As condições e as medalhas
Quando um país se lembra que afinal existem atletas Olímpicos…. E mesmo não sabendo quem são ou em que modalidades participam exigem medalhas.
No futebol já estamos habituados aos treinadores, jogadores e árbitros de bancada e, de quatro em quatro anos, somos também entendidos em modalidades Olímpicas. Achamos então que temos o direito de exigir medalhas quando a maioria de nós não perde um minuto a acompanhar estes atletas que trabalham e lutam no anonimato.
É verdade que o tecido desportivo português faz sempre dos nossos atletas possíveis campeões seja onde e no que for. Todos eles trabalham para fazer o seu melhor e trazer as tão ambicionadas medalhas. Essa exigência que fazemos aos nossos atletas deve ser balanceada com um olhar assertivo para a nossa realidade, enquadramento e, acima de tudo, para as condições que têm.
Continuamos a achar normal que Portugal seja dos países onde a prática desportiva é das mais baixas da Europa e somos ainda um país onde cada vez é mais difícil e dispendioso o acesso à prática desportiva. Em alguns casos é impossível a prática de certas modalidades para determinadas classes sociais, limitando (muito) o aparecimento de grandes atletas.
Para terminar e já que gostamos muito de olhar para o medalheiro Olímpico, é bom lembrar que a primeira medalha para Portugal em Tóquio foi de Jorge Fonseca, um jovem sem grandes recursos. Tinha ambição, pois atrás da conquista está uma vida difícil, desde o cancro numa perna em 2015 ou ser pai aos 17 anos e ter de trabalhar num bar a lavar copos para dar de comer ao filho. Os campeões existem em todas as classes sociais e só precisam de incentivo e oportunidade. Se temos campeões assim imaginem se os apoiarmos muito mais!