Record (Portugal)

Os jogos estão feitos

- Pedro Adão e Silva Professor Universitá­rio

Tenho repetido o exercício nos últimos anos: aquando do sorteio da fase de grupos da Champions, ordeno as equipas por valor de mercado tal como estimado pelo Transferma­rkt. Mais tarde, comparo esta ordenação com a classifica­ção final. Surpreende­ntemente (ou talvez não!), em última análise, a fase de grupos não precisaria de ser disputada. Os dois clubes com maior valor de mercado apuram-se invariavel­mente para a fase a eliminar. Ou seja, este modelo muito pouco sofisticad­o é capaz de prever com enorme precisão quem fica com a maior fatia do bolo financeiro, associada à passagem aos oitavos de final da competição.

Se este indicador permite saber quem passa e quem não o faz, é, no entanto, muito menos robusto quando se trata de ordenar as equipas entre primeiro e segundo lugar e, também, entre terceiro e quarto. Ou seja, em última análise, podemos dizer que a fase de grupos se disputa para saber qual dos dois clubes mais valiosos e, por isso, “pré-apurados”, fica em primeiro e, também, quem passa à liga Europa e quem cedo deixa as competiçõe­s europeias.

Fazendo a projeção para este ano, os clubes portuguese­s não têm grande motivo para otimismos. Se este modelo bem rudimentar voltar a funcionar, o melhor que os três clubes podem ambicionar é passar à Liga Europa. O Porto é mesmo a equipa com menor valor de mercado do seu grupo (277 milhões), a alguma distância do terceiro (o Milan com 449) e bem longe dos 749 do Atlético e dos 888 do Liverpool. O Sporting, entre os três, é o clube que, apesar de tudo, pode enfrentar a fase de grupos com alguma expetativa: parte como terceiro classifica­do (com um valor de 223 milhões, acima dos 99 do Besiktas), mas está a uma distância curta do Ajax (345) e mesmo o Dortmund é alcançável (557). Já o Benfica surge confortave­lmente em terceiro lugar com 314 milhões, superando os 135 do Dínamo Kiev, no entanto a uma distância que aparenta ser insuperáve­l do Barça (767) e do Bayern (819).

Mas, como vimos ontem com o Man. United, há sempre margem para surpresas (que tendem a ser corrigidas no conjunto dos jogos) e o Benfica pode também ser um desses casos. Em Kiev, pese embora uma ponta final do jogo inconcebív­el, o Benfica controlou a partida e, até às substituiç­ões, teve todas as condições para vencer os ucranianos. Aliás, temos de recuar algum tempo para nos recordarmo­s de um Benfica, na fase de grupos da Champions, com tanta posse – mesmo que com pouca eficácia – num jogo fora. Se a isto somarmos um Barcelona que vale, de facto, menos do que sugere o valor de mercado, o Benfica não só pode cumprir a previsão (alcançar o 3º lugar), como deve mesmo ambicionar ir além disso. Para isso, há que derrotar o Barcelona na Luz.

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