Jesus tem outras armas
JOGAR NOS AÇORES NÃO É A MESMA COISA QUE DISPUTAR O CLÁSSICO DE ALVALADE, MAS AS OPÇÕES TOMADAS NUMA RONDA CONDICIONADA PELAS LESÕES E PELO ‘VÍRUS FIFA’ CONFIRMAM QUE O BENFICA TEM O PLANTEL MAIS RECHEADO
çCinco jornadas continuam a ser uma amostra restrita para retirar conclusões inapeláveis, mas a última ronda serviu, pelo menos, para atestar que o Benfica tem, claramente, o mais recheado plantel (em volume e variedade de talentos), enquanto o Sporting se mantém como o menos apetrechado (ou, se preferirem, o mais incompleto) entre a fidalguia nacional – lote em que não é abusivo incluir o Braga.
Esta inferência acabou facilitada pela decisão absurda da Conmebol de passar a realizar jogos das seleções sul-americanas também às sextas-feiras. Com o beneplácito de uma FIFA que se mantém obcecada com
BASTAVA OLHAR PARA O BANCO DO SPORTING PARA SE PROVAR QUE TEM ARSENAL MENOS DOTADO
os cifrões e não respeita o mais importante no jogo (leia-se os jogadores), os clubes europeus são confrontados com uma situação melindrosa e inconcebível: decidir se abdicam de alguns dos seus recursos mais valiosos (e mais caros), como fez o Sporting com Ugarte, ou se arriscam utilizar quem teve menos de 48 horas de recuperação e foi sujeito a viagens transatlânticas pelo meio, como fez o FC Porto com Uribe, Luis Díaz e Corona e o Benfica com Lucas Veríssimo. Acresce que havia ainda a ponderar não só a erosão nos jogadores chamados a seleções de outras confederações mais próximas e/ou mais responsáveis e também a proxi- midade dos confrontos nas pro- vas europeias.
Perante este intrincado cenário,
Jesus abdicou de Otamendi, guardado para o confronto em Kiev, e incluiu Veríssimo, que nunca poderia jogar na Ucrânia, por estar castigado. Pode fazê-lo, apesar do regresso ao desenho com três centrais, sem recorrer a Ferro (estava no ‘banco’), o que confirma a existência de alternativas de qualidade e o quanto teria sido supérfluo des- perdiçar milhões no exaurido David Luiz. A gestão criteriosa permitiu até a estreia de Rodrigo Pinho, oportunidade para Je- sus contrariar quem, como eu, questionou os cinco pontas-de-lança no plantel, situação singular em equipas de ponta. Seferovic nem sequer foi convocado, Gonçalo Ramos nem foi para o ‘banco’, onde começaram Yaremchuk e Rafa, sendo que três deles vão ser certamente titulares hoje. João Mário também tinha estado ao serviço da seleção portuguesa, mas jogou pouco tempo e é, nesta altura, imprescindível, mais a mais quando Taarabt se encontra a cumprir castigo nas provas caseiras.
Claro que jogar nos Açores não é a mesma coisa que visitar o Sporting. E isso também ajuda a compreender que Sérgio Conceição tenha arriscado a utilização, logo de início, de Uribe, Luis Díaz e Corona, mesmo que o técnico do FC Porto sempre tivesse dado prioridade, noutras paragens para trabalhos das seleções, aos jogadores com quem ficou a trabalhar nesse período. A verdade é que o fez por reconhecer que a equipa ficaria claramente enfraquecida sem eles (no caso de Uribe isso será menos óbvio quando Sérgio Oliveira estabilizar emocionalmente ou quando Vitinha receber a já merecida ‘carta de alforria’…). O FC Porto tem um plantel equilibrado e até com mais soluções do que na época passada, mas Pepê ainda não parece devidamente adaptado e não há mais ninguém capaz de funcionar como um despertador como faz Díaz, que marcou dois golos em jogos diferentes no espaço de 24 horas.
Rúben Amorim foi astuto a lidar com as lesões de Gonçalo Inácio, Pote e Tiago Tomás (as suas ausências deviam fazer corar de vergonha certas mentes velhacas). Mas bastava olhar para o ‘banco’ do Sporting, onde no sábado estavam nomes como Geny Catamo, Tiago Ferreira e Gonçalo Esteves, para se provar que tem um arsenal bem menos dotado do que a principal concorrência. Quem os conhece (bem como a Flávio Nazinho e Essugo) sabe que são jovens de grande potencial, mas nunca poderiam ser encarados, nesta altura, como alternativas credíveis num confronto com o FC Porto. Isto sem contar que Rúben Vinagre parece levar ainda o rótulo de suplente para o relvado. Claro que é uma aposta responsável, assumida por quem investe numa gestão criteriosa e de futuro e que, ficou provado na época passada, não inibe o sucesso desportivo. Mas não é bem a mesma coisa.