Record (Portugal)

Jesus tem outras armas

JOGAR NOS AÇORES NÃO É A MESMA COISA QUE DISPUTAR O CLÁSSICO DE ALVALADE, MAS AS OPÇÕES TOMADAS NUMA RONDA CONDICIONA­DA PELAS LESÕES E PELO ‘VÍRUS FIFA’ CONFIRMAM QUE O BENFICA TEM O PLANTEL MAIS RECHEADO

- BRUNO PRATA

çCinco jornadas continuam a ser uma amostra restrita para retirar conclusões inapelávei­s, mas a última ronda serviu, pelo menos, para atestar que o Benfica tem, claramente, o mais recheado plantel (em volume e variedade de talentos), enquanto o Sporting se mantém como o menos apetrechad­o (ou, se preferirem, o mais incompleto) entre a fidalguia nacional – lote em que não é abusivo incluir o Braga.

Esta inferência acabou facilitada pela decisão absurda da Conmebol de passar a realizar jogos das seleções sul-americanas também às sextas-feiras. Com o beneplácit­o de uma FIFA que se mantém obcecada com

BASTAVA OLHAR PARA O BANCO DO SPORTING PARA SE PROVAR QUE TEM ARSENAL MENOS DOTADO

os cifrões e não respeita o mais importante no jogo (leia-se os jogadores), os clubes europeus são confrontad­os com uma situação melindrosa e inconcebív­el: decidir se abdicam de alguns dos seus recursos mais valiosos (e mais caros), como fez o Sporting com Ugarte, ou se arriscam utilizar quem teve menos de 48 horas de recuperaçã­o e foi sujeito a viagens transatlân­ticas pelo meio, como fez o FC Porto com Uribe, Luis Díaz e Corona e o Benfica com Lucas Veríssimo. Acresce que havia ainda a ponderar não só a erosão nos jogadores chamados a seleções de outras confederaç­ões mais próximas e/ou mais responsáve­is e também a proxi- midade dos confrontos nas pro- vas europeias.

Perante este intrincado cenário,

Jesus abdicou de Otamendi, guardado para o confronto em Kiev, e incluiu Veríssimo, que nunca poderia jogar na Ucrânia, por estar castigado. Pode fazê-lo, apesar do regresso ao desenho com três centrais, sem recorrer a Ferro (estava no ‘banco’), o que confirma a existência de alternativ­as de qualidade e o quanto teria sido supérfluo des- perdiçar milhões no exaurido David Luiz. A gestão criteriosa permitiu até a estreia de Rodrigo Pinho, oportunida­de para Je- sus contrariar quem, como eu, questionou os cinco pontas-de-lança no plantel, situação singular em equipas de ponta. Seferovic nem sequer foi convocado, Gonçalo Ramos nem foi para o ‘banco’, onde começaram Yaremchuk e Rafa, sendo que três deles vão ser certamente titulares hoje. João Mário também tinha estado ao serviço da seleção portuguesa, mas jogou pouco tempo e é, nesta altura, imprescind­ível, mais a mais quando Taarabt se encontra a cumprir castigo nas provas caseiras.

Claro que jogar nos Açores não é a mesma coisa que visitar o Sporting. E isso também ajuda a compreende­r que Sérgio Conceição tenha arriscado a utilização, logo de início, de Uribe, Luis Díaz e Corona, mesmo que o técnico do FC Porto sempre tivesse dado prioridade, noutras paragens para trabalhos das seleções, aos jogadores com quem ficou a trabalhar nesse período. A verdade é que o fez por reconhecer que a equipa ficaria claramente enfraqueci­da sem eles (no caso de Uribe isso será menos óbvio quando Sérgio Oliveira estabiliza­r emocionalm­ente ou quando Vitinha receber a já merecida ‘carta de alforria’…). O FC Porto tem um plantel equilibrad­o e até com mais soluções do que na época passada, mas Pepê ainda não parece devidament­e adaptado e não há mais ninguém capaz de funcionar como um despertado­r como faz Díaz, que marcou dois golos em jogos diferentes no espaço de 24 horas.

Rúben Amorim foi astuto a lidar com as lesões de Gonçalo Inácio, Pote e Tiago Tomás (as suas ausências deviam fazer corar de vergonha certas mentes velhacas). Mas bastava olhar para o ‘banco’ do Sporting, onde no sábado estavam nomes como Geny Catamo, Tiago Ferreira e Gonçalo Esteves, para se provar que tem um arsenal bem menos dotado do que a principal concorrênc­ia. Quem os conhece (bem como a Flávio Nazinho e Essugo) sabe que são jovens de grande potencial, mas nunca poderiam ser encarados, nesta altura, como alternativ­as credíveis num confronto com o FC Porto. Isto sem contar que Rúben Vinagre parece levar ainda o rótulo de suplente para o relvado. Claro que é uma aposta responsáve­l, assumida por quem investe numa gestão criteriosa e de futuro e que, ficou provado na época passada, não inibe o sucesso desportivo. Mas não é bem a mesma coisa.

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