Darwin e a teoria da evolução
OS 4 GOLOS APONTADOS NAS DUAS ÚLTIMAS RONDAS COMPROVAM QUE O REFORÇO MAIS CARO DA HISTÓRIA DO BENFICA PODERÁ EXPLODIR EM 2021/22 E ESTÁ MUITO LONGE DO ESTATUTO DE FLOP QUE ALGUNS LHE QUISERAM COLOCAR. SÓ QUE NUMA ESTRUTURA EM 3X4X3, DARWIN, QUE TEM DIFICULDADES EM SER PERSUASIVO A JOGAR DE COSTAS PARA A BALIZA, É MUITO MAIS INCISIVO A PARTIR DA ESQUERDA
Os 24 milhões de euros investidos pelo Benfica, em 2020, na contratação de Darwin Núñez, o que lhe abona o pesado estatuto de contratação mais cara de sempre dos encarnados, amplificaram a exigência de rendimento imediato de um avançado que chegou à Luz com apenas 21 anos. Situação que gerou ansiedade extra no uruguaio, cuja única experiência na Europa sucedera na segunda divisão espanhola, no Almería, clube que, um ano antes, investira 13 milhões para o desviar do Peñarol, onde deu os primeiros passos na equipa principal. Uma transação que só foi possível com o patrocínio do multimilionário saudita Turki Al-Sheikh, que acabara de adquirir os rojiblancos e procurava um goleador com o fito de ajudar o clube a regressar à divisão maior. O que foi perdido de forma dorial no playoff, apesar de Darwin ter feito 16 golos em 32 jogos.
No futebol, mais do que em qualquer outra atividade, a última imagem é a que fica. O que é, quase sempre, cravado por injustiça perversa, sobretudo quando se escapa a uma impres- cindível contextualização. Isso ajuda a explicar que Darwin, afe- tado pela época negra dos encar- nados a nível de resultados e pelo cinzentismo de uma qualidade de jogo muitas vezes a roçar o soporífero, tenha concluído o exercício com o estatuto de flop para alguns, o que foi exacerbado por uma segunda volta em perda acentuada a nível indi- vidual, em que se tornaram cada vez mais visíveis os problemas físicos que o obrigaram a ser operado ao joelho em maio. Pouco interessou que Darwin, mesmo sem realizar pré-época, jogando com agruras físicas e su- perando a Covid, tenha concluído o ano de 2020 com 7 golos – 5 na Liga Europa – e 6 assistências – 5 delas na Liga – em 19 jogos pelas águias, que, na altura, ainda alinhavam em 4x4x2. Mas, ao invés do que tem acontecido com outros jogadores, como Waldschmidt, Jorge Jesus não desistiu do uruguaio, que voltou a não estar disponível no arranque de 2021/22. Esperou que retornasse à competição, o que aconteceu em Barcelos a 21 de agosto, e parece perceber, de jogo para jogo, que o avançado lhe po- derá oferecer bem mais a partir da esquerda, pela forma como ataca os espaços vazios, o que lhe valeu bis em jornadas consecuti- vas ante Santa Clara e Boavista. Acima de tudo, a sociedade Rafa- -Darwin-Yaremchuk provou diante dos axadrezados a aptidão do Benfica para metamorfo- sear o 3x4x2x1 em 3x5x2, associando Rafa, que provoca muitas situações de atração-arrastamento, e João Mário nas entrelinhas, enquanto Darwin, a partir da esquerda, se junta a Yaremchuk no ataque, com ambos a procurarem atacar os espaços entre centrais e laterais.
Unidade móvel de grande mobilidade e robustez, Darwin mostra-se capaz de atuar a toda a largura do ataque, ao combinar potência com qualidade na condução e produção de desequilíbrios no ‘1x1’, o que o leva a visar a baliza com remates vigorosos de pé direito na sequência de ações em que parte de posições exteriores – de preferência a partir da esquerda – em direção à área. Incisivo a desmarcar-se e a atacar a profundidade, ainda que necessite de controlar a tendência para cair no fora-de-jogo, é muito acutilante na perscrutação de contra-ataques e de ataques rápidos, até porque manifesta oportunismo, agressividade e poder de antecipação em definições na área com o pé direito – o ponto mais forte – ou através do jogo aéreo.
AO INVÉS DO QUE SUCEDEU COM WALDSCHIMDT, JORGE JESUS NÃO DESISTIU DO AVANÇADO URUGUAIO