A importância do primeiro

Mil jogos na vida de um treinador é um momento marcante e José Mourinho viveu esse dia com uma vitória suada e alegria esfuziante. É uma data que não se esquece, mas não será a mais importante na sua longa e triunfante carreira. A mais decisiva ocorreu a 23 de setembro de 2000. Foi o seu primeiro jogo como treinador principal! Foi uma noite que não correu nada bem ao então treinador do Benfica: derrota com o Boavista, num jogo em que o analista dos encarnados se tinha esquecido – simplesmente - de Erwin Sánchez.

Foi o início de um trabalho que logo revelou a dimensão de Mourinho: além dos aspectos tácticos e técnicos, mostrou ser um excelente gestor de recursos humanos e condutor de homens com personalidades complicadas. Recordo dois momentos inesquecíveis, um com Maniche, outro com Poborsky. Num treino com os ‘Bês’ na Luz, Mourinho via o jogo da central, Mozer ‘apitava’. Maniche ‘avia’ um dos miúdos e Mou diz a Mozer para o repreender. Maniche ‘avia’ outro. Mou coloca-o a dar voltas ao relvado, o que Maniche faz a passo de caracol. No balneário, diante do grupo, o treinador fala: “A tua volta ao relvado significa que não estás bem fisicamente. Por isso, amanhã treinas com a equipa B. Se estás bem fisicamente, não estás bem da cabeça. Por isso, amanhã treinas com a equipa B”; Maniche acabou campeão europeu com José. Karel foi outro caso ganho. O checo soprava aos ‘media’ que queria “jogar a 10” em vez de nas alas. Mou chamou-o ao gabinete, sentou-o na própria cadeira e quis que Poborsky lhe explicasse por que queria jogar naquela posição. Este lá foi expondo o seu ponto de vista. Acabada a conversa, Mou disse-lhe: “Tudo bem, vais jogar no Bessa onde queres”. Poborsky actuou a 10, foi uma nódoa, acabou substituído e nunca mais quis jogar onde não devia.

Mil jogos é data inesquecível,

mas é fundamental nunca nos esquecermos como tudo começou. E Mourinho sabe isso.