Record (Portugal)

Jorge Fonseca: de campeão a herói

- PAULO FUTRE JOÃO CARREIRA, LISBOA RUI PEDROSO, AMADORA

Qual o futuro do Benfica, e de Jesus em particular, em caso de eliminação frente ao Spartak Moscovo?

Mesmo que o Benfica passe o Spartak... não basta, porque, se isto acontece e falha na eliminatór­ia seguinte, o clube não entra na fase de grupos da Champions. E isso, tanto a nível de prestígio, como economicam­ente, seria uma enorme deceção. Quando um fracasso desta dimensão acontece aos grandes clubes, os primeiros três ou quatro dias são muito duros para os adeptos – foram há dois para os portistas e o ano passado para os benfiquist­as –, mas depois mudam o chip, a vida segue e já está aí o campeonato. Como português fico sempre feliz quando as nossas equipas têm êxito nas provas europeias. Confio que o Benfica estará na fase de grupos, mas se não for assim João, já sabes que vale tudo e vais ouvir coisas surreais sobre o estado económico do clube, como sucedeu com os portistas quando foram eliminados pelo Krosnodar. Com as eleições do Benfica ao virar da esquina até poderás ouvir que para o clube sobreviver tem que vender o Estádio da Luz. Ao longo da história, os seis grandes clubes da Península Ibérica tiveram épocas de grande crise económica, mas sempre saíram delas. Costumo dizer a brincar que se aos dois países chegar a maior crise económica da sua história seriam vendidos primeiro o Banco de Portugal e de Espanha do que os estádios da Luz, Alvalade, Dragão, Bernabeu, Camp Nou e Metropolit­ano. E o teu Benfica, ao ser dos poucos grandes clubes do Mundo que não reduziu um euro dos salários aos jogadores nesta horrível crise no futebol mundial, é porque não deve estar assim tão mal como vão pintar alguns em caso de não entrar na fase de grupos. Por todas estas razões, o futuro do Benfica, passe ou não estas duas eliminatór­ias, será sempre o de um gigante e depois de um ou vários fracassos, mais tarde ou mais cedo voltará aos êxitos e alegrias. Assim foi, é, e sempre será a vida dos grandes clubes como o Benfica. Em relação à segunda ques- tão, entre 1987 e 1991, no Atlético, tive a barbaridad­e de 14 treinadore­s, mas em 1990 estávamos em segundo em janeiro, a 5 pon- tos do Real Madrid e o presiden- te Gil y Gil destituiu o Javier Clemente. Foi terrível para mim e tivemos a nossa maior guerra. Foi tão grave que estive sem jogar quase dois meses! E quando a equipa já estava em quinto ou sexto voltei, mas só pelas multas duríssimas que ele me metia. O Clemente era um treinador de top e aquela decisão foi uma lou- cura. Evitámos a catástrofe total com o apuramento para a UEFA, mas não aprendeu a lição. Meses depois do Aragones chegar, Gil ia fazer o mesmo e recordei-lhe que, desta vez, nem há Europa ia porque dava-me igual as multas e não ia jogar mais. Venci essa guerra e meses depois, com o génio Aragones, ganhámos a Taça do Rei, no Bernabeu, ao Real Madrid e foi um dos dias mais felizes da minha vida. Digo tudo isto porque ‘fiz a cama’ a dois treinadore­s. A outros três, como tinham perdido o balneário. não os defendi. Outros, a quem Gil y Gil ‘cortou a cabeça’, defendi-os suavemente porque pessoalmen­te lhes ganhei carinho. Mas aqueles que vi que eram autênticos génios e que tinham o balneário na mão ‘matei’ por eles. E não é preciso ter sido treinado por Jorge Jesus ou ser seu amigo, como é o meu caso, para saber que é um treinador genial. Todos os treinadore­s de top mundial tiveram fracassos. O Artur Jorge, por exemplo, teve um brutal quando fomos eliminados por uma equipa da quarta divisão inglesa e todos os presidente­s naquela situação – com a máxima contestaçã­o e deceção dos seus adeptos a pedir ‘a cabeça’ do treinador – o teriam demitido e o FC Porto nunca teria sido campeão da Europa em 1987. E este feito só foi possível porque o presidente era um génio. Pinto da Costa, com o seu caratér e coragem, não cedeu e em setembro de 1984 era o único que acreditava e sabia que o Artur Jorge era um génio e tinha razão. Dou todos estes exemplos João, porque um treinador de top, mesmo depois de um grande fracasso, nunca perde o grupo porque até os suplentes sabem do seu valor e não envenenam o balneário, sabem que com ele podem ganhar títulos. Esta é a minha opinião sobre os grandes treinadore­s e o JJ, para mim, é um deles. Mas serás tu e todos os outros benfiquist­as a decidirem, em caso de serem eliminados pelo Spartak, se mudas de treinador ou não.

+Vlachodimo­s ou Helton Leite? Quem é para si o melhor? ?

Na minha opinião estão ao mesmo nível e qualquer um deles pode ser o titular da baliza do Benfica.

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