Record (Portugal)

GONÇALO INÁCIO

Há um ano ainda não tinha feito sequer um jogo na equipa principal do Sporting; hoje é titular, campeão nacional e acaba de ser chamado à Seleção. Eis a primeira grande entrevista de um menino que já é um senhor central

- TEXTOS VÍTOR ALMEIDA GONÇALVES FOTOS LUÍS MANUEL NEVES

OURO: Na entrevista que publicámos hoje, é fácil perceber por que Rúben Amorim gosta tanto deste jovem central. É tímido, sim, mas tem uma personalid­ade à altura do talento que revela em campo.

Acredito que, aos 20 anos, prefira viver apenas o momento e não pense muito no que vem aí ou no que ficou para trás. Ainda assim, muito mudou desde 2018, dos juniores do Sporting à Seleção Nacional, passando pelo título de campeão. Como é que tem lidado com tantas mudanças em tão pouco tempo?

GONÇALO INÁCIO – No início foi mais complicado, quando estava a tentar habituar-me ao espaço da equipa A. É um espaço diferente dos juniores ou dos sub-23. É tudo mais rigoroso e mais exigente. Com o tempo, fui sendo capaz de perceber isso. E tudo o que tem acontecido e o que mudou desde há dois anos é resultado do trabalho. O meu foco é esse e vai continuar a ser. Tenho de trabalhar todos os dias para dar o meu melhor.

A realidade dos juniores, mesmo ao nível da exigência dos treinos, é certamente diferente. Sentiu muito essa diferença, em termos de treino?

GI – Sim, sem dúvida. Senti essa diferença em muitos aspetos, a começar pela intensidad­e. Foi quando comecei a perceber essas diferenças que aprendi a melhorar o meu jogo.

É na intensidad­e que sente que melhorou mais o seu jogo, desde que começou a trabalhar com a equipa principal, em abril/maio de 2020?

GI – Como disse, sinto que melhorei em muitos aspetos e há sempre espaço para evoluir. Acho que estou cada vez melhor jogador, tanto taticament­e como em termos técnicos. Todas as pessoas aqui na Academia e na equipa técnica ajudaram-me muito e por isso é que consegui melhorar. Ainda sou muito novo e tenho muito a aprender. Olho todos os dias para os meus colegas de posição, o Seba, o Feddal, o Neto… Aprendo muito com eles. Também me dão muitos conselhos, porque são todos jogadores experiente­s, e estou muito agradecido por isso.

Coates é central e capitão de equipa. Tem sido um jogador importante para o seu cresciment­o nestes últimos meses?

GI – Claro. O Coates é uma figura muito importante no nosso plantel. É o capitão, e isso já diz quase tudo. É um jogador que me tem ajudado muito desde o início, tal como o Neto e o Feddal.

Imagina-se, um dia, a usar a braçadeira de capitão do Sporting?

GI – A braçadeira não podia estar mais bem entregue. O Seba é uma inspiração para mim. Está há muitos anos no clube e jogar ao lado dele é um enorme orgulho. Se um dia for capitão, gostava de seguir o exemplo dele.

Voltando um pouco atrás, nos primeiros meses no plantel não se chegou a estrear, ao contrário, por exemplo, do Eduardo Quaresma. Foram meses difíceis, por treinar e nunca jogar?

GI – Difíceis? Claro que não…. Estava na equipa principal do Sporting, onde sempre ambicionei estar. A integração foi muito boa e só me preocupava em estar preparado quando o treinador me chamasse. Somos um grupo muito unido. Os que não jogam dão todo o apoio aos que estão dentro de campo, e era isso que eu fazia.

Porque é que demorou mais tempo a ser chamado a jogar? Não estava preparado? Opção do treinador?

GI – Tinha acabado de ser chamado ao plantel principal, tinha cumprido o meu sonho e só queria melhorar a cada dia para ser melhor jogador. Concentrei-me apenas nisso.

Rúben Amorim explicou-lhe o porquê de não o ter lançado mais cedo?

GI – O treinador e a equipa técnica sempre me deram todo o apoio. Graças a eles e aos meus colegas de equipa consegui estar cada vez mais preparado para jogar a este nível.

Amorim tem sido considerad­o muito importante no seu cresciment­o. Por aquilo que se vê, não é um treinador que fale muito individual­mente com os jogadores. No seu caso, ele quis dar-lhe conselhos, procurou conversar consigo, ajudá-lo?

GI – Sim, ele ajuda muito os jogadores. Explica-nos onde temos de melhorar. Ele na maior parte das vezes fala em grupo. Não tem medo de dizer as coisas na cara. É assim que nós evoluímos e isso, a mim, ajudou-me. Tenho de agradecer ao clube e ao treinador pela

“A BRAÇADEIRA NÃO PODIA ESTAR MAIS BEM ENTREGUE. SE UM DIA FOR CAPITÃO, GOSTAVA DE SEGUIR O EXEMPLO DO SEBA [COATES]”

aposta que fizeram em mim. Quando me disseram que ia começar a treinar na equipa principal, o ano passado, foi uma alegria muito grande. O Sporting fez uma aposta muito forte na formação, que está a dar resultados muito positivos. O treinador trata todos da mesma maneira, exige o mesmo a todos, e cresci muito nestes últimos meses.

Quando é que sentiu que deu aquele clique que precisava e conquistou o lugar no onze?

GI – É difícil responder… Sempre me senti muito bem na equipa. Fui bem recebido por todos e fui ganhando mais confiança à medida que os treinos iam passando.

Confirma que os treinos de Rúben Amorim são autênticas ‘tareias’ ?

GI – São um bocado puxados, mas isso faz-nos bem. O compromiss­o é grande. São treinos muito exigentes e sinto que tenho vindo a crescer como jogador.

Já lhe aconteceu chegar ao fim de um treino mais cansado do que quando acaba um jogo?

GI – (risos) Sim. Já me aconteceu. Há treinos mesmo muito puxados.

Acabam por trabalhar muito com bola mas sempre a tirar o máximo do físico.

GI – Os exercícios são, basicament­e, todos com bola. Só um ou outro é que não. Mas é sempre a andar!

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“O TREINADOR TRATA TODOS DA MESMA MANEIRA, EXIGE O MESMO A TODOS, E CRESCI MUITO NESTES ÚLTIMOS MESES”

Senti que fui melhorando a cada dia. A estreia em Portimão foi um momento importante, mas o clique fui sentindo nos treinos.

Inicialmen­te era opção para central à esquerda, depois passou a aparecer na direita e entretanto foi trabalhado para jogar ao meio. Tem preferênci­a?

GI – Jogo onde o treinador sentir que sou mais útil. Sinto-me confortáve­l em qualquer posição a central, seja mais à direita ou mais à esquerda.

O que é que para si um central tem de ter para vingar no futebol atual?

GI – Antigament­e, se calhar, olhávamos para os centrais como sendo altos, fortes… Hoje começamos a ver centrais mais evoluídos tecnicamen­te, que saem a jogar, com boa qualidade de passe, rápidos... A relação com a bola é cada vez mais importante.

Já se percebeu que gosta de sair a jogar com a bola no pé, mas também sabe usar o passe longo e até já fez assistênci­as importante­s. Tem liberdade do treinador para decidir?

GI – Depende da estratégia para o jogo e do adversário. Há momentos em que saímos a jogar e outros em que descobrimo­s um colega de equipa a fazer uma desmarcaçã­o e arriscamos o passe longo. É verdade que já fiz algumas assistênci­as e espero fazer mais.

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