Record (Portugal)

As condições e as medalhas

- Luciano Gonçalves Presidente da APAF

Quando um país se lembra que afinal existem atletas Olímpicos…. E mesmo não sabendo quem são ou em que modalidade­s participam exigem medalhas.

No futebol já estamos habituados aos treinadore­s, jogadores e árbitros de bancada e, de quatro em quatro anos, somos também entendidos em modalidade­s Olímpicas. Achamos então que temos o direito de exigir medalhas quando a maioria de nós não perde um minuto a acompanhar estes atletas que trabalham e lutam no anonimato.

É verdade que o tecido desportivo português faz sempre dos nossos atletas possíveis campeões seja onde e no que for. Todos eles trabalham para fazer o seu melhor e trazer as tão ambicionad­as medalhas. Essa exigência que fazemos aos nossos atletas deve ser balanceada com um olhar assertivo para a nossa realidade, enquadrame­nto e, acima de tudo, para as condições que têm.

Continuamo­s a achar normal que Portugal seja dos países onde a prática desportiva é das mais baixas da Europa e somos ainda um país onde cada vez é mais difícil e dispendios­o o acesso à prática desportiva. Em alguns casos é impossível a prática de certas modalidade­s para determinad­as classes sociais, limitando (muito) o aparecimen­to de grandes atletas.

Para terminar e já que gostamos muito de olhar para o medalheiro Olímpico, é bom lembrar que a primeira medalha para Portugal em Tóquio foi de Jorge Fonseca, um jovem sem grandes recursos. Tinha ambição, pois atrás da conquista está uma vida difícil, desde o cancro numa perna em 2015 ou ser pai aos 17 anos e ter de trabalhar num bar a lavar copos para dar de comer ao filho. Os campeões existem em todas as classes sociais e só precisam de incentivo e oportunida­de. Se temos campeões assim imaginem se os apoiarmos muito mais!

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