A diferença entre eles é que um conhece o jogo, o outro é apenas eficaz nas ações.” O treinador campeão do Mundo pela Argentina em 1978 ainda tinha disponibilidade para elogiar a genialidade do brasileiro (“sim, faz o que ninguém consegue”) mas a questão incidia noutro aspeto: “Não faz a menor ideia do que é jogar futebol.”
Luis Díaz foi a estrela mais brilhante da Copa América, sinal de que o talento inconstante na maratona que é um campeonato pode expressar-se de um modo explosivo e deslumbrante em competição mais curta. O colombiano entende o futebol como um amplo espaço de liberdade, a bola como objeto de rebeldia e o relvado como palco perfeito para exibir uma superior e rara dimensão criativa. Ainda não desfez a convicção construída na infância de que só existem adversários, bola e golo. Sérgio Conceição tem-lhe mostrado que o jogo é um exercício coletivo, no qual os companheiros não servem apenas para aplaudir as suas proezas individuais, antes constituem solução para facilitar a ação e consolidar o perigo. E que é imperioso cumprir uma série de obrigações solidárias e devidamente articuladas. No fundo, que até os génios precisam de ter um pouco de Makélélé, isto é, entender as chaves coletivas do jogo.
LD é um fenómeno, pela íntima relação com a bola, a perfeita articulação motora, a técnica cristalina revelada nos gestos mais simples e a habilidade escandalosa nos mais complexos; pela facilidade em galgar terreno, a imaculada administração da velocidade e o jeito especial de iludir quem lhe surge pela frente. Vive entre a mentira, associada à finta e à manifestação sempre equivocada das intenções que transporta, e a verdade, que surge na equação quando já não há engano possível, ou seja, no momento de fazer abanar as redes – tem profunda intimidade com o último toque, como o provam os 25 golos de dragão ao peito.
Quando as musas da inspiração se lembram dele, não lhe interessa o mapa do terreno, o manual de etiqueta ou as regras definidas pelo treinador. É um sedutor com veneno incorporado, que se faz à estrada certo de que encontrará o melhor caminho para o destino final. Os companheiros só entram nessa equação em último recurso, porque não fazem parte do plano inicial da viagem que traçou. Comete alguns (por vezes de mais) erros de conceção mas, de um modo geral, é tão bom e eficaz nas ações que, a partir de certa altura, ninguém sente legitimidade para discuti-lo.
Aos 24 anos tem ainda muito tempo para se apetrechar com os valores em falta e que o fortalecerão como extraordinário jogador. Está a um simples clique de evoluir de futebolista com potencial ilimitado para outro capaz de competir, de igual para igual, com as maiores estrelas da atualidade. O desafio é adaptar o talento indiscutível mas intermitente, no dia a dia ao serviço do FC Porto, ao génio explosivo e único revelado pela Colômbia, que o deixou no patamar divino de deuses como Messi e Neymar. Se abrir os sentidos às orientações de Sérgio Conceição, não tarda andará nas bocas do Mundo como diamante apetecido. Uma fabulosa Copa América fez disparar o valor de 18 para 25 milhões de euros. Quando gerar as mesmas sensações pelo que fizer no FC Porto, na Liga e na Champions, ao longo de uma época inteira, ninguém será apanhado desprevenido se o valor de mercado duplicar a cifra atual.
AOS 24 ANOS TEM AINDA MUITO TEMPO PARA SE APETRECHAR COM OS VALORES EM FALTA