“TEMOS DE OLHAR PARA O QUE VAI SER O FUTEBOL DAQUI A 10 ANOS”
O Sporting já foi considerado uma escola de extremos. Mais recentemente saíram da Academia muitos médios de qualidade. Nota uma tendência hoje?
TOMAZ MORAIS – Não podemos esquecer o Sr. Aurélio Pereira e toda a equipa que trabalhou à volta dele. São pessoas que deixaram um legado fantástico no Sporting. Fantástico! É muito maior do que nós pensamos quando estamos lá fora. Esse legado passa muito por um futebol criativo, irreverente, onde os extremos chegam longe. Mas temos vindo a formar jogadores em todas as posições. Queremos uma escola que abranja tudo e não ser especialistas numa posição.
Deixando Ronaldo de parte, historicamente Portugal tem tido dificuldade em descobrir avançados... O Sporting identifica esta lacuna?
TM – Essa lacuna não é só do Sporting. E temos no nosso futebol treinadores de alta qualidade. Portugal, como costumo dizer, é um servidor de treinadores.
Ou seja, se não há avançados não será por culpa da falta de qualidade no treino…
TM – Não é por falta de conhecimento ou de qualidade. Tem a ver com características, oportunidades… Acredito que o Sporting pode em breve dar bons avançados e, aliás, já os tem. O Tiago Tomás é a prova disso. Tem características muito especiais.
Falando, agora sim, em Cristiano Ronaldo, que atualmente dá nome à Academia. Ele é utilizado como exemplo dentro do Modelo Centrado no Jogador?
TM – É. Porquê? Porque um jovem quando olha para um adulto está a espelhar-se nele. A pedagogia já o estudou. O que nós quisemos reforçar no Sporting foi a cultura do exemplo. E o Ronaldo é o nosso expoente máximo, porque é claramente a excelência.
Vê outros ‘Ronaldos’ a despontar na Academia?
TM –Não. Ronaldo só vai haver um. Eusébio, Pelé, Maradona, Messi... Só há um. Procurar sistematicamente novos Ronaldos é estarmos a fazer um trabalho falso que não vai levar a lado nenhum. Temos é de ter cada vez mais jogadores capazes de competir como o Ronaldo compete.
A questão colocava-se do lado da competitividade que refere… Nesse ponto de vista, vê esses ‘Ronaldos’ a aparecer?
TM – Por aí, sim, vejo. O trabalho, o esforço, o sacrifício e a paixão são as bases que nós queremos aqui. E o Ronaldo tem isso tudo. Por isso é que nós o utilizamos muito como nossa imagem.
“Se não se conseguir trazer um jogador entre os 7 e os 10 anos, já não se traz.” A frase é de Aurélio Pereira. Concorda?
TM – Se é dito pelo Sr. Aurélio, para nós é Lei (risos)! Ele é o nosso grande professor. Revejo-me nessa ideia. É uma das estratégias fundamentais para qualquer clube formador, como o Sporting. Se pudermos trazer um jovem com talento no estágio principal do seu desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo, é mais fácil mostrar-lhe o caminho até à equipa A, porque ele começa a perceber, a conhecer, a sentir, a viver e a apaixonar-se pelo clube. E nós temos o controlo do processo de crescimento.
Aurélio Pereira continua a ser uma voz importante na formação do Sporting?
“PROCURAR SISTEMATICAMENTE NOVOS RONALDOS É ESTARMOS A FAZER UM TRABALHO FALSO QUE NÃO LEVA A LADO NENHUM”
“O SR. AURÉLIO PEREIRA E TODA A EQUIPA QUE TRABALHOU À VOLTA DELE DEIXARAM UM LEGADO FANTÁSTICO”
TM – Sem dúvida! Ainda na terça-feira almoçámos. É um conselheiro. É um amigo do Sporting, será sempre. Esta Academia acaba por ser o reflexo disso mesmo.A liderança do Sr. Aurélio está presente. E um líder, quando é líder, não tem de estar presente para liderar.
Um dos problemas do Sporting antes de entrar esta direção foi a degradação da sua rede de olheiros. Está restaurada?
TM – Está. Reformulámos a avaliação do talento e a estratégia de recrutamento. Temos um novo coordenador, queéo Paulo Noga.A responsabilidade do lugar nesta área do Sporting é se calhar das maiores do Mundo. Temos de olhar para aquilo que vai ser o futebol daqui a 10 anos. Confiamos muito no Paulo, que tem vindo a fazer esse desenho connosco. Temos outros projetos em desenvolvimento. Estamos a olhar com muita, mas muita profundidade e seriedade para o recrutamento futuro. Porque nada acontece sem recrutarmos os melhores. Seja para estar dentro ou fora do campo.
A Academia está a ser alvo de um conjunto de obras. Qualéo ponto de situação?
TM – Eu como diretor do futebol de formação ponho muita pressão no meu colega Paulo Gomes que é o diretor-geral (risos) para termos as melhores condições possíveis. Ele tem sido inexcedível e eu vejo a transformação global da Academia. Não precisamos de ter as instalações mais luxuosas, porque não é com luxo nem com muita comodidade que se formam campeões, na nossa mentalidade. Se tivéssemos outros meios financeiros mui tomais haveria par afazer, e muitas ideias estão ainda na gaveta. Agora, aquilo que o Sporting e o sr. presidente estão a fazer é já motivo de grande orgulho e agradecimento.