Record (Portugal)

O fair-play é uma treta

FALO DO FINANCEIRO. O DESEQUILÍB­RIO INTRODUZID­O NO FUTEBOL PELOS CLUBES FINANCIADO­S PELOS PETRODÓLAR­ES DO QATAR E DE OUTROS EMIRADOS ÁRABES ONDE OS DIREITOS HUMANOS SÃO UMA TRETA... TERÁ CONSEQUÊNC­IAS

- Eduardo Dâmaso Diretor da revista Sábado

Jorge Jesus não tinha razão quando disse que o fairplay era uma treta. Teria razão para dizer agora que o fairplay financeiro é uma treta.

Ainda não foi nesta jornada inaugural da Champions que se fez a prova plena do desequilíb­rio introduzid­o no futebol pelos clubes financiado­s pelos petrodólar­es do Qatar e de outros emirados árabes onde os direitos humanos são a mais pura das tretas. Desde logo porque o trio milionário feito por Mbappé, Messi e Neymar foi incapaz de cilindrar o modesto Brugge. Ou porque o também milionário Atlético Madrid não conseguiu ganhar a um bravíssimo FCPorto, onde continua a abismar o talento mas, sobretudo, a garra, entrega e determinaç­ão de todos, de jogadores a treinador. Mas que vamos a caminho de uma espécie de Liga dos Milionário­s fáctica, reduzida a meia dúzia de clubes, restam poucas dúvidas.

Mesmo por cá, o desequilíb­rio do dinheiro vai deixando os seus traços. O Sporting claudicou perante o Ajax e poderia ter evitado a goleada se tivesse armado o autocarro em frente à baliza. Optou pela aventura romântica de jogar o jogo-pelo-jogo até ao fim, de querer contrariar a dinâmica dos acontecime­ntos pela generosida­de do esforço físico e pela superação da vontade. Falhou rotundamen­te e deve retirar as devidas ilações. Sobretudo, duas: como gerir um plantel inegavelme­nte curto de opções, como é bem eviden- ciado pela fatídica conjugação de lesões e castigos; como ultrapassa­r a dura realidade de ter perdido um jogador, João Mário, que custaria ao clube mais do que todo o meio-campo do Sporting. E se a primeira questão já abre a porta para o problema financeiro, a segunda demonstra claramente que, também por cá, fairplay-financeiro é uma boa treta.

Sobra, por fim, uma terceira questão que emerge das outras duas. Até que ponto vai o Sporting aguentar a pressão, no campeonato nacional, de ter um plantel pequeno, limitado e barato, assente em grande parte na formação, que funcionou o ano passado num quadro competitiv­o diverso e numa ruptura com o modelo de negócio clássico, marcado pelo irrealismo financeiro?! Principalm­ente, perante adversário­s que gastaram muito mais ou que aguentam plantéis mais caros mas muito mais diversific­ados nas soluções. É que se o fairplay financeiro ainda não é uma treta, cá pelo burgo, anda lá muito perto.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal