Assim não vamos lá
OS 12 AMARELOS E 40 FALTAS NO CLÁSSICO TRADUZIRAM-SE NUM JOGO EM QUE RARAMENTE ASSISTIMOS A UM MINUTO DE FUTEBOL CONTÍNUO
çEm teoria, a Liga Bwin tem seis jogos-estrela ao longo de toda a competição. Independentemente da fase do campeonato e da classificação dos envolvidos, os jogos que envolvem os duelos entre Benfica, FC Porto e Sporting são os mais apetecíveis e aqueles que geram maior atenção e audiências televisivas.
No passado sábado foi servido aos portugueses o primeiro desses duelos. Defrontaram-se os dois primeiros classificados da época passada pelo que o jogo prometia. Sabíamos que, dada a paragem de seleções, havia de parte a parte vários jogadores com um enorme potencial de cansaço dadas as partidas jogadas poucas horas antes e as longas viagens que enfrentaram antes do jogo.
Os 18.000 espectadores em Alvalade fizeram-nos recordar o ambiente dos grandes jogos. A competitividade e o empenho de ambas as equipas foram evidentes num duelo intenso. No entanto, do ponto de vista do entretenimento para os cerca de 3 milhões de adeptos que assistiram pelo sofá, ficou a sensação de um jogo aos solavancos. Os 12 cartões amarelos e as 40 faltas cometidas traduziram-se num jogo em que ra- ramente conseguimos assistir a mais de um minuto de futebol contínuo. Paragens, paragens e mais paragens. Se somarmos a cada falta a arte de rebolar na relva de cada jogador, as picardias e a contestação ao árbitro facilmente se verifica que futebol houve muito pouco.
Tendo eu seguido os 90 minutos, fiquei com a sensação que assisti a um comício, uma manifestação, um concurso e um debate intervalados por alguns momentos de futebol. Sabemos que este jogo não é caso único e que a Liga Portuguesa apresenta tempos úteis de jogo bem inferiores à média europeia. Enquanto não mudar a cultura desportiva de árbitros, jogadores e treinadores, vamos continuar a assistir a meia liga portuguesa de futebol.
Em comparação, assisti no dia seguinte ao jogo dos oitavos-de-final do Campeonato da Europa de Voleibol entre Portugal e os Países Baixos. Apesar do jogo épico, que durou mais de duas horas e meia, a Seleção Nacional foi derrotada por 3-2 num último set disputado até ao fim. Mesmo com as paragens habituais desta modalidade, o espetáculo televisivo é intenso e capaz de prender o espectador até ao último momento.
Com o crescimento exponencial aos conteúdos que somos expostos diariamente, agravado pela tendência de assistirmos a formatos com cada vez menor duração, os 90 minutos de futebol de 40 faltas serão cada vez menos apelativos para o público em geral. No caso do futebol, existe em termos mundiais uma tendência clara para assistir aos highlights dos jogos em detrimento das transmissões integrais dos jogos.
ENQUANTO NÃO MUDAR A CULTURA DESPORTIVA
VAMOS ASSISTIR A MEIA LIGA PORTUGESA