Os jogos estão feitos
Tenho repetido o exercício nos últimos anos: aquando do sorteio da fase de grupos da Champions, ordeno as equipas por valor de mercado tal como estimado pelo Transfermarkt. Mais tarde, comparo esta ordenação com a classificação final. Surpreendentemente (ou talvez não!), em última análise, a fase de grupos não precisaria de ser disputada. Os dois clubes com maior valor de mercado apuram-se invariavelmente para a fase a eliminar. Ou seja, este modelo muito pouco sofisticado é capaz de prever com enorme precisão quem fica com a maior fatia do bolo financeiro, associada à passagem aos oitavos de final da competição.
Se este indicador permite saber quem passa e quem não o faz, é, no entanto, muito menos robusto quando se trata de ordenar as equipas entre primeiro e segundo lugar e, também, entre terceiro e quarto. Ou seja, em última análise, podemos dizer que a fase de grupos se disputa para saber qual dos dois clubes mais valiosos e, por isso, “pré-apurados”, fica em primeiro e, também, quem passa à liga Europa e quem cedo deixa as competições europeias.
Fazendo a projeção para este ano, os clubes portugueses não têm grande motivo para otimismos. Se este modelo bem rudimentar voltar a funcionar, o melhor que os três clubes podem ambicionar é passar à Liga Europa. O Porto é mesmo a equipa com menor valor de mercado do seu grupo (277 milhões), a alguma distância do terceiro (o Milan com 449) e bem longe dos 749 do Atlético e dos 888 do Liverpool. O Sporting, entre os três, é o clube que, apesar de tudo, pode enfrentar a fase de grupos com alguma expetativa: parte como terceiro classificado (com um valor de 223 milhões, acima dos 99 do Besiktas), mas está a uma distância curta do Ajax (345) e mesmo o Dortmund é alcançável (557). Já o Benfica surge confortavelmente em terceiro lugar com 314 milhões, superando os 135 do Dínamo Kiev, no entanto a uma distância que aparenta ser insuperável do Barça (767) e do Bayern (819).
Mas, como vimos ontem com o Man. United, há sempre margem para surpresas (que tendem a ser corrigidas no conjunto dos jogos) e o Benfica pode também ser um desses casos. Em Kiev, pese embora uma ponta final do jogo inconcebível, o Benfica controlou a partida e, até às substituições, teve todas as condições para vencer os ucranianos. Aliás, temos de recuar algum tempo para nos recordarmos de um Benfica, na fase de grupos da Champions, com tanta posse – mesmo que com pouca eficácia – num jogo fora. Se a isto somarmos um Barcelona que vale, de facto, menos do que sugere o valor de mercado, o Benfica não só pode cumprir a previsão (alcançar o 3º lugar), como deve mesmo ambicionar ir além disso. Para isso, há que derrotar o Barcelona na Luz.