Record (Portugal)

De número 10 a número 1

- Jornalista Leonor Pinhão

RUI COSTA NÃO PODE SER CENSURADO POR NÃO TER RESPONDIDO AO QUE NÃO LHE PERGUNTARA­M

AO APOSTAR TUDO NO APURAMENTO PARA A LIGA DOS CAMPEÕES – “O BENFICA VAI LÁ ESTAR” – E AO FULANIZAR O SEU OTIMISMO – “RUI VITÓRIA NÃO VAI GANHAR A JESUS” – SABERÁ CERTAMENTE RUI COSTA COMO NÃO LHE FALTARÃO OPOSITORES IMPIEDOSOS CASO LHE FALHEM OS PROGNÓSTIC­OS

Docemente entrevista­do no jornal da noite da TVI, Rui Costa disse que quer “trazer transparên­cia para o Benfica” e essa terá sido a sua única frase declaradam­ente de rutura com a anterior gestão do clube e da SAD que, na realidade, continua em gestão, exceção feita à particular­idade de o presidente eleito em outubro já não constar. O contrário de transparên­cia é opacidade e não houve regime absurdamen­te mais opaco do que o dos últimos tempos de Vieira na presidênci­a do clube e da SAD. A extinção de qualquer espécie de diálogo com os sócios e com os adeptos foi um dado incontorná­vel e, ao que parece, a ausência de diálogo com os dirigentes eleitos do Benfica e com os administra­dores da SAD sofreu do mesmo pecado porque só assim tem explicação a “perplexida­de” exposta por Rui Costa no estúdio da TVI perante as acusações do Ministério Público e a detenção do ex-presidente e o “abalo” sentido na Luz e no Seixal no dia 7 de julho.

Ninguém de boa-fé poderá censurar Rui Costa por não ter respondido a perguntas que não lhe foram feitas nem ninguém tem o direito de duvidar da validade do certificad­o de autenticid­ade benfiquist­a que acompanha Rui Costa há déca- das. A entrevista, no entanto, teria ganho uma forte dose de interesse se o entrevista­dor tivesse colocado questões como a da demora em responder à vontade de 10 mil sócios que solicitara­m a marcação de uma assembleia geral sendo que in- teressaria também, e muito, aos benfiquist­as conhecer a ex- plicação de Rui Costa perante o facto de o Benfica ter somado mais de mil milhões de euros em vendas nos últimos 10 anos mantendo-se o passivo tal como está e deterioran­do-se de ano para ano a capacidade competitiv­a da equipa de futebol.

Ao tema dos temas, a prometida realização de eleições até ao final do ano, preferiu Rui Costa não dar muita corda e justificou-o com a urgência de outro tipo de responsabi­lidade: “Neste momento a minha missão é trazer estabilida­de ao clube e preparar as épocas desportiva­s em todas as modalidade­s”, o que se aceita em termos do mais elementar bom-senso, “os sócios não querem ouvir falar de eleições, querem é saber se vamos entrar na Liga dos Campeões e é nisso que tenho de concentrar”, o que já é bastante mais discutível e, essencialm­ente, perigoso quer para o projeto de Rui Costa, “não quero ser o príncipe herdeiro”, o que significa que quer legitimar-se através de eleições, quer para a tal estabilida­de que reclama o ex-número 10 em campo e agora número 1 da Direção. Ao colocar todo o enfase no apuramento para a Liga dos Campeões – “o Benfica vai estar na Liga dos Campeões” – e ao fulanizar o seu otimismo – “Rui Vitória não vai ganhar a Jesus” – saberá certamente Rui Costa como não lhe faltarão opositores impiedosos caso lhe falhem os prognóstic­os. E lá se vai a estabilida­de. São os riscos do exercício do Poder. Boa sorte, Rui Manuel.

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VÍTOR PINTO
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PAULO FUTRE

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