Volta a Portugal para duros
Percurso não foge muito ao dos últimos anos, com incidência no centro e norte do país, mas a organização elevou a fasquia para 2021, ao desenhar um traçado com cinco chegadas em alto, em dez etapas, sendo a última o contrarrelógio
çDepois de uma “Edição Especial” em 2020, organizada pela Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), em setembro, por força da pandemia, o organizador a quem foi concessionada a prova rainha nacional voltou a tomar em mãos os seus destinos, após alegar não ter condições de a colocar na estrada o ano passado. E a Podium, empresa detentora dos direitos organizativos da corrida, ‘regressou’ para apresentar uma edição que tem tudo para ser bem sucedida ao nível competitivo, face à exigência do percurso. “A 82ª Volta a Portugal, independentemente da dimensão histórica de presenças das diversas regiões envolvidas na prova, vai ter um grau de exigência elevado pelos cinco finais em montanha: Torre, Guarda, Santo Tirso, Montalegre e Mondim de Basto”, destacou Joaquim Gomes, diretor da prova, vencedor de duas edições (1989 e 1993) e que se destacou sobretudo pelas suas qualidades de trepador, afinal o tipo de ciclista para quem está vocacionada a Volta a Portugal de 2021.
Os finais de etapa a que se refere o antigo ciclista são então as cinco tiradas, cuja meta coincide com uma contagem de montanha: uma é de categoria especial (Torre), duas de primeira (Larouco, em Montalegre, e Senhora da Graça, em Modim de Basto), uma de segunda (Senhora da Assunção, em Santo Tirso) e outra de terceira (Guarda). Mas as restantes etapas, em dez e descontando a última, que é o contrarrelógio, também apresentam muitas dificuldades, como logo a primeira, com a passagem na Arrábida, a chegada ao empedrado de Fafe e mesmo a de Bragança, sendo que a de Castelo Branco também tem sobe e desce. “Independentemente do relevo mais ou menos agreste, a entrega sublime, em particular dos representantes das equipas nacionais, torná-los-á dignos do prestígio da nossa Volta”, destacou ainda Joaquim Gomes. Os dados estão pois lançados para a 82ª edição da Volta a Portugal, que regressa às datas habituais (mês de agosto). As primeiras pedaladas serão dadas na próxima quarta-feira, com um prólogo em Lisboa, para a consagração ser feita dia 15, em Viseu. “Depois do calvário de mais de um ano e meio que afastou a Volta a Portugal de cumprir um dos seus maiores requisitos, que é, no verão, constituir-se como o principal evento e o mais popular, que leva o colorido a casa das pessoas, esperamos, finalmente, neste agosto dar um pouco desse ‘cheirinho’ de normalidade às pessoas”, sublinhou o diretor da prova rainha.
A Volta a Portugal sempre foi o acontecimento desportivo de verão no nosso país, conseguindo mediatismo na Comunicação Social e o entusiasmo do público nas bermas da estrada... O entusiasmo ainda se sente, sobretudo a norte, mas será que a prova rainha do calendário nacional ainda é o que era?
“A nível nacional, continua a ser um grande evento, com muita expressão. Hoje há muito mais gente a andar de bicicleta e a interessar-se pela modalidade”, disse-nos Filipe Cardoso, um dos que vê a corrida na berma na estrada, após o abandono em 2019. E como é vista a Volta fora de portas? “A perceção é a de que, no geral, o ciclismo português, sejam as equipas, ou as provas, perdeu um pouco o autocarro da Europa. É preciso muito dinheiro para se correr lá fora e também para trazer os melhores a Portugal. Toda a gente gostaria de ver mais equipas internacionais”, frisou o ex-ciclista, de 37 anos. O agora empresário – tem um projeto, a ‘Grandíssima’, em Santa Maria da feira, que é um bar/loja/estúdio de performance, e ainda uma empresa de turismo de ciclismo de lazer, virado sobretudo para os estrangeiros –, reconhece que hoje a Volta a Portugal “é mais consumo interno”, mas ressalva o impacto que a corrida provoca nos estrangeiros: “Continua a ser um fenómeno mundial para quem nela participa. Os estrangeiros, sobretudo, ficam impressionados pelo nível organizativo, competitividade e até mesmo pelo entusiasmo do público. O nome ‘Grandíssima’ vem precisamente daí, os estrangeiros diziam que havia as três Grandes Voltas, depois a ‘Grandíssima’.”
Curiosidade pela Movistar
O pelotão volta a ter uma equipa do World Tour, com a Movistar a regressar 19 anos depois, quando alinhou como Ibanesto.com “Estou um pouco curioso para ver o que vai fazer. Deve trazer uma equipa jovem que se encaixa neste tipo de etapas, mas será uma surpresa estar na luta pela geral”, assim antevê Cardoso a presença da mais antiga equipa mundial. E o que perspetiva para o pelotão nacional? “A discussão da amarela vai continuar a ser uma luta entre as principais, com a W52-FC Porto à frente. Tendo em conta o que fez nos últimos anos e porque tem várias opções. Quem será o líder? Sinceramente, qualquer deles. Há Joni Brandão, Amaro Antunes e João Rodrigues, mas, na minha opinião, o Nuno Ribeiro vai tentar que o Joni vença, para depois dizer que com ele, o Joni conseguiu.” E o que esperar das restantes equipas? “A Efapel tem o Frederico Figueiredo e o António Carvalho, que podem aproveitar um momento de fraqueza da W52-FC Porto. O Carvalho anda bem nos contrarrelógios e o Frederico pode ser mais agressivo nas montanhas. As restantes equipas vão aproveitar uma fuga.”